sexta-feira, 13 de junho de 2008

O retorno de Saturno (e o cochilo de Balzac)

Ele voltou. Disse que veio me trazer maturidade. Curioso é que o nosso tempo astrológico-cronológico mostram as Horas em espaços distintos. Sequer sabia que ele viria, ele já voltou. Não entendi mas compreendi o que ele me trouxe. Não sou mais menina embora a música insista em dizer que se não tenho filhos ainda sou filha. Embora ainda sonhe. Embora eu ainda compre bugiganga. Embora eu ainda coma Farinha Láctea com leite Moça. Embora eu acorde com fome à noite. Embora eu sinta vontade de correr na chuva... Cresci! Uma das primeiras coisas que me mostraram a minha mudança de estação foi ter que encarar Tanatos. Ele chegou suave mas não atrasado. Até as Queres bateram a minha porta. Enfrentar esse bando é, indiscutivelmente, representação dos momentos mais difíceis para qualquer ser vivo que tenha um pouco do que eu vou chamar de “consciência” – como a égua, de um programa rural de domingo, que se desespera ao perceber o seu potrinho inerte ao chão – o potrinho morrera ao quebrar o pescoço na tentativa de pular a cerca que mantinha mãe e filho juntos. Balzac até que chegou a tempo mas parece ter esquecido que, neste mundo, Nix dá vez a Apolo. Cresci mesmo traindo minhas “indeléveis fraquezas femininas”, como fala o escritor francês. Cresci e sigo com ele. Dou linguagem as minhas atitudes, tenho meus segredos, desvendo segredos de corações, sou rainha, tenho atrativos irresistíveis, pago – muitas vezes – meu saber em dissabores, exijo zelo por minha honra, duvidei de Deus acreditando n'Ele. Enquanto isso e tantas outras coisas passavam por mim, Saturno chegara e não entrara. Continuava sentado em meio as orquídeas de meu jardim. Não fora pela borboleta que, em uma tarde, eu seguia não teria esbarrado nele e não teria visto no espelho de Narciso um Eu mais profundo ainda. Cronos fora de si, peças ausentes em mosaicos, escalas fora de tom: “c’est lá vie”. Gente continua falando a mesma coisa, Pessoa finge, Balzac cochilou e Saturno chegou atrasado. Ao menos ganhei novos anéis. Ando com os dedos enfeitados, estou mais conhecedora e inteira de mim.


Não tenho livro publicado. Apenas escrevo. Escrevo porque vivo! Escrevo a caminho do trabalho. Linhas tortas. Talvez um dia, eu publique um livro. Deixarei um exemplar de luxo na cabeceira de tua cama...



Zélia
















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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Maria Lúcia

Era simples

Simples dentro do complexo

Tão simples quanto a noção

De causalidade aristoteliana

Era simples

Simples como catar conchinhas

Mais simples que juntar peixinhos

Em baldinho cor de rosa

Era simples

Simples de ver chuva cair

Igualmente simples ao

Raio de sol janela adentro

Era simples

Simples sorrindo e salvando dias

Simples em flores que plantou

Simples brincadeira em floresta

Simples por amar simplesmente

Simples de viver com os pássaros

Simples nos amigos que juntou

Simples no exercício que a santificou

Simples seguindo seu calvário

Simples ao ir com a estrela que passou

Simples nas lições que ensinou

Simples tal qual poesia de Coralina

Simples da mesma forma que

Escrever por escrever

Era simples

Complexo fácil de desvendar

Era simples...



Zélia Palmeira


À mais bela expressão de vida que já conheci: meu espelho maior, minha avó materna, Maria Lúcia. Amor infinitamente infinito...















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domingo, 8 de junho de 2008

Nosso tempo de hoje




"...You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall..."

Oasis in:Wonderwall


Remédio pra depressão é segundo no ranking de remédios mais vendidos. Culpa dos dias que vivemos atualmente, dizem os especialistas. Maior ritmo e menores condições de trabalho, relacionamentos escorrendo pelos ralos com a mesma facilidade da água que cai do chuveiro, filhos sem terem a quem recorrer porque os pais não assumem seus postos, na rua o que se vê é um bando de andróides sem revisão andando de um lado ao outro, o amigo que se procura não está porque foi ao analista, a televisão aprimorou seu ofício de “fazer doido” – como dizia o avô de meu marido - , livros são mais ignorados enquanto a internet faz adulto e criança usarem o mesmo brinquedo, pessoas se distanciam mais de si mesmas e dos outros porque o tempo cronometrado não nos é suficiente.Vivemos os dias que criamos para nós ou aqueles que foram criados para nós? Fará diferença isso agora? Certamente que não! Aprendi muitas coisas enquanto passava a enxergar com olhos iguais aos de Eros e Têmis. Uma delas é que o que passou dorme em sono profundo – perdoar faz viver mais. O dia de hoje é que me pertence. Nele eu desenho meu amanhã. Às vezes, sou Ártemis mas aprendi a usar balança. Sou Irene e sou Afrodite. Uso razão e sentimento na medida exata – meu marido falou! -, acalento o Amor e vivo junto. Não nascemos para ser só e só. Nascemos para ser sós e sóis. Luz na escuridão dentro de mim e luz no fim do túnel para o outro. Amar não é remédio barato. É caro. É amargo. Agora, quem fala é o meu avô: “remédio amargo é o que cura”. Os Beatles cantam, eu repito: “I’ve got a feeling, a feeling deep inside...” Tenho sentimento, amo, tomo remédio de cinco em cinco minutos e o nosso tempo de hoje é nosso!


Zélia Palmeira


Para Juljan Palmeira - Luv you! ;)



Photo by emilyfamous

Canto a Calíope (causa da minha inspiração)

Choro ao ouvir-te

Falar em saudade.

Perdoa esse coração

Ingrato, tantas vezes,

Ao teu insaciável olhar

Mas disposto a saciar

Tuas manhas e desejos.

Ainda com a mesma

Dedicação que revelou em ti,

Forte-Mulher-Escritora-Louca,

Menina que chora ao ver

Lagarta se transformar em

Borboleta e voar...


Zélia


À minha amiga chorona que dorme em Alice. ;)

















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