sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desenho de Outono

De outono em outonos
Faço a minha colheita
Encho minha alma desfeita
Enquanto abro meus braços largos

De outono em outonos
Renovo a pele queimada de sol
Busco a vida dentro do girassol
Enquanto vejo ouros mais amarelos

De outono em outonos
Renasço boreal
Enquanto vivo equinócios

De outono em outonos
Em honra de Saturno, o Saturnal
Enquanto me desnudo de panos





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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Horizonte de Quéops

Eu sem você
Ainda sou eu
Talvez eu me deixe ser
Um poema em dezconstrução
Mas ainda assim
Serei Eu





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domingo, 18 de abril de 2010

Aonde Aristóteles não chega



Mais dois passos, ela descobriria o que a salvaria daquele afogamento no mar de lamúria que cobria seu quarto. Mas ela não movimentava mais suas pernas. Não saía do lugar em que se enfiara depois que sentiu que não entendera o que lhe dissera o livro que acabara de ler. Era tudo tão claro. Claro se ela não visse apenas o lado escuro que não existe da lua. Era tudo escuro então. Escuro dentro do claro que ela não consegue enxergar. Lembro de certo ensaio sobre certa cegueira. Certamente ela se sente impotente, insegura e abandonada. Esquece que nunca se está realmente só: temos outros em nós, a música que toca, a letra que forma, o pássaro que voa, a lembrança que povoa, o filme que passa, o desconhecido que acena na esquina, a chuva que cai, o sol que nasce, a lua que brilha, a estrela que reluz e você que vai chegar. Ela espera. Eu espero.


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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Antônimos são Sinônimos


Nasci e tive a rua como berço, casa, escola, restaurante. Logo me vi afastado dos meus iguais. Há quem chame a isso Liberdade. Confesso que, muitas vezes, preferi as grades que cercam o jardim da casa grande ali na esquina. Essa liberdade que dizem ter nascido comigo mais parece sinônimo de abandono, solidão. Ando por quase todas as ruas dessa cidade. Das sete vidas que tinha me restam não mais que duas. Do calor do sol é mais fácil me proteger. Há sempre uma árvore com uma sombra a mão. Uma torneira pingando em algum lugar. É o frio o que mais me incomoda. Até comida é mais fácil conseguir. Sou matreiro. Aprendi a reconhecer os cheiros muito bem. Escolho o que quero comer. É bem verdade que o quando eu não posso definir. Mas o frio dói. Faz a alma congelar. Nesses momentos é que me sinto mais sozinho. À noite, então... Todo mundo trancado, abraçado, debaixo de cobertas. Eu vago à procura de um lugar quente. Um lugar aonde eu possa sentir outro coração batendo. Dois corações esquentam melhor a alma. Paro na frente de uma parede de tijolos vermelhinhos em uma das ruas mais importantes da cidade. Quem sabe a cor vermelha não me faça ver e sentir um coração imenso me engolir por inteiro. Talvez, esse frio que me paralisa desapareça. Abro os olhos pela metade. Consigo ver algo não igual a mim. Pelo menos não na aparência. É um pouco diferente. Está só. Parece ter frio também. Ele se aproxima timidamente. Já sinto um vento quente soprar. Vou deixar que ele chegue mais perto. Que abraço aconchegante... Sinto o seu coração bater. Vou ainda mais perto. Já não sinto frio. Meu coração parece ter parado de bater. Espere. Meu coração bate junto com o dele. No mesmo ritmo. Continuamos diante da parede de tijolos vermelhinhos e não estamos mais sós. O frio já não incomoda tanto. Minha alma encontrou alento em quem não me é igual mas que sabe que o mundo não se faz na indiferença e sim na necessidade de cada um. Seja ele quem for.







Pessoas não podem se desfazer de animais de estimação. Assim como devem se responsabilizar por todos os cuidados que eles requerem. Quem é tido como ser "não pensante" não pode pagar por aqueles que "pensam".

Imagem de autor desconhecido.