sábado, 27 de dezembro de 2008

RISCOS - partem 2

Falemos de verdades
Que vão além de portugueses
E da Companhia de Jesus
Preferiu que fossem ingleses
E com eles caminha pelo Salão da Fama
Fortuna, Justiça

Nas noites do dia fatal
Eu me lembro do fantasma
De algumas das assustadoras faces
(Senão todas)
Que cobrem o meu monte
....
HELTER SKELTER!

José Ferreira Sobrinho

RISCOS - parte 1

Ele viu que seus inimigos festejavam
Sua volta
E sentiu-se bem
Quero ter todos a meu lado
Para que nos destruamos
Em uníssono
Com guitarras ramoneanas.

Quando partiu para sua terra
Carregava a sujeira dos anos
Que foram limpos pela poeira da estrada
...
Só o homem pode devorar seus lobos...


José Ferreira Sobrinho

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Exercendo minha liberdade


"Coz if I have to go in my heart you grow
And that's where you belong"

Liam Gallagher


Palmeiras,

Eu jamais poderia ir se você não estivesse comigo. Já se faz tempo em que o Tempo não é marcado por segundos, minutos ou horas. O Amor transcende ao tempo. Assim como eu e você nos confundimos, se confundem as horas, os dias, os anos. Já não há para que se contar o tempo. Isso é liberdade! Liberdade de viver em conjunto, como um enquanto dois. Você está comigo o tempo todo e eu estou com você todo o tempo. Tempo que é infinito aos olhos do Amor. Tempo em que como em outro tempo era "preciso dizer que te amo / te ganhar ou perder sem engano." Tempo ido e ainda sendo, já não te perco mais. Sou mosaico e você ladrilhou muitas das partes que me cabem. Tornou-se o sujeito da minha fala. Mas continuo precisando dizer "eu te amo". O meu Amor é arco-íris. Multicolorido! A minha literatura pertence a minha escola. Métrica, rima, tom, espaço, lugar, personagens, enredo, sou eu quem faço. E dela faço uso, agora e sempre, para dizer simplesmente: "T amo!" Você sabe o que isso quer dizer... ;)

Yours,
Zélia Palmeira




domingo, 30 de novembro de 2008

Precisa-se de passagem para o "asahi"


Alguns caminhos nunca deixam de se cruzar. Inesperadamente, eles se encontram e se reencontram sem que possamos agir sobre eles. Os gregos explicam o fato dando a ele no nome de Destino, a parte que cabe a cada um de nós, simples mortais.
Mesmo distantes, Julynha e Mariazinha, continuaram perto. Julynha era aquela criança espevitada. Cabelos negros e ondulados, pele branca como a neve que nunca viu, bochechas rosadas como a manga que tanto gostava. Se destacava na escola por andar de um lado ao outro sem parar. Falava com todo mundo e era a melhor amiga de Mariazinha. Sua melhor amiga, era quieta. Cabelos castanhos de suaves cachinhos nas pontas. A pele de Mariazinha era mais morena. O que brilhava em seu rosto era o sorriso largo que vinha de sua boca cor de morango e que é sua marca registrada até hoje. O destaque na escola vinha de suas notas. Mariazinha não era de falar com todo mundo. Só o necessário.
Julynha contava seus sonhos a qualquer um. Queria cantar na televisão. Ensaiava na escola, em casa, na rua. Era a perfeita “Sandra Rosa Madalena”! Mariazinha guardava os sonhos pra si e para as estrelas. Só pensava em ser feliz. Brincava de namorar o primo e já pensava em casar, ter filhos. A amizade das duas crescia. Compartilhavam a escola, eram vizinhas de rua, tramavam juntas. Em dia de chuva, combinavam de enfiar os pés na lama, ao voltarem pra casa, para não terem como ir à escola no dia seguinte. Esqueciam que colocar sapatos e meias atrás da geladeira era costume na época. À noite, esqueciam tudo e brincavam na rua. Cantavam, trocavam bonecas, jogavam bola e academia. Para a brincadeira não acabar logo, cada noite, uma tinha que socorrer a outra em alguma coisa. Ora a música não tava bem ensaiada, ora uma boneca quebrava a perna. Sem perceberem, o ano terminou. Mariazinha mudara de escola e passara a morar em um bairro próximo. Já não havia mais como tramar para não ir à escola ou para a brincadeira durar mais.
Mariazinha passara a ter uma brincadeira mais séria, a partir dali. Tinha que cuidar de si e de mais alguns. Sempre soube que iria cursar a Universidade. Não era sonho mas certeza. Algo como se diz em inglês, taken for granted. De tantas coisas que pensou em fazer, Mariazinha passou a ser orientadora educacional. Conhecedora de várias línguas e cosmopolita, virou Mulher. A felicidade para ela, agora, tinha várias direções. Até casou com um rapaz que rejeitara, a princípio, mas que era uma versão up to dated de seu pai. Não teve filhos. Tinha crianças demais a sua volta. Além disso, gostava de viver namorando o marido e conhecendo outros lugares que não só o jardim de sua casa. Mariazinha nem varria seu jardim. Deixava que folhas e flores vivessem livremente enquanto viajava as quatro estações.
Julynha nunca saíra de seu bairro. Não virou cantora e se parece mais com a Amélia “que era mulher de verdade” e “sem vaidade”. A mesma pele branca mas pálida. Os cabelos cresceram e perderam as ondas. Hoje, parece ter enterrado seus sonhos. Não anda mais de um lado ao outro, quase não sorri e só fala o que lhe é perguntado. Casou com o franzino do Heraldo. Nosso vizinho e que não tinha nada do Sr. Agenor. Tem três filhos. Até onde consta, não cursou Universidade. O lugar que visita é só o seu jardim. Em todas as estações. Quando está lá, é sempre com a vassoura nas mãos. Não gosta de folhas secas ao chão. Nem de flores nas plantas. Estão todas em seu jarro de vidro azul em cima da mesa de jantar. Não se sabe mais o que ela espera nem se conhece felicidade. Na maior parte do tempo está só com sua vassoura.
Dia do soldado desconhecido. Seus caminhos se cruzam outra vez. Mariazinha vai ao salão de beleza. Havia cansado do visual que usara há algo em torno de seis meses. Julynha estava em seu jardim de vassoura nas mãos e cabelos iguais aos de tanto tempo. Elas se falaram. Mariazinha, abismada com a amiga e sua vida tão de todos os dias. Julynha, abismada porque a amiga camaleoa ainda queria mais mudanças. Elas sorriram e o sorriso de Julynha, embora fosse o mesmo de outros tempos, estava em olhos diferentes. Olhos que pareciam pedir socorro. Entretanto, Julynha continua agarrada a sua vassoura. Mariazinha sai daquele encontro pensando no que fazer para socorrer a amiga. Talvez, seja preciso estender-lhe a mão. Talvez, essa seja mais uma parte do quinhão do Destino das duas. Sol e chuva que se complementam. Felicidade é o que cabe a cada um mas é preciso que se descubra a cor que ela tem.


