Se o mundo dá
voltas,
em que estação eu devo descer?
Voltei a escrever longas
cartas para ninguém. O inverno nem é frio, mas, eu sinto calafrios. Agarrar um
lápis traz calor as mãos. Todos saíram pela porta dos fundos e eu fiquei. Fiquei
porque meu contorcionismo é falho. Eu não caibo em todo lugar. Nem todo lugar
me cabe. Você, também, é um lugar. Lugar onde eu deveria encontrar abrigo,
proteção, amor e cuidado sempre que precisasse. Eu preciso. Sou precisa. Essas coisas
fazem de nós humanos vulneráveis, eu sei. Eu deveria ser alienígena. Ou um
mutante.
Cena faltando.
Não sou eu que dou abrigo? Que
dou proteção? Que amo? Que cuido? Sim... Só que, agora, estou quebrada. E a
consciência das pessoas não desapegou ainda da filosofia do quebrou, joga fora! Faz-se tempo de
reciclagem. Acontece que reciclagem dá trabalho. É preciso manter aquilo que
vai ser reciclado. Manter é proteger, é cuidar, é amar. Amar é, segundo os caprichos
de Eros, convencional, belo e perfeito. Portanto, amar ao que não lhe convém,
amar ao velho e amar ao torto é, no mínimo, desafiar o Cupido. Voltamos à
reciclagem. O que dizer da reciclagem de pessoas? Pessoas são chatas, antissociais,
imperfeitas. - Pois têm vontades e sentimentos próprios - Pessoas não pedem
perdão, pessoas não perdoam. Espere... Talvez, eu deva descer em qualquer
estação e seguir. Ou parar. Parar e só olhar o vai e vem de pessoas em trem
cujo caminho é uma linha reta.