sábado, 16 de agosto de 2008

Revérbero

“Toda significação reenvia a outra significação.”

Jacques Lacan

in: A função criativa da palavra.


Um dia

Ainda te conto

O que é um conto

O conto da Carochinha

O conto em papel de parede amarelo

O conto pela queda da casa de Usher

O conto que contou o velhinho Maurice

O conto que embrulhou sabão

O conto que não diz a verdade

O conto que custou seis réis

O conto que abriu o mar

O conto que levou o abraço

O conto que encheu um livro

O conto que trouxe o sorriso

O conto, a historieta de Henriqueta

O conto, a estagnação de Alice

O conto, a conta perfeita

O conto, a espera por você

Mas, por hora,

Eu não te conto

O que é um conto.


Zélia























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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A um certo Anjo que responde pelo codinome Amor

Estou aqui
Você comigo
Te amo sempre sem tempo
Certo ou errado
Lembrado ou esquecido
Amanhecido ou anoitecido
Falante ou calado
Acordado ou dormido
Te amo simples
Te amo ainda
Te amo mais
Te amo contudo
Te amo sempre sem tempo
Você comigo
Estou aqui


Zélia





















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sábado, 9 de agosto de 2008

Texto solitário para um diário perdido

“Para que deve servir o Diário Íntimo?

1. para desabafar o coração;
2. para aperceber-se da vida;
3. para esclarecer o pensamento;
4. para interessar à [...] ” *

Que seja...

Hoje acordei do avesso. Dormi até umas 08h00min quando o U2 cantava sobre algo que ainda não encontrara. Eu até gostava da bendita canção mas depois que ela passou a ser meu despertador, percebi que quase tudo que busco está ao meu alcance. Além disso, percebi que aquela, agora musiquinha, estava me deixando deprimida com essa coisa de “ainda não encontrei o que estou procurando”, enquanto acordava para ir trabalhar. Troquei a musiquinha do alarme do meu celular pelo hino, instrumental, do Brasil. Pelo menos aquele som parecido com umas trombetas, do início do hino, me dá mais coragem para levantar – às vezes penso que estou em um quartel do exército. Entretanto, hoje era o meu marido quem precisava acordar – e não acordou. Pois bem. Estava a dizer que acordei do avesso. Senti vontade de limpar meu fogão, coloquei umas roupas na máquina, levei até à minha mãe um baú que ela estava precisando e até pensei em comprar um guarda-roupa pequeno para colocar em meu escritório. Espera um pouco... Guarda-roupas não devem ficar em quartos? Acho que sim! Mas como hoje estou do avesso, ele vai ficar no escritório mesmo. Tenho muitos edredons que não têm onde morar. Ainda do avesso, volto. O telefone toca. É minha escritora particular – ela escreve textos para mim e eu vou produzir o livro dela. Conversamos, como sempre, horas a fio. Fomos interrompidas, é claro, algumas vezes, pelo menino da bola azul. Ele não pára de correr atrás daquela bola. Quase no fim da conversa, resolvi que eu iria escrever mais um texto. Como? Se eu estou extremamente ocupada com meus afazeres de voluntária de uma Ong que cuida da preservação do meio ambiente? Ah! Esqueci! Hoje eu tô do avesso. Vou sentar e escrever. O que é isso? O meu almoço. Acaba de chegar. Vou almoçar sozinha mesmo. O meu marido levou uns alunos a uma aula de campo e acaba de ligar dizendo que vai se atrasar – vai jogar cartas com um amigo antes de voltar. Ele está interessado em saber sobre o seu futuro e como vão estar as cotações da NASDAQ para o ano que vem. Tudo bem... Eu me atraso para o jantar. Vou ver como está o pingüim que apareceu lá em Cabedelo. No mais, não estou só. Estou almoçando com as letras que espalhei aqui. Meu prato preferido: cozido. Sempre fui de comer pouco mas quando era dia de cozido lá em casa, e era o meu pai quem cozinhava, o tamanho do meu prato assustava até elefante. Hoje não como mais assim. Ele não cozinha mais para mim. Se bem que, como hoje estou do avesso, eu poderia até comer mais. Não. Vou deixar um pouco para o jogador de cartas. Curioso eu estar aqui falando essas coisas. Nunca fui de escrever diário. Será que antes é que eu estava do avesso? Sei lá! Agora está na moda escrever diário em blog. Eu tenho um blog também. Pelo menos, com relação a isso, não estou do avesso. Principalmente agora que pareço estar escrevendo em um diário. Então viva! Há sempre uma primeira vez pra tudo. Sem contar que o blog é meu e nele eu escrevo o que quiser. Sou Escritora! Escritor é aquele que domina as palavras e isso eu faço bem. Coloco todas elas espalhadas no chão. Formo meu chão de palavras. Deito e rolo. Texto pronto! Vou publicá-lo. Talvez, eu tenha que acrescentar alguma coisa depois. Afinal, o dia está só na metade e eu ainda estou do avesso...

Zélia

* Extraído d’ un Journal Intime por Henri-Frederic Amiel

















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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Flores enquanto escrevo


Uma nota é música enquanto som

O som é voz enquanto amor

O amor é arco-íris enquanto desenho

O desenho é mar enquanto estrela

O mar é céu enquanto azul

O céu é água enquanto chuva

A chuva é rio enquanto vida

A vida é arte enquanto poema.


Zélia



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