Zélia

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Poema diMinuto

amar

casar
paralelepípedo
palha
elefante
música
amarelo
estetoscópio
sapato

laço
parar

cata-vento
marmelada

livro

suor

treco

Sebastião
flauta

Ana Lúcia

fio
Cordel
pós-fácil



Soltos no ventilador-de-teto-do-mundo-livro.
Poema pronto!


Zélia



sábado, 8 de novembro de 2008

Leio o que escrevo porque sou Eu *

“E de nada vale fugir
E não sentir mais nada”
(Renato Russo)


Dia diferente porque era outro dia. Não o de ontem. Início de minha viagem para casa. A janela do ônibus mostrava a paisagem que sempre me mostra cores novas. Enquanto eu admirava o mar azul de águas claras e límpidas, a minha imaginação alçava vôos cada vez mais altos. Quisera ver aquele mar imenso cobrir toda a cidade. Seria muito mais interessante viver como os peixes. Nadando num balé de vai-e-vem e saltando, vez ou outra, como fazem os golfinhos, seria muito mais agradável cumprir com nossos afazeres diários. Sempre sonhei assim. Com um mundo de águas claras em que eu pudesse usar colares de conchinhas catadas por mim mesma. Se o perigo surgisse, seria fácil: aprenderíamos truques com o amigo polvo, rei em mimetismo. No mais, contaríamos com o arco de Posídon para nos proteger. Já havia pensado em reformas para a minha casa submarina quando algo desviou meu olhar. O mundo agora era outro. Era de letras. Me vi dentro de um enorme caldeirão e rodeada por letrinhas coloridas. Antônio de Lima era o nome na capa do livro. A primeira página estampava um rosto que refletia o olhar de quem o via. Era um livro de memórias. Passava cada página com o esmero de quem segurava uma relíquia em suas mãos. Assim como os peixes, ele também dançava seu balé de vai-e-vem pelas linhas do livro. Eu queria saltar dentro do livro. Queria saber o que contavam aquelas linhas. Vi poemas sobre morangos e trens. Vi contos sobre um cachorro e amores. A capa também exercia um grande fascínio sobre ele. Um dos passos do balé era voltar e parar na capa. Uma imagem envelhecida de uma árvore ainda frondosa e de um banco vazio. Era daqueles de antigamente. De madeira maciça. Imaginei vê-lo sentado ali ainda jovem. Nas mãos, alguns de seus escritos em folhas de papel que lia com a mesma fome de hoje. Um beija-flor que voava por perto se admirou com aquele gesto de coragem de quem acredita naquilo que faz e perguntou:


"– Por que lês o que tu mesmo escreves?"


Ele respondeu:


"– Leio o que escrevo porque sou Eu. Todo escritor verdadeiro é semeador. O semeador planta porque acredita em suas sementes. O escritor deve acreditar em suas letras."


O beija-flor, então, continuou o seu balé de beijar flores. Era suficiente o que ouvira. O jovem Antônio sonhava em ver seus escritos guardados dentro de um livro. O Antônio daquele dia segurava seus escritos nas mãos. Não soltos. Dentro de um baú do tempo. Morreria escritor de um livro só mas morreria escritor. Ninguém jamais poderia lhe perguntar se ele não tinha livro publicado.



Zélia




* Fala da personagem não identificada em “1826” por Letícia Palmeira a quem dedico este texto.


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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Palavra morta

no escrito
jaz
pensamento
sentimento
amor
ódio
alegria
tristeza
...
palavras
pintadas
em papel
tudo
consumado



Zélia





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sábado, 18 de outubro de 2008

Poesia de mim em estações

Todo o Tempo foge ao nosso controle. Mesmo quando acreditamos controlá-lo, ele escapa as nossas mãos...



I Estação:

Outro dia, já não se faz muitos anos, era verão. Eu era criança, via a lua beijar o sol e deixar a cena. Catava conchinhas na beira da praia, colecionava peixinhos em um baldinho cor de rosa e tomava sorvete de doce de leite todas as tardes. Toda noite tinha jogo de amarelinha, um casaco de lã e uma rede na varanda para que eu pudesse contar estrelas.


II Estação:

Um dia, a chuva caiu. Era inverno. Tinha corrida na rua para encher o corpo com gotas de chuva e barquinhos de papel levando pela correnteza nossos sonhos para que se realizassem além do arco-íris, símbolo de aliança e alimentador de esperança. Mas inverno traz trovão, relâmpago, toque de recolher. Criança não entende isso. Não entende Tempo passar. Inverno é, também, momento de regar semente. Esperar ela brotar, crescer e frutificar. Quando o fruto amadurece, já se passaram mais dias.


III Estação:

Outono. Folhas vermelhas trazendo vida renovada. Os frutos colhidos indicam amadurecimento de Tempo e de mim. O olhar no espelho mostra alguém de fisionomia mais firme, séria. Lá dentro, ainda há desejos por conchas e sorrisos com pensamentos sobre os peixes no balde. Até um arrepio vem junto com a vontade de me esconder debaixo dos lençóis quando as pedras rolam no céu. Alguém disse que não é mais hora para isso. Que não seja! Gosto de nadar contra a correnteza de vez em quando. Esta época faz com que a gente não queira mais achar graça em circo. É preciso cautela.


IV Estação:

O amor bate à sua porta enquanto borboletas voam juntas, cães se beijam e joaninhas parecem um tapete vermelho de bolinhas pretas. É primavera. Tempo de se enamorar e fazer multiplicar. As flores estão mais belas em cada Jardim – mesmo para quem não vê. Cresci e agora entendo mais coisas. Entendo que ainda sou criança. Entendo que algumas coisas não são para ser entendidas. São para ser vividas. Eu vivo! Ainda conto estrelas, tomo banho de chuva, acho graça em circo e namoro muito. A diferença é que, agora, pago contas!


