quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

contemporâneo

Um poema em pé de guerra comigo e até os inimigos sentem compaixão. Eu inimigo de mim. Tenho o umbigo maior que a barriga e meus olhinhos estão feridos de tanto que li noite passada. Lembrei de você quando ele falou, lá no livro, bem ressonante. O poema disse que a vida é quase tanto e um espanto. E lembrei de você me dizendo que estamos no caminho. Ou o caminho estava dentro de nós. Acabei ficando um tanto acrobática porque poemas me ferem. Não sei escrever poemas e também me fere o silêncio. O ar parado de vento e folha de papel sem nada escrito. E o que houve com o caminho? Os sonhos? Nossa parafernália de viver anda tão calma e continuo amando imagens e continuo sabotando minhas eventuais crises existenciais. Sempre achei que existencialismo fosse capitalismo e gente andando na rua. Eu sempre acho que sapato não rima com nada e ainda olho pela janela e acho que a cidade está perfeita. Casas e carros e sempre há uma crise iminente e parece que a crise passa cortante porque não vejo. Sinto apenas dores de cabeça, recebo telefonemas e acho mesmo que solidão é egoísmo. Eu vivo mais que bem e reclamo de olhos cheios. Você também. Na verdade, somos reclamadoras sem causa. Por isso me vi em você. Quando eu lia suas cartas de amor, eu era como você. Apenas não me deixava ver. Eu era um casulo exposto. E enfio uma expressão não comum para dizer que sempre me escondi. Um esqueleto no armário. E não fizeram a versão correta dessa expressão no filme Quatro Casamentos e um Funeral. Eu lembro que a gente traduzia letra de música e você me olhava e dizia idiomática. Eu aceitava. Porque você sabe de mim. Conhece o cume dos desafios que suporto. Sempre fomos iguais. Sempre amei você e admito que, muitas vezes, tive vontade de mandar a sua boca calar. Fala e fala e me azucrina. Mas eu sigo seus conselhos porque da pouca fé que permanece em mim, você é a parte que me alivia porque, vou dizer, eu sozinha não aguento comigo. E me divido com você. E deixo você se dividir comigo. Não estamos distantes. É apenas um momento de introspecção. É hora de lavar as paredes e cuidar das luas que nos fizeram mulher e mulher e um nome bem grande e bonito que resuma vida, política, bolso e chaves de casa. E eu escrevo poemas em inglês e você atende a minha voz e eu ouço e tenho raiva de gente que olha por cima do muro. Porque tenho o pescoço curto e gosto de olho no olho. Nada que me desvie a atenção.



Image by Bakenius