On. A velha senhora ligou. Havia mais de ano que não conversávamos. Começou dizendo que ligara para desejar, a mim e a minha família, votos de um Feliz Natal. Em seguida, falante, como sempre, abriu-se como um baú velho e começou a revolver questões familiares e a contar-me sobre os problemas que a circundavam naquele momento. Algumas pessoas não gostam dessa velha senhora. Reclamam que ela fala demais e que se intromete na vida dos outros. Reconheço que a tal velha senhora tem seus defeitos. Quem não os tem? Há quem diga que havendo defeitos, há qualidades também. A velha senhora tem suas qualidades. Uma delas? Ela fala a verdade. Ela fala o que você já sabe, mas, não quer admitir. Muito menos, quer que outra pessoa lhe jogue isso na cara. Essa é a deixa para que entre a fala: “Vixe! Atenda você. Diga que eu não estou.” Não pude dizer que eu não estava. Não reconheci o número do telefone. Atendi. Naquele dia eu estava de bom humor. Atendi ao telefone mesmo não reconhecendo o número de quem me ligava. Estava chegando o Natal. Conversar horas com aquela velha senhora, talvez, fosse a resposta para a pergunta: Então é natal... E o que você fez? * Ao menos posso dizer que dei ouvidos a uma velha senhora. Não vou negar que guardo uma mágoa com relação a ela. No entanto, eu continuo gostando dela. Ela é como eu. Melhor, eu sou como ela. Falo muito. Digo logo o que vou pensando. Adivinho o futuro. Eu estava atrasada no dia da bendita ligação, porém, dei corda à velha senhora. Ouvi coisas que já sabia e outras que ainda não sabia. Falei também. Embora, eu tenha guardado o assunto da mágoa a qual me referi anteriormente. Não era o momento. Ainda falo o que penso. Entretanto, aprendi e aceitei que existe um tempo para tudo. Aquele não era o tempo daquela mágoa vir à tona. Ouvi mais que falei – outra coisa que aprendi. Fiz minha boa ação, atrasei-me para meu compromisso. Em compensação (ou descompensação), sai daquela conversa gostando mais daquela velha senhora. Espalhei algumas coisas que ela havia me contado (isso faz parte de qualquer conversa). Outras, eu guardei. Uma, eu matutei. Disse-me ela que pediu ao filho, no tempo em que ele fazia seu Doutorado em Física, na Inglaterra, que inventasse uma antena para gente. Repetiu: “– Meu filho, invente uma antena para gente. Tem gente que nasce sem antena. Se você inventar uma antena para gente, você vai ganhar o premio Nobel em Física.” Eu ri bastante. Concordei com aquela velha senhora. Conheço um monte de desantenados. Hoje, ela está desatualizada em sua ideia. O negócio, agora, é chip. Inclusive, já estão criando chips para serem implantados em humanos. Na época, a velha senhora estava à frente do seu tempo. Seu filho é que não lhe dera ouvidos. Mesmo desatualizada, o que vale é a ideia. Um montante grande de pessoas não capta o que está a sua volta. Por isso, vive dando de cara na parede. Fato que não me incomoda mais tanto quanto antes. Cada um que cuide de si. Eu só fiquei imaginando como seria bom se a gente pudesse ligar e desligar uma pessoa quando a gente bem entendesse. Já pensou nisso? Off.
A todos, ainda há tempo para um FELIZ NATAL! :))
Image by antart on DeviantArt
* Trecho de "Então é natal", versão da cantora Simone para "Happy Christmas (War is over)", de John Lennon.
* Trecho de "Então é natal", versão da cantora Simone para "Happy Christmas (War is over)", de John Lennon.