V Estação:

É a estação de todos os Tempos. O ciclo se renova. Beleza cotidiana em movimento. Tempo de fazer tudo de novo e mais o que não foi feito. Tempo de somar e subtrair o que não nos cabe. Dividir alegrias e tristeza, também. Não estamos sós e temos uma caixa de lápis colorido em nossas mãos.



O tempo foge mas só escapa a quem o deixa. Passei a colecionar estações em diferentes cores. Estou o que quero a cada dia e sou pedaços que juntei por escolha própria.


Zélia






















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domingo, 5 de outubro de 2008

Flores de primavera e aço de abrigo


"O sábio nunca diz tudo que pensa,
mas pensa sempre tudo que diz."

Aristóteles

O escritor, todo aquele que organiza letras para expressar sentimento, não escreve para ninguém. Escreve para qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer hora e sobre qualquer coisa. Eu sou do avesso. Não estou! Nunca fui de olhar o mundo com olhos de quem teve o brinquedo roubado. Ao contrário, vejo o mundo com o sorriso de criança que recebe seu sorvete preferido. Se sinto tristeza e dor, se choro ou se me deprimo? Sempre que não encontro meus sapatos! Depois, tudo passa como tempestade de verão. Fica a terra encharcada. Mas ela seca logo. Tem que ser assim. Quem não acompanha os segundos se perde no Tempo. Não quero as pontes de onde possa me atirar nem sentir o peso de pedras em meu pescoço. Quero o pote de ouro ao final do arco-íris e um jardim que eu possa regar ao final da tarde. Além do aconchego do Amor que encontrou meu sorriso, herança da minha avó materna. Se é tudo perfeito? Não! A perfeição é a negação do humano e eu sou humana-normal. Sou normal do avesso. Falo de duas a três porções mais do que come um elefante. Mas só quando reverbero. Assim vivo! Não há por que dar ou receber explicações. Somos moldes únicos de uma pesquisa ainda em desenvolvimento. Chamo Felicidade a joaninha que vem à minha janela todos os dias. Se esse não for seu nome, que seja outro. Enquanto ela continuar atendendo meus pedidos, esse será seu nome. O meu, será Harmônica.


"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."

Caetano Veloso




Zélia

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Os Olhos de Deus


















O que vejo é a própria Nýks em sua forma mais pura e suprema. Seu longo manto negro coberto por variadas formas de feixes de luzes, dá o sinal de que em tudo há vida. É no escuro que a conspiração ganha corpo para que a vida se manifeste. Vida que gera vida. Luz dentro do escuro. Lua e sol inseparáveis. Estrada construída em cometas coloridos e meus sapatos não são vermelhos. Que importa? Descalço, encontro a paz que, às vezes, falta em minha divindade ao deitar em minha casa de telhado de vidro. Abro os braços, sou o dono do mundo.


Zélia


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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Eloqüência Níobiana

A minha eloqüência
Emite o canto de uma rocha
Firme mulher que chora
Castigada pelos céus
Por seu orgulho


Zélia




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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ontem para como hoje

A casa, agora, tinha janelas azuis. Isso indica alguma mudança? Fisicamente falando, sim. Interiormente, espiritualmente ou intelectualmente falando, será? Certamente que sim, também! Mudamos quando cai um simples e único fio de cabelo nosso. Mudamos quando a chuva inunda o quarto, mudamos quando um caminhão nos leva todos os nossos brinquedos, mudamos quando pêlos crescem, mudamos quando o mundo fica vermelho, mudamos quando lembramos que éramos seis ou oito ou dez, mudamos quando nos tornamos um – não serei mais eu mesma? -, mudamos quando somamos e mudamos quando não somamos, mudamos por não entregarmos nossas cabeças em bandejas, mudamos quando paramos, mudamos quando remontamos a sopa de letrinhas, mudamos quando soltamos as notas musicais, mudamos quando alteramos o movimento de translação, mudamos quando caímos de costas. Toda mudança é processo. Mudo, me transformo e não deixo de ser Eu. Sou eu ainda e sempre. Renovada como as folhas de uma árvore no outono. Esqueço de mim, às vezes. Mas o lembrar de mim, me transforma em Fênix. Sou a mesma essência de fragrância a combinar com cada estação.


Zélia
























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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Memorial da sagrada Universidade do Centavo

Retornaram os dois àquele lugar. Ela e ele. Embora updated em cores diferentes, outros olhares e alguns cantos fora de tom, era o mesmo lugar. O lugar aonde os fios de suas vidas se cruzaram. Sentiram aquele perfume de flores de sândalo. Era o mesmo lugar. O lugar aonde, desde sempre, sentiram-se um do outro. O lugar aonde um conhecera mais o outro. O lugar aonde um se consumia mais no outro. Fora ali o primeiro encontro dos incontáveis que tiveram. O primeiro olhar, o primeiro sorriso, o primeiro entrelaçar de mãos, a primeira fuga. A cada novo encontro, uma nova música que cantavam; o mesmo sabor de sorvete preferido; o mesmo instrumental compartilhado à distância; a mesma banda dividida; o mesmo sinal da cruz. Ali, só não trocaram juras de amor. Concordavam que por o amor não se deve jurar. Amor acontece. Foi assim com eles. Era só isso que entendiam. Não o que estavam a fazer, de início, ali naquele lugar. Haviam chegado em momentos diferentes. Não havia nada que aproximasse aos dois a não ser, talvez, por aquele sorriso no dia em que o calendário lunar marcava tempo de killing moon. Era chegada a hora no tempo do amor. Naquele espaço que pendurava na parede um indescritível quadro de uma família de lêmures, marcaram logo seu canto. De canto em canto, uma história começava a ser escrita. Foi dali que ganharam Salvador. Passou-se o tempo que não se pode contar. Eros vitoriosamente ainda os segurava pelas mãos enquanto entregavá-os aos cuidados de Zéfiros. Outra década, novo ano, mais um mês, outro dia e estavam ali novamente. Olharam-se no espelho junto à mesa onde costumavam sentar. Apesar de um eu e de um outro marcados pelo Tempo, agora aquele que conta os segundos, tudo era igual. Igual e diferente. O igual mostrava um sentimento que os prendia. O diferente mostrava um sentimento que vencia Chronos. Não precisavam voltar ali. Mas estavam lá. Relógio é dragão que quer engolir Amor. Música que adormece a alma. Voltar ali foi como uma viagem no tempo sem sair do lugar. Um chá, um café, pastéis de santa clara e o mundo seguiria ainda mais forte e constante. Estavam transformados. Ela já não era ela, simplesmente. Simplesmente, ele já não era ele...


