"Desejo, necessidade, vontade."
Titãs em: Comida
Titãs em: Comida
A velha casa na esquina da rua da Saudade ainda conservava seu perfume de vanilla. Uns móveis haviam mudado de lugar, outros, jogados fora. Intactos, permaneciam os porta-retratos que contavam a história de Selina em cenas. De novo, apenas algumas traças na parede da sala e os filhotes de uma aranha que fazia morada no canto do guarda-louça e que Selina se recusava a tirar de lá. Tempo continua devorando Horas. Selina deveria seguir mas a ausência daquele que considerava o seu mais verdadeiro amor lhe travara a alma. Ela se resumia, então, ao seu desejo, a sua necessidade e a sua vontade.
DESEJO: É instinto, é fome. É indicador de falta, ausência. É o gozo que não chega. É o que não se conhece e que se faz sem pensar. É ação.
NECESSIDADE: É existência, é sistema. É o que determina a consciência. É fisiológica, é de segurança, é social, é de estima, de auto-realização. É de onde sai a vida.
VONTADE: É potencia, é fazer. É amor, liberdade foucaultiana. É o livre arbítrio em oposição ao determinismo. É movimento que exclui inércia.
O desejo de alcançar Felipe, a necessidade do sexo enamorado e a vontade de chamar seu nome, anulavam Selina a cada minuto. Selina já não era mais ela e não era outra. Era nada. Desfazia-se como os farelos de farinha que voavam do velho moinho, logo na entrada de sua cidadezinha. Isto era tudo que sobrara dela depois que Felipe fora devorado pelo mesmo moinho onde costumavam selar seu amor e desenhar planos para dias vindouros. A nova cor que teria a casa da rua da Saudade, as flores que enfeitariam as janelas, a árvore que seguraria o balanço para as crianças, o lugar da casa do cachorro. Os detalhes da cozinha, Felipe sempre deixou para Selina. Ao contrário de seu amado, Selina não deixava para Felipe a discussão sobre o espaço que ele teria para ver o futebol dos sábados com os amigos do moinho e os vizinhos. Uma verdadeira torcida organizada. Cidade do interior é assim. Todo mundo é amigo de todo mundo. A não ser para Selina. Sem Felipe ela já não era mais amiga de ninguém. Sua companhia era a do moinho Dias Paz. Sua única esperança era ser levada pelo vento como os farelos daquele moinho. Talvez, ao encontro de Felipe...
DESEJO: É instinto, é fome. É indicador de falta, ausência. É o gozo que não chega. É o que não se conhece e que se faz sem pensar. É ação.
NECESSIDADE: É existência, é sistema. É o que determina a consciência. É fisiológica, é de segurança, é social, é de estima, de auto-realização. É de onde sai a vida.
VONTADE: É potencia, é fazer. É amor, liberdade foucaultiana. É o livre arbítrio em oposição ao determinismo. É movimento que exclui inércia.
O desejo de alcançar Felipe, a necessidade do sexo enamorado e a vontade de chamar seu nome, anulavam Selina a cada minuto. Selina já não era mais ela e não era outra. Era nada. Desfazia-se como os farelos de farinha que voavam do velho moinho, logo na entrada de sua cidadezinha. Isto era tudo que sobrara dela depois que Felipe fora devorado pelo mesmo moinho onde costumavam selar seu amor e desenhar planos para dias vindouros. A nova cor que teria a casa da rua da Saudade, as flores que enfeitariam as janelas, a árvore que seguraria o balanço para as crianças, o lugar da casa do cachorro. Os detalhes da cozinha, Felipe sempre deixou para Selina. Ao contrário de seu amado, Selina não deixava para Felipe a discussão sobre o espaço que ele teria para ver o futebol dos sábados com os amigos do moinho e os vizinhos. Uma verdadeira torcida organizada. Cidade do interior é assim. Todo mundo é amigo de todo mundo. A não ser para Selina. Sem Felipe ela já não era mais amiga de ninguém. Sua companhia era a do moinho Dias Paz. Sua única esperança era ser levada pelo vento como os farelos daquele moinho. Talvez, ao encontro de Felipe...
Imagem: ZackF (Deviantart)