quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

e hoje faz sol



"The storm will pass
It won't be long now"

(U2 - Drowning Man)


Não é apenas o começo de outro ano. É a vida continuando. E não sei falar da vida como também não sei a receita para que se possa viver tudo de forma plena. A gente vive como quem dorme. Por instinto e por querer sobreviver. Nos falamos dia desses — ontem foi dia desses. E nós rimos porque é assim. Nunca sabemos qual será o próximo dia e como será. Se virá feliz ou vestindo outra roupa. Ontem, não sei bem o motivo, fui dormir mais cedo. E tive sonhos e vi toda a gente da família. Alguns como são e outros de forma diferente. E acordei no meio da noite querendo viver um pouco mais, mas estava com sono e precisava descansar o corpo mesmo que a mente não siga minhas ordens. E mais cedo, no noticiário da TV, vi uma casa explodir e pessoas correndo com a face do medo bem perto de todas elas. Vivemos assim também. Com medo e cativamos o apego a objetos talvez porque eles sejam tácteis e manipuláveis. Pessoas não são assim. E não estou descobrindo o segredo, mas é que tudo é tão ínfimo. Sabemos disso. Uma hora estamos de mãos cheias e na hora seguinte, o vazio. Seremos assim para sempre? A dor castiga e seria prévio e desgastado dizer que ela ensina a viver. Nós sabemos que não. Ela pode até nos fazer ver tudo diferente — por um dia ou dois — por meses —, mas de repente surge o sorriso e vem com ele a busca por outro tempo. E procuramos motivos. Temos motivos. Ontem senti uma dor no braço e achei normal. Também senti um desapego que a gente só sente quando sabe que o tiro vai fazer saltar em estilhaços a nossa calmaria. Hoje sei que dói a perda e ontem quem sorria ou sofria, descansa. Mas será mesmo assim? Não sei dizer. Nada sei de respostas adequadas ou palavras de conforto. Nada sei do adiante. Sei apenas que a vida inflama e não há garantia. O momento é este e confirmo a minha fé através de meus amigos. Tenho você e estou ao seu lado. Embora distante, estou ao seu lado. Conheço a dor. Já vesti essa armadura que machuca mais do que se possa sentir. Perdi também. Muitos perderam. E o que iremos fazer? Continuar, amiga. Seremos fortes? Sei que não. Hora ou outra a gente precisa cair e dormir e agüentar. Não há poema ou música nessa hora. Porque há Outra Voz falando. E não é o fim porque alguém partiu. O amor continua porque ele não morre. Para alguns, ele nem existe. Mas nós sabemos de nossos amores e das almas que guardamos dentro de nós. É a vida que continua. E quando você voltar estarei aqui ainda. Como posso saber? Não sei. É apenas a fé que entorta nossa travessia. Eu sei que estarei aqui e estou e abraço você que é mãe e minha voz quando insisto em silenciar. Hoje ou quando ler o que deixo aqui, você saberá que chorar sozinha é uma tristeza que não deixo pra você. Choramos juntas. E sou sua voz até que tudo se refaça.

Letícia


I'm here with you - come rain, snow or come shine.
Love you deeply.

Photo by Mano de Carvalho