"O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser."

(Mario Quintana)



Zélia




sábado, 23 de agosto de 2008

entre a lua e a previsão do dia

"Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais. Tentaria, então, com toda a delicadeza possível, sem decidir propriamente decidiu no meio da tarde — uma tarde morna demais, preguiçosa demais para conter esse verbo veemente: decidir. Como ia dizendo, no meio da tarde lenta demais, escolheu que — se viesse alguma sofreguidão na garganta, e veio — diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby."

(Caio Fernando Abreu)


Hoje decidi que a faxina seria em mim. E olha que não decido nada sem antes ler a previsão do tempo e meu horóscopo. Que posso fazer se acredito em signo? Sou de peixes e nado feito maluca pra chegar ao trabalho e ainda aguento a Dona da Fábrica me dizer que "esse atraso é ridículo". Ela fala assim - ridículo. Odeio o tom de voz. Parece que tem um problema de dicção. Quando a gente não gosta de algo, basta meia palavra pra a coisa toda explodir. E fico no trabalho. Olhando o relógio, olhando minhas unhas e colhendo pensamentos. Faço o típico interrogatório interior. Sou minha própria terapeuta. Sei exatamente como me sinto. Outra coisa. Odeio conselhos. Odeio mesmo. Me afasto como uma linda bolinha de gude. Fugindo e indo solta lá no horizonte. Já imaginou uma bola de gude azul cobalto indo embora? Sou eu. Indo, embora não vá. E hoje decidi tomar conta de mim. Anoto sensações. Estou engraçada. Sempre uso jeans. Sempre jeans. Minha cara de hippie dessa nova temporada. Hippie agora é vestir moda alternativa. Então visto. Se bem que, às vezes, o outro lado da lua me ataca e me visto como uma aeromoça. Cabelo todo arrumadinho. Mas quando me olho no espelho sei que não sou. A gente se conhece. É uma fato. Eu me conheço e não faço trato, nem traio, nem abstraio, nem calo a boca. Mas sou silenciosa. Um piano fechado e também digo que amo pianos, músicas e voz de mulher cantando. Eu canto. Pouco, mas canto. Quando bate a vontade, o violão me salva. Faço um show sozinha. Tão bom. O sol da tardinha, eu sozinha e canto feito a Joan Baez. Mas ela dizia que a resposta estava no vento. Ela e o Bob Dylan. Mas não quero resposta. Quero cuidar de mim. Me colocar pra dormir. Me dar banho. Me dar de comer. Comprar meu chocolate favorito e assistir todos os filmes que amo. As Pontes de Madison, Vanilla Sky, Orgulho e Preconceito e hoje assisto E o vento levou e entendo porquê o Rhett Buttler largou a maluca da Scarlet. Antes eu achava que ela estava certa só porque era mulher. Sou feminista. Sem causa, mas sou. Hoje sei que existe sempre outro caminho. Outro ponto de vista. Outra opinião. Peixes e arcos que preciso acompanhar. Cuidando de mim vou lembrando que nada vai valer minha exaustão. Ando cansada, mas vou sair. Tenho o tempo nas mãos e me ajuda a previsão porque hoje tô cuidando de mim e que o amor não esqueça. Só volto quando me sentir tão cheia da minha cara e isso vai demorar porque a gente se ama sempre. Somos eu e eu no caminho, meu lado folk e deixa a idade ser grande porque não volto, embora ainda esteja aqui. Sai do aquário e vou conhecer o outro lado da lua que mora no jardim.


Por Letícia Palmeira


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sábado, 16 de agosto de 2008

Revérbero

“Toda significação reenvia a outra significação.”

Jacques Lacan

in: A função criativa da palavra.


Um dia

Ainda te conto

O que é um conto

O conto da Carochinha

O conto em papel de parede amarelo

O conto pela queda da casa de Usher

O conto que contou o velhinho Maurice

O conto que embrulhou sabão

O conto que não diz a verdade

O conto que custou seis réis

O conto que abriu o mar

O conto que levou o abraço

O conto que encheu um livro

O conto que trouxe o sorriso

O conto, a historieta de Henriqueta

O conto, a estagnação de Alice

O conto, a conta perfeita

O conto, a espera por você

Mas, por hora,

Eu não te conto

O que é um conto.


Zélia























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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A um certo Anjo que responde pelo codinome Amor

Estou aqui
Você comigo
Te amo sempre sem tempo
Certo ou errado
Lembrado ou esquecido
Amanhecido ou anoitecido
Falante ou calado
Acordado ou dormido
Te amo simples
Te amo ainda
Te amo mais
Te amo contudo
Te amo sempre sem tempo
Você comigo
Estou aqui


Zélia





















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sábado, 9 de agosto de 2008

Texto solitário para um diário perdido

“Para que deve servir o Diário Íntimo?

1. para desabafar o coração;
2. para aperceber-se da vida;
3. para esclarecer o pensamento;
4. para interessar à [...] ” *

Que seja...

