domingo, 22 de abril de 2012

Ouro de tolo

Moeda barata essa tal de verdade. Havendo mais mistérios entre céu e terra, não posso dizer que tudo sei. Fácil seria dizer que de nada sei. Mas não é assim. Sei o que sei e sei o que não sei. Basta! Conheço a verdade do que foi feito de mim. Assim como tão bem conheço a verdade que tanto te esforças para pintar.

Image by Ferruh on DeviantArt

sexta-feira, 23 de março de 2012

Olhos Fechados


Escondo os desejos de você
Pois eles me lavam ao escurecer
Encontro no escuro o que me faz viver
Existo e desejo e preciso e pergunto por quê...

Quando vem o Sol
E mostra o que tem que se ver
O certo marfim que estraçalha visões
E negado a bilhões

Me rasgo na luz e me encanto ao saber
Que em portas estreitas não cabe o prazer
Nas largas passagens mais doces me afogo em viver
Que venha o delírio do nada tão sacro e tão meu

quarta-feira, 21 de março de 2012

Onde os melhores são de fato os melhores


Em todas as áreas de atuação profissional existem aqueles que se destacam e ocupam os primeiros lugares da cadeia evolutiva do sistema do capital. Fato é que, não necessariamente, eles são realmente os melhores.
Não podemos dizer que a Câmara Federal, por exemplo, tem os melhores políticos do Brasil. Não é necessário o mínimo esforço para provar isso.
Não se pode afirmar que os melhores médicos ocupam cargos de destaque na saúde nacional, uma vez que muitos não fazem justiça ao juramento hipocrático, preocupando-se, em muitos casos, com o “vil metal” antes da vida de um ser humano. E a saúde no Brasil é o que todos sabemos que é.
Se prestarmos atenção à quantidade de injustiças que ocorrem no nosso país, acredito que chegaremos à conclusão de que não temos os melhores magistrados no comando do nosso sistema jurídico. Trata-se de meros mantenedores do status quo que, apesar de terem poder para diminuir a distância entre injustiçados e privilegiados, não o fazem por serem também alimentados por essa injustiça, quando não são frutos dela.
No esporte, contudo, é muito difícil, para não dizer impossível, vermos alguém chegar ao topo sem méritos reais.
Ayrton Senna, Maradona, Michael Jordan entre outros, não poderiam ter o reconhecimento que têm em suas áreas se não tivessem sido bons de verdade.
Hoje, o mundo do esporte presencia a plenitude de um assombroso fenômeno chamado Lionel Messi. O melhor naquilo que faz e que, se precisa provar isso, fá-lo todas as vezes que entra em campo.
Messi é hoje o melhor jogador de futebol do mundo. Claro que o fato de jogar no melhor time do planeta, o Barcelona, e de ter recebido atenção especial desde cedo são requisitos essenciais para ter chegado aonde chegou. Mas, se não fosse o melhor de verdade, não se manteria lá, como acontece em todas as áreas que citei e em outras que não merecem destaque nesse momento.
Isso acontece porque no esporte os melhores são testados a todo o momento. Não basta atingir uma posição de destaque e locupletar-se sem a preocupação de fazer um trabalho digno do melhor. Quando isso ocorre, quando o esportista não mais corresponde à condição de ser o melhor de fato, o seu direito é imediatamente transferido a outro. Lembrem-se, por exemplo, de Adriano, Ronaldo, Ronaldinho e tantos outros que foram depostos de seus lugares de destaque porque não mais o mereciam.Isso acontecerá também com Messi.É o ciclo natural que não se reproduz em outros setores do sistema capitalista brasileiro.
Tenho total convicção de que o Brasil seria um país bem melhor se essa lógica fosse aplicada a todas as áreas de atuação profissional. No esporte, só os melhores chegam ao topo e só permanecem se forem, de fato e de direito, os melhores.
Haja saúde.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Frutos de maracujá

 À minha amiga Silvana Heath.
(Aquela que divide Gabriel comigo e 
mulher que gosta de sementes, flores e frutos)


O que antes eram flores indica que se faz tempo de colheita. Enquanto apanho enormes e belos maracujás amarelos, eu epifanizo. O Senhor Tempo me mostra que todo tempo é tempo de colheita. Cinco segundos e todo o filme de minha vida. Sempre fiz o papel de colhedora. Colho e acolho frutos até das sementes que não plantei. As sementes, por mim, plantadas me dão frutos esperados. Sejam bons ou ruins. Quase não há surpresas. Das sementes que não plantei é que me vêm os melhores frutos e as maiores surpresas. Sejam boas ou ruins, devo dizer. Ter o melhor fruto em mãos não significa dizer gosto adocicado na boca. Há frutos que são desejados exatamente por ter um sabor mais exótico, digamos assim. Aquelas flores das ramas de maracujá das quais falei outro dia e que, agora, me ligam a casa de minha vizinha se transformaram nos mais belos e cheirosos frutos de maracujá que já vi. No entanto, eles continuam deixando gosto amargo em minha boca. Continuo não gostando de maracujá. Mesmo assim, provo desse doce veneno. Mas, começo a trabalhar o meu paladar e estômago para o sabor do que chamo, então, meus maracujás. Há que se enfrentar o novo, o diferente, o estranho, o bom e o ruim. É assim que a vida se faz. Os tais maracujás enfeitam o meu quintal e tornaram-se minha escolha. Entraram sem bater. Sem querer, deixei-os ficar. Minha natureza acolhe frutos. Arco com as consequências. O meu quintal está repleto, também, de folhas secas de maracujá. Mosquitos são atraídos pelo aroma do maracujá. Isso me incomoda. Deixo passar. Há quem seja fascinado por maracujás em minha casa. Por isso, eu os colho com prazer e preparo as sobremesas mais saborosas e os sucos mais refrescantes com eles. Imagino eu. Porque não como, nem tomo (ainda) nada que leve maracujá. O prazer de dar alegria a quem amo é que move minh’alma. Sorrisos me chegam quando preparo qualquer coisa com maracujás em minha casa. Igualmente, sorrisos me chegam quando compartilho de meus maracujás com amigos e familiares. Um sorriso aqui outro ali, pessoas mais felizes, um mundo mais feliz - nem que seja até o sabor do maracujá fugir das bocas que os provam. Estou assim colhedora e acolhedora desde que me fiz entender gente. Colher e acolher frutos foi o que sempre fiz. Isso não é uma atividade restrita ao meu quintal. Do lado de fora da minha casa, continuo colhendo frutos. Frutos belos, de cheiro que aguça meus sentidos, de sabor que me agrada o paladar e que me dão as maiores alegrias de minha vida. Contudo, não vou mentir. “Não sou perfeito”, disse o poeta. Eu também não. Às vezes, eu erro a mão, outras os frutos decidem por si só o que fazer. Assim, o doce se torna amargo. Me assusta o resultado. Eu vivo tanto que me assusto por muitas e muitas vezes. Insisto em viver assim mesmo. Se é questão de escolha própria ou se fui levada a fazer certas escolhas, não importa. No final, a decisão sempre foi minha. Faço o que quero. Sou imensamente feliz por colher frutos de sementes que plantei. Sou imensamente feliz por colher frutos de sementes que foram plantadas em meu quintal. Assim como sou, também, imensamente feliz por colher frutos de sementes que não foram plantadas em meu ventre. No final das contas, a vida faz de mim a mãe sem filhos mais feliz de todos os tempos.