domingo, 27 de fevereiro de 2011

Filme Velho



Ontem, eu assisti ao Feitiço de Áquila (Ladyhawke) pela milésima vez. Pouco me importa se é um filme de 1985. Todas as vezes em que revejo o sofrimento de Etienne e Isabeau, separados por uma maldição demoníaca, é como se eu estivesse vendo o filme pela primeira vez. Sofro de amor por mim e por eles. Eu tenho uma amiga que é assim também. Ela gosta de rever filmes incansavelmente. Ela até decora as falas dos filmes e solta-as por aí no meio de suas conversas. Leva certo tempo para você se acostumar com essa mania dela. Depois, passa a ser divertido.

Filme é como pensamento, não envelhece nunca. Um filme é como uma pessoa, não se pode anular uma pela outra. Ele pode ser bom ou ruim e, assim, vai existir. O problema dos filmes ditos velhos é o mesmo das pessoas velhas. Preconceito. O filme só é bom se for novo. Se estiver na moda. Uma pessoa só serve se ela for nova. Se ela for velha, só serve para cadeira de balanço. As pessoas são preconceituosas, não se assumem como tal e nem percebem que o são. Filme bom é filme da moda. A bola da vez é Cisne Negro. Não vi o filme. Tenho certa ojeriza contra filmes da moda. Gosto de ver filme antes que as pessoas comecem a comentar sobre ele. Não sei se ele vai ganhar algum Oscar. O Feitiço de Áquila não ganhou. Outra vez, pouco me importa.

Filme bom pra mim é aquele que lava a minha alma. Se ganhou ou não a estatueta que mais parece um guerreiro estelar, não me importa. Quem disse que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles sabe mais que meu coração? Ela tem seus méritos para fazer isso, eu sei. Mas outra vez, vejo o preconceito nas pessoas quando o resultado desagrada a massa bem inteirada de cinema e suas artes. Para ganhar o Oscar de melhor filme, só sendo americano. Se for estrangeiro, não vale. Parecemos um bando de americanos, nós brasileiros, torcendo por um filme americano só porque tá na moda. Na maioria das vezes, nem assistimos a todos os filmes concorrentes e escolhemos o melhor entre eles. Como se não vi os outros?

Vi isso acontecer com Quem Quer Ser Um Milionário? (Slumdog Millionaire). Como assim, um filme estrangeiro (leia-se, não americano) ganhar o Oscar de Melhor Filme? Você viu o filme? Viu os concorrentes? Veja o filme e você verá a que custo uma criança de Mumbai, Índia (não preciso dizer de vida miserável) vira um milionário. Se é por falta de Oscar, Quem Quer Ser Um Milionário?, levou oito.

Lembro de outro caso. A Vida é Bela (La Vita è Bella) concorreu na categoria Melhor Filme Estrangeiro com Central do Brasil. Como assim, um filme italiano ganhar para um filme brasileiro e com Fernanda Montenegro? A questão não é de onde vem o filme ou quem está nele. A questão é quem foi mais feliz em seu propósito. Naquele ano, A Vida é Bela foi. E ainda o é. A vida é bela e cheia de filmes para nos fazer viajar ao nosso mais profundo imaginário. Enjoy the ride!


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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Expresso liberdade

a traça sem carapaça
desliza a parede nua
sem intenções de alarde
quisera apenas livrar-se
do peso que carregara



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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cardápio do dia



Todo ser humano
Deveria ser prático
Como um prato
Pronto para ser servido





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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sonho de criança



Homem é tudo igual. Mulher é tudo igual. Sogra é tudo igual. Mãe é tudo igual. Criança é tudo igual. Quanto aos anteriores, dúvida. Mas, que criança é tudo igual, é. As crianças são simples. Por isso, são todas iguais. Elas não entendem de dinheiro, luxúria, interesse. Uma fatia de bolo, três velas em cima, a festa tá pronta. Felicidade estampada. Se o caso é com homens e mulheres, bolo de três andares, vela dançante, muitos drinques, baluartes, a festa nem foi lá essas coisas. Depressão pós-festa. Adultos, somos complexos em demasiado. O que era simples não deixa de sê-lo. São a ganância e o egoísmo, sentimentos que toda criança descobre um dia, que sufocam o que é simples. Nós crescemos, o tempo passa a contar. Temos como inimigo o que é nosso aliado. Eu paro o tempo sempre que eu quiser. Não abro caixas de Pandora. Escrevo curto para não me perder. Sonho acordada. Brinco de esconde-esconde. Ouço grilos cantando enquanto monto trapézios e camas elásticas. Nariz de bola vermelha, amanhã passo a viver em meu circo. 




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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Baseado em fatos reais


Começo o dia com algumas certezas. Uma delas: posso não ter toda a felicidade do mundo, mas, tenho a felicidade que enche um copo d’água inteirinho. Decido, então, que não quero perder nem uma gota sequer dessa felicidade. Estou deixando tudo que me faz triste. Abraço as boas vibrações que chegam a mim. Tenho coragem e sei quem eu sou. É como disse o meu poeta russo preferido. Tenho coragem. Muita! Para ser e se estar feliz é preciso coragem. Depois da tempestade, minha vida volta ao normal. Acordo. Entendo que levo uma vida Anormal. Não faço parte do mesmo mundo que tantos e tantos. Não me importo. Prefiro assim. Prefiro rodear uma acácia amarela com os amigos que tenho que abarcar o mundo com um milhão deles. Das janelas da minha casa, sai apenas o que é real. Sai porque todo sentimento verdadeiro é livre. Não precisa ser atirado fora. O que sai pelas minhas janelas é tudo que vivo e sinto no mundo que me pertence. Mundo é particular. Cada um tem o seu. Não sou egoísta. Mundo também se partilha, sim. Partilho meu mundo com quem é parte dele. De verdade. É natural. O que sai pelas minhas janelas tem asa própria. A vida se multiplica por si só. Não há necessidade que eu viva uma vida que não corresponde ao que eu sinto e vivo de fato. Quero sentir intensamente a minha dor quando ela vier. Quero morrer de felicidade sempre que ela bater à minha porta. Quero da vida o que se pode pegar, contar, cheirar, comer, beber, derramar, enxugar, mergulhar, esparramar, ouvir, gritar, enxergar, calar, amar. Quero fazer do filme da minha vida uma história real. 