Hoje acordei do avesso. Dormi até umas 08h00min quando o U2 cantava sobre algo que ainda não encontrara. Eu até gostava da bendita canção mas depois que ela passou a ser meu despertador, percebi que quase tudo que busco está ao meu alcance. Além disso, percebi que aquela, agora musiquinha, estava me deixando deprimida com essa coisa de “ainda não encontrei o que estou procurando”, enquanto acordava para ir trabalhar. Troquei a musiquinha do alarme do meu celular pelo hino, instrumental, do Brasil. Pelo menos aquele som parecido com umas trombetas, do início do hino, me dá mais coragem para levantar – às vezes penso que estou em um quartel do exército. Entretanto, hoje era o meu marido quem precisava acordar – e não acordou. Pois bem. Estava a dizer que acordei do avesso. Senti vontade de limpar meu fogão, coloquei umas roupas na máquina, levei até à minha mãe um baú que ela estava precisando e até pensei em comprar um guarda-roupa pequeno para colocar em meu escritório. Espera um pouco... Guarda-roupas não devem ficar em quartos? Acho que sim! Mas como hoje estou do avesso, ele vai ficar no escritório mesmo. Tenho muitos edredons que não têm onde morar. Ainda do avesso, volto. O telefone toca. É minha escritora particular – ela escreve textos para mim e eu vou produzir o livro dela. Conversamos, como sempre, horas a fio. Fomos interrompidas, é claro, algumas vezes, pelo menino da bola azul. Ele não pára de correr atrás daquela bola. Quase no fim da conversa, resolvi que eu iria escrever mais um texto. Como? Se eu estou extremamente ocupada com meus afazeres de voluntária de uma Ong que cuida da preservação do meio ambiente? Ah! Esqueci! Hoje eu tô do avesso. Vou sentar e escrever. O que é isso? O meu almoço. Acaba de chegar. Vou almoçar sozinha mesmo. O meu marido levou uns alunos a uma aula de campo e acaba de ligar dizendo que vai se atrasar – vai jogar cartas com um amigo antes de voltar. Ele está interessado em saber sobre o seu futuro e como vão estar as cotações da NASDAQ para o ano que vem. Tudo bem... Eu me atraso para o jantar. Vou ver como está o pingüim que apareceu lá em Cabedelo. No mais, não estou só. Estou almoçando com as letras que espalhei aqui. Meu prato preferido: cozido. Sempre fui de comer pouco mas quando era dia de cozido lá em casa, e era o meu pai quem cozinhava, o tamanho do meu prato assustava até elefante. Hoje não como mais assim. Ele não cozinha mais para mim. Se bem que, como hoje estou do avesso, eu poderia até comer mais. Não. Vou deixar um pouco para o jogador de cartas. Curioso eu estar aqui falando essas coisas. Nunca fui de escrever diário. Será que antes é que eu estava do avesso? Sei lá! Agora está na moda escrever diário em blog. Eu tenho um blog também. Pelo menos, com relação a isso, não estou do avesso. Principalmente agora que pareço estar escrevendo em um diário. Então viva! Há sempre uma primeira vez pra tudo. Sem contar que o blog é meu e nele eu escrevo o que quiser. Sou Escritora! Escritor é aquele que domina as palavras e isso eu faço bem. Coloco todas elas espalhadas no chão. Formo meu chão de palavras. Deito e rolo. Texto pronto! Vou publicá-lo. Talvez, eu tenha que acrescentar alguma coisa depois. Afinal, o dia está só na metade e eu ainda estou do avesso...

Zélia

* Extraído d’ un Journal Intime por Henri-Frederic Amiel

















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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Flores enquanto escrevo


Uma nota é música enquanto som

O som é voz enquanto amor

O amor é arco-íris enquanto desenho

O desenho é mar enquanto estrela

O mar é céu enquanto azul

O céu é água enquanto chuva

A chuva é rio enquanto vida

A vida é arte enquanto poema.


Zélia



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quarta-feira, 30 de julho de 2008

O eco de um canto


Tudo que encanta é canto.

Todo canto, grito de libertação.

Toda liberdade:

Cura para os males que nos afligem.



Zélia


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domingo, 27 de julho de 2008

Confissão em linhas claras

Avenida principal, tarde de domingo incomum dentro do comum da cidade. Um estranho me parou com uma conversa esquisita sobre as dez coisas que eu odiava no mundo. Não soube responder. De santa, eu só tenho o nome. Mas não odeio ninguém nem nada. Por que não me perguntara aquele ser bizarro, de tão esguio que era, vestindo preto e azul sobre coisas que não gosto? Poderia escrever Lusíadas dessas coisas.

  • Não gosto de arroz – é a primeira coisa em que penso.
  • Não gosto de intelectuais de versos ornados – faço tapetes com seus versos.
  • Não gosto do cheiro do cigarro no banheiro pós décima quinta tentativa do marido em deixar de fumar – uma gota de Light Blue em cada canto do banheiro.
  • Não gosto de esperar por quem esquece aquele que fica – solto meus cães farejadores na cidade.
  • Não gosto de quem maltrata animais – somos, também, animais.
  • Não gosto de quem desrespeita a natureza – quem não cuida de sua casa não merece crédito.
  • Não gosto de vinho barato – já tomei ambrosia.
  • Não gosto de me ocupar de você – o mundo é grande, a vida curta.
  • Não gosto de ver sexo por trás das cortinas – sexo só é bom quando se está nele.
  • Não gosto da mentira à minha porta – vasculho lixo antes de jogá-lo fora.

Lista grande. No entanto, eu não gosto mesmo é de ter do que não gostar. Queria ser a favor de todos os ventos. Mas não estou só mesmo estando. Há um tanto de fel entre coisas e pessoas que me cercam.


Zélia



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sábado, 28 de junho de 2008

Insight ao final de um arco-íris de palavras

A Sorte decidiu: as Fiandeiras cumprem seus trabalhos. Os fios surgem e corpos são presos a eles. Liberdade sob medida. Senhorio tolhendo Jardineiro aprendiz. Ventos vão e, na volta, sopram a quem tem ouvidos: “Artista é aquele que faz arte” – Arte: do latim, Ars: técnica e/ou habilidade relativa a uma atividade humana que esteja ligada a estética e a forma como expressão de emoções, idéias e a percepção de cada um. Vejo muitos quadros escondidos, tantas almas de livros empoeiradas, argila afogando mãos. Olho em volta e me declaro artista. Ser artista é não ter medo de se expressar. É construir seu mundo com tijolos escolhidos. Sou artista e somos artistas. Artistas de todo dia. Eu, você, a Bel e aqueles que habitam seus cantos quietos com sua arte muda. Ele que era Lord sabia que nem todo poeta ocupará estantes – talvez, nem ele próprio esperasse estar imortalizado nelas. Da mesma forma, nem todo tenor alcançará o Dó4. Nem todo pintor será dono do sorriso mais famoso. Nem todo jardineiro terá o jardim mais perfeito. Posto que, antes de tudo, um artista é aquele que se liberta dos fios que o prendem para voar alto e dar asas a quem não aprendeu a voar. Artista é Prometeu e é Epimeteu, fazedores de arte sem medo do que se esconde dentro do criador. Ouvidos abertos, mãos à obra. Trabalho maior é libertar homens.



