Retornaram os dois àquele lugar. Ela e ele. Embora updated em cores diferentes, outros olhares e alguns cantos fora de tom, era o mesmo lugar. O lugar aonde os fios de suas vidas se cruzaram. Sentiram aquele perfume de flores de sândalo. Era o mesmo lugar. O lugar aonde, desde sempre, sentiram-se um do outro. O lugar aonde um conhecera mais o outro. O lugar aonde um se consumia mais no outro. Fora ali o primeiro encontro dos incontáveis que tiveram. O primeiro olhar, o primeiro sorriso, o primeiro entrelaçar de mãos, a primeira fuga. A cada novo encontro, uma nova música que cantavam; o mesmo sabor de sorvete preferido; o mesmo instrumental compartilhado à distância; a mesma banda dividida; o mesmo sinal da cruz. Ali, só não trocaram juras de amor. Concordavam que por o amor não se deve jurar. Amor acontece. Foi assim com eles. Era só isso que entendiam. Não o que estavam a fazer, de início, ali naquele lugar. Haviam chegado em momentos diferentes. Não havia nada que aproximasse aos dois a não ser, talvez, por aquele sorriso no dia em que o calendário lunar marcava tempo de killing moon. Era chegada a hora no tempo do amor. Naquele espaço que pendurava na parede um indescritível quadro de uma família de lêmures, marcaram logo seu canto. De canto em canto, uma história começava a ser escrita. Foi dali que ganharam Salvador. Passou-se o tempo que não se pode contar. Eros vitoriosamente ainda os segurava pelas mãos enquanto entregavá-os aos cuidados de Zéfiros. Outra década, novo ano, mais um mês, outro dia e estavam ali novamente. Olharam-se no espelho junto à mesa onde costumavam sentar. Apesar de um eu e de um outro marcados pelo Tempo, agora aquele que conta os segundos, tudo era igual. Igual e diferente. O igual mostrava um sentimento que os prendia. O diferente mostrava um sentimento que vencia Chronos. Não precisavam voltar ali. Mas estavam lá. Relógio é dragão que quer engolir Amor. Música que adormece a alma. Voltar ali foi como uma viagem no tempo sem sair do lugar. Um chá, um café, pastéis de santa clara e o mundo seguiria ainda mais forte e constante. Estavam transformados. Ela já não era ela, simplesmente. Simplesmente, ele já não era ele...
(Mario Quintana)
Zélia