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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Água no café



É, no mínimo, curioso eu te pedir mais que eu posso ter. É tentação, também. Dissestes para eu pedir por um milagre e eu pedi, mesmo sabendo o quanto seria difícil somar a minha vida com a dele. Tenho tantas coisas. Talvez, um pouco menos que o meu egoísmo gostaria que eu tivesse. Mas tenho muito. Tenho tudo o que quis. Só não me imaginei não tendo aquilo que sempre pensei que tivesse. Sofro, ainda, por insistires em me dizer não. Paciência. Uma pausa para por água no café e acho graça quando lembro que não posso ter o isso que quero. Eu sei. Não quero mais. Prefiro ficar como estou. Mas a tormenta em minha cabeça acontece. Dizem ser normal. O mundo exige demais da gente. E, embora eu me recuse a viver enlatada, sucumbo, às vezes, às exigências sem sentido impostas a mim. Canso ao ser Fênix pelo menos uma vez a cada dia. Morrer e ressurgir para que o novelo siga em paz. É combustível. Não conseguiria viver se não pudesse me livrar de todo o mal que chega até mim. É o sol nascendo sempre que preciso for. Sou eu dizendo-me ser diferente mesmo sendo igual. Sou eu exercendo o poder que tenho de libertar a minha liberdade. Só é livre aquele que sabe libertar a liberdade que lhe cabe.

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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Flores de Inverno


Rock ‘N’ Roll foi um dos pontos que os uniram. Os dois sempre curtiram esse tipo de música. Juntos, eram bem mais agradáveis as horas gastas num cantinho qualquer ouvindo as músicas que curavam seus males. Certa vez, uma noite não fria de inverno, os dois se reuniram para ouvir música. O som era escolhido at random. Agora esse, depois aquele. Dependia do que falava o coração. Àquela altura, já não eram dois corações batendo mas um. Nada combinado, planejado, arquitetado, falsificado. Foi natural e espontâneo. Eles, simplesmente, souberam que queriam ficar juntos. Não sabem se antes de seus corações tornarem-se um ou se isso era conseqüência do sentimento que os uniam. It doesn’t matter anyway... No fundo do baú de CDs, presente e passado se encontram. Duas fitas cassetes do Rei gravadas especialmente para ela de uma velha amiga. Uma das poucas coisas que levara da casa de sua mãe junto com algumas peças de roupa. Outro ponto em comum entre os dois. Talvez, entre todos. Elvis é uma unanimidade. Uma música atrás da outra, relógio dando voltas incansavelmente, doses de atmosfera apaixonante, raio de sol batendo na janela. Não sei se por influência do Rei ou por ajuda, ele fizera a proposta. Queria casar na igreja de papel passado, seguindo o figurino, mas, excluindo-se certos padrões. Eles eram diferentes. Nada do que os outros esperavam que eles fossem. Portanto, o casamento seria do jeito deles. A data, uma que não o fizesse esquecer o aniversário de bodas. Manhã de verão, para que pássaros anunciassem a chegada da noiva. Vestido rodado florido, para combinar com o buquê multicolorido. Um terninho de cor clara só para constar – embora de coxas roliças, o noivo não deveria ir de shorts, tênis e meia sem elástico. A família toda reunida e alguns amigos. Até o padre foi escolhido a gosto. As músicas, todas aquelas que contavam a história daqueles dois. Casaram-se. Apenas mais um passo da história que se aventuraram em seguir. A partir dali, muito Rock ‘N’ Roll continua fazendo parte do cotidiano dos dois. De hora em hora, “baby, close your eyes and listen to the music”. 


 


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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

1.

A parede azul
Chumaços de algodão ao léu
Céu dentro de casa




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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Bon Goût






Gosto do gosto de boca
Jogado em minha boca
Quando beijo tua boca






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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dias Ganhos



Não posso reclamar da vida que tenho. Escolhi pouco do que tenho. Tanto do que escolhi ter, não tenho. Mesmo assim, cada dia vivido é um dia ganho. Falo em primeira pessoa. Sou eu traindo o poeta fingidor. Nunca fingi dor. Eu sinto. E sinto alegria. Sinto a chuva que cai aqui dentro e lá fora. Sinto o calor do sol ardente e sinto o cheiro do suor que me sufoca. Sinto. Sinto o cansaço de um dia de trabalho. Sinto por não torcer pelo teu time contigo. Sinto o som de voz de negro em branco. Sinto. Sinto saudade porque eu conheci o lugar dos que amam. Sinto ansiedade. Sou complexa, louca, destemperada. Sou suave, pluma, travesseiro de pena de ganso. Sinto. Sinto tristeza. Sinto não ter chegado a tempo. Sinto por você nunca chegar. Sinto a poeira que se esconde pelos cantos (meu canto para dias estranhos). Sinto. Sinto tudo misturado e gosto. Sinto cada música, cada poema, cada livro. Sinto não saber juntar as linhas. Sinto. Eu sinto. Sinto você e sinto a mim. Eu vivo. Vivo, me alegro, me entristeço. Lembro que a tristeza que se apodera de mim não sufoca a alegria que me cabe. Sou feliz. Estou feliz. Se eu não precisava dizer, por que perguntou? 


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