O Poeta


Muitos dos poetas que jamais a inspiração
Puseram por escrito – e os melhores, talvez:
Sentiram e viveram, mas sem concessão
Dos pensamentos seus a nenhum ser mais soez:
Comprimiram o deus em seu interior
E juntaram-se aos astros, sem lauréis na terra,
Mais feliz porém que aqueles que o estridor
Da paixão degenera, e cuja fama encerra
Suas fragilidades, os conquistadores
De alto renome, mas cheios de cicatrizes.
Muitos são poetas, mas do nome não senhores,
Pois que é a poesia mais do que buscar raízes
No bem ou no mal ultra-emotivos e querer
Uma vida exterior além de nosso fado?
E novo Prometeu do novo homem ser,
Dando o fogo do céu e, tudo consumado,
Vendo o prazer da oferta pago, mas com dor,
E abutres roendo o coração do benfeitor,
Que, tendo dissipado dádiva sem par,
Jaz encadeado num rochedo junto ao mar?


George Gordon Byron in: A Profecia De Dante


















Zélia

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sábado, 21 de junho de 2008

O avesso de um presente de grego: o nascimento de um artista





A música que ainda não tocou
É aquela cuja letra você esqueceu
A música que ainda não tocou
É a que te faz sonhar
A música que ainda não tocou
É a que você não dançou
A música que ainda não tocou
É a valsa que não te faz deixar de amar
A música que ainda não tocou
É aquela que toca todos os dias mas ninguém ouve
A música que ainda não tocou
É a que bate na janela do teu quarto
A música que ainda não tocou
É aquela que faz a bailarina cair de sua caixinha
A música que ainda não tocou
Continua a tocar todos os dias
A música que ainda não tocou
É a que escrevo agora
A música que ainda não tocou
Vem de você.


Zélia



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sexta-feira, 20 de junho de 2008

Desde os tempos de Jim, os dias continuam estranhos

Últimos milhares de dias. Astros fazem reviravolta no espaço enquanto descubro um segredo a cada novo despertar. Hoje, achei um saco cheio deles. Nada adiantou. Meu dia não foi salvo. Não quero falar sobre isso. Os gritos por salvação me incomodam. Fecho minha concha, ouço o som do mar em quem é cheia de graça. Permaneço quieta. Pulsação na velocidade da luz. Meu corpo fala, você não ouve. Quem sabe eu deva parar de contar estrelas e carros que seguem funeral? Peter Pan deveria perceber a hora de crescer e enxergar o mundo do avesso. Terra em azul, só para os olhos de criança.

Zélia


sexta-feira, 13 de junho de 2008

O retorno de Saturno (e o cochilo de Balzac)

Ele voltou. Disse que veio me trazer maturidade. Curioso é que o nosso tempo astrológico-cronológico mostram as Horas em espaços distintos. Sequer sabia que ele viria, ele já voltou. Não entendi mas compreendi o que ele me trouxe. Não sou mais menina embora a música insista em dizer que se não tenho filhos ainda sou filha. Embora ainda sonhe. Embora eu ainda compre bugiganga. Embora eu ainda coma Farinha Láctea com leite Moça. Embora eu acorde com fome à noite. Embora eu sinta vontade de correr na chuva... Cresci! Uma das primeiras coisas que me mostraram a minha mudança de estação foi ter que encarar Tanatos. Ele chegou suave mas não atrasado. Até as Queres bateram a minha porta. Enfrentar esse bando é, indiscutivelmente, representação dos momentos mais difíceis para qualquer ser vivo que tenha um pouco do que eu vou chamar de “consciência” – como a égua, de um programa rural de domingo, que se desespera ao perceber o seu potrinho inerte ao chão – o potrinho morrera ao quebrar o pescoço na tentativa de pular a cerca que mantinha mãe e filho juntos. Balzac até que chegou a tempo mas parece ter esquecido que, neste mundo, Nix dá vez a Apolo. Cresci mesmo traindo minhas “indeléveis fraquezas femininas”, como fala o escritor francês. Cresci e sigo com ele. Dou linguagem as minhas atitudes, tenho meus segredos, desvendo segredos de corações, sou rainha, tenho atrativos irresistíveis, pago – muitas vezes – meu saber em dissabores, exijo zelo por minha honra, duvidei de Deus acreditando n'Ele. Enquanto isso e tantas outras coisas passavam por mim, Saturno chegara e não entrara. Continuava sentado em meio as orquídeas de meu jardim. Não fora pela borboleta que, em uma tarde, eu seguia não teria esbarrado nele e não teria visto no espelho de Narciso um Eu mais profundo ainda. Cronos fora de si, peças ausentes em mosaicos, escalas fora de tom: “c’est lá vie”. Gente continua falando a mesma coisa, Pessoa finge, Balzac cochilou e Saturno chegou atrasado. Ao menos ganhei novos anéis. Ando com os dedos enfeitados, estou mais conhecedora e inteira de mim.


Não tenho livro publicado. Apenas escrevo. Escrevo porque vivo! Escrevo a caminho do trabalho. Linhas tortas. Talvez um dia, eu publique um livro. Deixarei um exemplar de luxo na cabeceira de tua cama...



Zélia
















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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Maria Lúcia

Era simples

Simples dentro do complexo

Tão simples quanto a noção

De causalidade aristoteliana

Era simples

Simples como catar conchinhas

Mais simples que juntar peixinhos

Em baldinho cor de rosa

Era simples

Simples de ver chuva cair

Igualmente simples ao

Raio de sol janela adentro

Era simples

Simples sorrindo e salvando dias

Simples em flores que plantou

Simples brincadeira em floresta

Simples por amar simplesmente

Simples de viver com os pássaros

Simples nos amigos que juntou

Simples no exercício que a santificou

Simples seguindo seu calvário

Simples ao ir com a estrela que passou

Simples nas lições que ensinou

Simples tal qual poesia de Coralina

Simples da mesma forma que

Escrever por escrever

Era simples

Complexo fácil de desvendar

Era simples...



Zélia Palmeira


À mais bela expressão de vida que já conheci: meu espelho maior, minha avó materna, Maria Lúcia. Amor infinitamente infinito...















