sábado, 8 de setembro de 2012

Desejo


sabe aquela casinha
de beira de estrada?
rosa fugidio em cima
da taipa,
uma porta e
uma janela,
crianças brincando
na frente?
paraíso a céu
aberto

sábado, 21 de julho de 2012

Eclética 4.0

“O que é um homem sem desejos, 
 sem liberdade de desejo e de escolha, 
 senão uma peça num órgão?” 

 Fiodor Dostoievski, in "Cadernos do Subterrâneo", 1873. 


Não é difícil falar de si quando não há disfarces. A questão é saber se tem alguém em algum lugar de nossa infinita, porém finita, galáxia que queira nos escutar. Muitos são os que negam, mas, a verdade é que o ser humano é egoísta demais para ser plural. Na hora em que o sapato aperta, eu sou singular. Não sigo mais do teu lado. Vou é cuidar de meu calo! Infelizmente. Assim, vivemos sós mesmo com uma lista imensa de amigos. Acontece que sou teimosa de natureza ariana (embora a astrologia não me convença). E falante. E escritora de letreiros. Eu não pedi pra nascer. Todo mundo já gritou isso pelo menos uma vez na vida. Comigo deve ter sido assim também. O fato é que estou viva e jamais questionei a razão de eu ser quem sou, de ser como sou, de ter nascido na família tal, morar no bairro tal, falar língua tal. Nunca questionei minhas alegrias nem tristezas. Sempre fui do time das análises, desde criança. Se havia algo errado, pensava sobre o fato e procurava resolver o problema do meu jeito. Muitas vezes, limitado e incapaz. Quando eu me olho no espelho ele não denuncia a idade que eu tenho. O que ele mostra são marcas do quanto amei e do tanto de felicidade que senti. Bem como mostra marcas do quanto sofri e do quanto chorei. Espelhos me mostram o quanto eu vivi. Espelhos me mostram que vivo. Lamento se meu modo de vida não agrada a todos. Lamento se sou pouco para todos e tudo que me cerca. Lamento. Só. Continuo vivendo. Do meu jeito, porém, me abrindo ou me moldando, sempre que possível, ao que esperam de mim. Tento sempre ser plural. Mas não me esqueço de mim. Apenas não espero muito do mundo. Talvez, por isso, alguns me estranhem. Não me preocupo mais em descobrir se o que sou me veio por escolha ou imposição. Não faço nada de forma obrigatória. Além do mais tudo na vida é escolha. Inclusive, não escolher. O comportamento humano é um complexo de escolhas que fazemos de forma proposital e dirigidas a satisfazer necessidades básicas que temos. Aquele que não pode escolher não tem vida (própria). Eu vivo! Eu desejo! Eu uso a minha liberdade de escolha! Escolhas não são fáceis. Sempre trazem consequências. Melhores ou piores. Maiores ou menores. Escolhas são, na maioria das vezes, pesadas. No entanto, é verdade que a certa idade, atingimos certo grau de maturidade que nos deixa mais livres e tudo fica mais leve. Eu estou assim: Livre, leve, eclética.


Image by Katosu on DeviantArt.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Parrhesia

ao ver-me no reflexo 
d’água empoçada 
na calçada
percebo que 
ando do mesmo jeito 
sem jeito 
sujeito inquieto
abstrato
insensato
estupefato 
calças largadas
joguem os dados
- outra vez -
continuo no jogo 


Image by Herod on Deviantart.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Cozinha social



Enquanto pessoas se preocupam com a fome e a pobreza no mundo, com questões ambientais, com o que fazem os governantes do nosso país, com a política dos generais mundiais, com um doente em casa, com aquilo em que pais estão transformando filhos, na educação que devemos ter nas escolas, em dar um abraço ou ouvir a voz de alguém, e até com o que disse Jesus, quando aqui esteve, eu conversava com o meu marido na cozinha. Eu disse a ele que éramos jovens. Ele me interrompe com voz e olhar firmes: “– Eu sou um homem adulto.” Eu ri alto e gostoso. Porém, contudo, todavia, entretanto, entendi o que ele falou. Somos adultos, sim. Essa consciência nos diz que não temos tempo a perder com amenidades. Só temos tempo para o que importa. Temos uma mala cheia de coisas importantes com o que nos preocupar e entreter, principalmente. A conversa seguiu e eu só me lembro de ter dito que somos adultos, mas, que ainda temos arte a fazer. Aquela conversa, mais uma entre tantas de todo tempo, ficou em meu pensamento. Enquanto isso, em outra social, a rede, eu troco palavras com uma velha amiga e dou de cara com outra Maria, a Betânia. Ligo os pontos. Estamos na idade da arte. A arte de viver. Mulheres e homens adultos ainda podem e devem namorar, correr na chuva para se molhar, torcer pelo seu time pela TV como se no estádio estivesse, tomar sorvete a qualquer hora do dia ou da noite, sentar nos degraus de uma escada para admirar a lua, ver o sol nascer da janela do seu quarto e ganhar o dia, conversar com bichinhos, passar horas no vídeo game para compensar o que não pôde ser feito antes, chegar até a beira mar e esperar a água bater nos pés, sentar em um balanço em praça pública e em pleno sol do meio-dia para balançar bem alto ou comer besteira quando der vontade. Mulheres e homens adultos podem viver. Viver com arte. Viver em arte. Afinal, nos sobra todo o tempo do mundo. Porque o relógio para quando somos nós.

Aos dois Palmeiras da vida minha:

O marido, pela vida em arte que me proporciona.
E o Time, pela arte da vitória contra o Grêmio em 13/06/12.


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=DCHANKLFR-s#!


 Image by Anhdres on Deviantart