terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Gato Preto



Vejo tua áurea

Teu coração bate

Cego, você não vê

Não sente

Pêlo branco

Em gato preto

Arranha tua porta

Permite a Fortuna

Que entre

Melhor a incerteza

Do que está

Por vir

Que a certeza

Da morteviva


Zélia



Photo by Dragarta on DeviantArt

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Magna Charta




Mudança repentina de estação. Vejo-me no espelho do outro. Primeiro passo para o autoconhecimento que persigo. Aprendi a aprender-me. Não sou concreto armado. Sou mosaico em construção. Sou. Eu e sou Você. Leio Você e Você me escreve. Sei de amor porque vivo dele. Amor que parte, amor que chega, amor em sexo, amor de letras, amor de graça, amor de "American Airlines". Quilômetros não são sinônimos de distância. Saio e entro. Nada se perde. Você permanece livro. Eu, cinema mudo. Silêncio só fala a quem ouve coração. Poesia do entender e poemas fazem guerra, amor, revolução, carnaval, vida, morte, sol, chuva. Fazem a mim mais que a Você. Poemas abrem caminhos. Caminho. Caminhamos. Em estradas de tijolos amarelos, brancos, pretos ou coloridos. Escolhemos nossos caminhos. Já os sonhos, alguns escolhemos. Outros não. Entretanto, são sempre coloridos. Caixa de lápis que não largamos. Quem o faz não vive mais. Viver é amar e volto ao amor. Também te amo mas se pudesse te dava um chá de "segura o facho". Você é estabanada e, muitas vezes, machuca e se machuca. Entendo. É Mulher ainda criança. Há de aprender com o tempo. Tempo que nós fazemos. Escritos que fazemos e refazemos. Respostas porque o mundo clama por vozes. Vozes de quem fala e o coração ouve.

Zélia

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

contemporâneo

Um poema em pé de guerra comigo e até os inimigos sentem compaixão. Eu inimigo de mim. Tenho o umbigo maior que a barriga e meus olhinhos estão feridos de tanto que li noite passada. Lembrei de você quando ele falou, lá no livro, bem ressonante. O poema disse que a vida é quase tanto e um espanto. E lembrei de você me dizendo que estamos no caminho. Ou o caminho estava dentro de nós. Acabei ficando um tanto acrobática porque poemas me ferem. Não sei escrever poemas e também me fere o silêncio. O ar parado de vento e folha de papel sem nada escrito. E o que houve com o caminho? Os sonhos? Nossa parafernália de viver anda tão calma e continuo amando imagens e continuo sabotando minhas eventuais crises existenciais. Sempre achei que existencialismo fosse capitalismo e gente andando na rua. Eu sempre acho que sapato não rima com nada e ainda olho pela janela e acho que a cidade está perfeita. Casas e carros e sempre há uma crise iminente e parece que a crise passa cortante porque não vejo. Sinto apenas dores de cabeça, recebo telefonemas e acho mesmo que solidão é egoísmo. Eu vivo mais que bem e reclamo de olhos cheios. Você também. Na verdade, somos reclamadoras sem causa. Por isso me vi em você. Quando eu lia suas cartas de amor, eu era como você. Apenas não me deixava ver. Eu era um casulo exposto. E enfio uma expressão não comum para dizer que sempre me escondi. Um esqueleto no armário. E não fizeram a versão correta dessa expressão no filme Quatro Casamentos e um Funeral. Eu lembro que a gente traduzia letra de música e você me olhava e dizia idiomática. Eu aceitava. Porque você sabe de mim. Conhece o cume dos desafios que suporto. Sempre fomos iguais. Sempre amei você e admito que, muitas vezes, tive vontade de mandar a sua boca calar. Fala e fala e me azucrina. Mas eu sigo seus conselhos porque da pouca fé que permanece em mim, você é a parte que me alivia porque, vou dizer, eu sozinha não aguento comigo. E me divido com você. E deixo você se dividir comigo. Não estamos distantes. É apenas um momento de introspecção. É hora de lavar as paredes e cuidar das luas que nos fizeram mulher e mulher e um nome bem grande e bonito que resuma vida, política, bolso e chaves de casa. E eu escrevo poemas em inglês e você atende a minha voz e eu ouço e tenho raiva de gente que olha por cima do muro. Porque tenho o pescoço curto e gosto de olho no olho. Nada que me desvie a atenção.



Image by Bakenius