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domingo, 8 de junho de 2008

Nosso tempo de hoje




"...You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall..."

Oasis in:Wonderwall


Remédio pra depressão é segundo no ranking de remédios mais vendidos. Culpa dos dias que vivemos atualmente, dizem os especialistas. Maior ritmo e menores condições de trabalho, relacionamentos escorrendo pelos ralos com a mesma facilidade da água que cai do chuveiro, filhos sem terem a quem recorrer porque os pais não assumem seus postos, na rua o que se vê é um bando de andróides sem revisão andando de um lado ao outro, o amigo que se procura não está porque foi ao analista, a televisão aprimorou seu ofício de “fazer doido” – como dizia o avô de meu marido - , livros são mais ignorados enquanto a internet faz adulto e criança usarem o mesmo brinquedo, pessoas se distanciam mais de si mesmas e dos outros porque o tempo cronometrado não nos é suficiente.Vivemos os dias que criamos para nós ou aqueles que foram criados para nós? Fará diferença isso agora? Certamente que não! Aprendi muitas coisas enquanto passava a enxergar com olhos iguais aos de Eros e Têmis. Uma delas é que o que passou dorme em sono profundo – perdoar faz viver mais. O dia de hoje é que me pertence. Nele eu desenho meu amanhã. Às vezes, sou Ártemis mas aprendi a usar balança. Sou Irene e sou Afrodite. Uso razão e sentimento na medida exata – meu marido falou! -, acalento o Amor e vivo junto. Não nascemos para ser só e só. Nascemos para ser sós e sóis. Luz na escuridão dentro de mim e luz no fim do túnel para o outro. Amar não é remédio barato. É caro. É amargo. Agora, quem fala é o meu avô: “remédio amargo é o que cura”. Os Beatles cantam, eu repito: “I’ve got a feeling, a feeling deep inside...” Tenho sentimento, amo, tomo remédio de cinco em cinco minutos e o nosso tempo de hoje é nosso!


Zélia Palmeira


Para Juljan Palmeira - Luv you! ;)



Photo by emilyfamous

Canto a Calíope (causa da minha inspiração)

Choro ao ouvir-te

Falar em saudade.

Perdoa esse coração

Ingrato, tantas vezes,

Ao teu insaciável olhar

Mas disposto a saciar

Tuas manhas e desejos.

Ainda com a mesma

Dedicação que revelou em ti,

Forte-Mulher-Escritora-Louca,

Menina que chora ao ver

Lagarta se transformar em

Borboleta e voar...


Zélia


À minha amiga chorona que dorme em Alice. ;)

















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quarta-feira, 21 de maio de 2008

Words with benefits

Cloto continuava firme em seu trabalho comigo. Ganhara mais um dia. Outro dia que parecia igual a tantos outros não fora pelo momento epifânico que me acometera. Ouvi inúmeras vezes um poeta, em sua perfeição, – todo poeta é perfeito - repetir seus versos. Tudo parecia sempre igual. Mas não naquela manhã de quarta-feira, igualmente chuvosa. Senti um estalo ao ouvir que é possível sentirmos saudades do que ainda não vimos. Como assim? Saudade do futuro, então? Minhas bolinhas de açúcar estão fazendo efeito contrário? Depois de respirar fundo, como dissera minha terapeuta, descobri: sendo, simplesmente! Saudade do que espero em vivendo. Você não me chegou ainda – espera mais que longa – e já sei tudo sobre você. Conheço teu cheiro e tua cor. Pronuncio teu nome e calo para não ralhar contigo. Desenho teu rosto e brinco com tuas roupas. Sei como te acalentar e te proteger do frio. Li tudo sobre como não te fazer sentir dor e te fazer mais forte. De teoria eu entendo tudo. Da prática é que já me cansei. Porém, nunca fui de desistir. Talvez, óbvio não. Mas bem piegas isso... Que seja. Vivo da esperança que me traz a saudade do que ainda não vi - mas vou ver!

Zélia
















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segunda-feira, 19 de maio de 2008

ninguém em casa


Você conhece a sensação de Porta Fechada na cara? Ou a terrível realidade de ligar e ouvir aquela mensagem robótica dizendo que o telefone está fora de área ou desligado? Ou então comprar presente repetido? Isso é morte sem aviso prévio. São as sensações de vazio que um texto trancado num baú - lá na Terra do Nunca - nos deixa.

Mas eu espero.
Aprendi a esperar.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Todo tempo bom

Chuva.

Chove.

Zumbidos sobre ela.

Sinto tristeza

Na voz e no olhar da pobre gente.

Penso na chuva,

Na chuva que vejo da minha janela...

Nada cinza.

Vejo mundo colorido.

Almas sendo lavadas,

Vida que brota

E menina molhada

Correndo descalça no meio da rua.


Zélia

Photo by Eenuh on Deviantart

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Elixir Bakhtiniano, janelas abertas, mundo solto

Escrever sempre foi além de arrumar palavras e vontade de dizer algo que, talvez, jamais seria dito se palavras não fossem presas ao invés de serem libertas ao vento. Escrever implica em encontrar um pedaço seu em algum lugar. Escrever implica em se estabelecer uma comunicação com um outro mesmo que ele nunca tome conhecimento de suas idéias. Escrever é compartilhar sentimentos. Escrever é dizer eu estou aqui e vivo...

Sempre li, quase sempre escrevi. Mas uma Mulher Escritora me fez sentir necessidade de viver mais. Por isso, escrevo mais hoje. Só que escrever é mais perigoso do que falar. Palavras ditas se perdem no vento. As escritas, poderão todas serem “usadas contra você no tribunal”. Mas o que fazer se eu tenho coisas a dizer sobre uma Alice e o seu país maravilhoso transformado em Biblioteca Cósmica? Vou escrever ora bolas! Escrevo e vivo mais! E viver mais é, também, descobrir que o mundo é feito de super-heróis. Eis que vem o Super-Bakhtin para me dizer que todo texto é a continuação de outro. Ou seja, há uma relação dialógica entre os textos mesmo que essa relação não se evidencie como no caso desses dois textos aqui postados. Sei absorver as teorias que dão sentido a vida mas, como já disse antes, sou criadora das minhas próprias teorias e enfio “a colher de pau” mas teorias que bem entendo. Para complementar a Teoria Dialógica dos Textos de Mikhail Bakhtin, vou repetir que esse “diálogo textual” existe quando o texto é bom! E, todo texto é bom quando chega ao seu lugar de destino...

Bem, tudo isso aconteceu quando o amigo e escritor, João, perguntou-me sobre os textos ou poemas que escrevo em inglês. Tentei encontrar algum ainda inédito e cheguei até “The Mirror”, um poema que publiquei no Cosmic Library em 06/04/07 em diálogo com um poema escrito por Alice e publicado no mesmo blog em 25/03/07. Neste blog, eles ainda não haviam sido publicados. Quanto a serem “inéditos” ou não, depende do olhar que pusermos para fora da janela a cada vez que ela se abre...

Zélia

"All things"


I'm not perfect
Not basic
Not aware.
I don't shine
Happy not all time
I cry
Pretend
Intend
Run away
Comprehend
Don't understand
He loves me
He loves me not
All my irony
The criticism of defense
The flower in bloom
The girl not in need
Not nice, have no enemies
Living under the sun.
Learning from ups and downs
That life is
All things
The wind brings
When we are not
Concerned...

Alice


"The mirror"

I'm full
Winding
And wise
I have my light
Wild all time
I shout
Act
Do
Undo
Stay
Leave
Understand
Misunderstand
He loves me
I love him too
All my hurt
Comes from my heart
The tree that stands
Without fruit
A woman in chains
Fine but having enemies
Sharing suns and moons
Teaching more than learning
And life is within me
Is within you
Is within us
Being concerned or not.

Zélia



















Photo by Scadee on deviantart

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Eu, o amor, a ida, a volta, o avesso, o direito, um jardim, os outros, meu primeiro relato: somos todos iguais!


Voltar nem sempre é fácil. Há muito tentei retornar ao meu Jardim mas não sei, já sabendo, o que me impedia de estar de volta.Uma das dificuldades em se “voltar” está presente no nosso inconsciente em alguns dos sentidos que o termo em questão apresenta. Entre eles, “ir outra vez, repetir-se”, “pôr do avesso, ou direito”*. Se isto não fosse suficiente, há ainda os empecilhos nossos de cada dia, como as centenas de provas e cadernetas que quase me soterraram nos últimos dias, ou de cada momento: agora mesmo, fui impedida de continuar por falta de energia. Mas bem, comecei a falar de volta sem explicar o porquê da minha ausência. Há tempos sentia-me um tanto quanto fora de mim – por mil razões! Mas eu não parava, não conseguia parar... Até que fui “obrigada” a isso. Parar é bom! Viajar de “ônibus azul”, contar estrelas, abraçar Morfeu, fugir de Cronos, pôr meu avesso no direito, o direito no avesso, beijar a mão de Deus. Só continuamos se, também, pararmos. Continuando, estou de volta para regar minhas flores, encontrar meu trevo de quatro folhas, sentar num banquinho, fazer colar de margaridas, desmanchar tudo, brincar de bem me quer, mal me quer, desenhar sol no chão e uma arco-íris pra acompanhar. Voltei mas vou continuar parando...


Zélia

* (WordReference.com)

Photo by Slumberdoll on Deviantart

segunda-feira, 28 de abril de 2008

tempo esquecido

É o cabelo que demora a crescer ou o desmanche de carro antigo?
É esconder o que é saber ou vontade de fazer viver?
É manga de camisa fora de moda ou música em acorde maior?
É chamar amigo pelo nome errado ou errar de prontidão?
É sertão ou alergia?
É complexo de culpa ou mulher nua?
É descartar hipótese ou viver da violação?
É o frigir ou o queimar da evolução?
É tentativa de correr da chuva ou andar de olho aberto?
É secar fantasia um dia antes ou mirar semblante?
É ser mais que o mundo suporta ou recolher fingimento?
É pura anestesia verbal ou anarquia de quem escreve mal?
Tempo Esquecido em gaveta
Tempo Esquecido da vida
Tempo Esquecido
Olha ao redor e prova de mim
Que também esqueci que existe outro dentro de mim


Alice













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segunda-feira, 21 de abril de 2008

dragões do jardim

Mudando as coisas de lugar e mantendo nossa gentil face de gratidão.
Obrigada por me amar. Eta frase patética. Parece que sou obrigação. Talvez eu seja mesmo. E lá vem a dúvida sobre o mesmo. Ela vem da cozinha e me traz biscoito de canela. Como a canela e a gente ri. Escritora, como foi mesmo que a gente chegou aqui? Ninguém responde. A gente tem essa telepatia - sabe o que a outra pensa. E como a gente pensa. Pensa e dorme. E eu escrevo coisa chata. Ela ri de novo e vai cuidar das crianças. Tem criança em toda parte. A gente é criança também.

Começa a conversa sobre o amor maior que é tão mortal. Alguém queima sutiã em passeata e a gente paga pelo resultado. Esse W.O. é insuportável. Amor é W.O.? Amor romântico da Austen, amor de morte da Plath e amor "sai de cima de mim" da Parker. Qual você prefere? Eu fico com a Parker, mas me aventuro no masculino da Austen. Ele tem raiva e aquele orgulho de homem nas roupas. Sou meio Liz Bennet. Gosto de complicar. E você, Maria? Que amor cabe em você? Ela sai e ri. Eu já sei. A gente se conhece. Ela gosta de amor "Here I stand Ironing". Você é igual à Marlene. Já sabia? Risada de longe - lá do jardim. Ela volta, a gente amarra um texto - texto foge. Amarra idéia e a gente é feminista, mas não se mata por amor. Coisinha escreve poesia porque quer homem. Coisinha escreve poesia copiada. Coisinha não viveu ainda a metade dos cabelos da gente. E a gente escreve e deixa derreter barra de chocolate. A gente já nasceu mulher. Ani DiFranco e Erin McKeown fazendo a gente acreditar. Caminho aberto e texto amarrado.


Alice escreve enquanto a Zélia Maria corrige cadernetas e provas. Provas são estranhas. Provam o quê?




















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quarta-feira, 9 de abril de 2008

Da minha teoria



A Poesia é maior que a própria literatura. Pois um Poema é a tradução de uma alma que não quer calar - uma alma que fala sem vírgulas. E o Poeta, aquele que expõe seus avessos a cada novo Poema a que dá vida...


Zélia




Photo by Marmaluke