Avenida principal, tarde de domingo incomum dentro do comum da cidade. Um estranho me parou com uma conversa esquisita sobre as dez coisas que eu odiava no mundo. Não soube responder. De santa, eu só tenho o nome. Mas não odeio ninguém nem nada. Por que não me perguntara aquele ser bizarro, de tão esguio que era, vestindo preto e azul sobre coisas que não gosto? Poderia escrever Lusíadas dessas coisas.
- Não gosto de arroz – é a primeira coisa em que penso.
- Não gosto de intelectuais de versos ornados – faço tapetes com seus versos.
- Não gosto do cheiro do cigarro no banheiro pós décima quinta tentativa do marido em deixar de fumar – uma gota de Light Blue em cada canto do banheiro.
- Não gosto de esperar por quem esquece aquele que fica – solto meus cães farejadores na cidade.
- Não gosto de quem maltrata animais – somos, também, animais.
- Não gosto de quem desrespeita a natureza – quem não cuida de sua casa não merece crédito.
- Não gosto de vinho barato – já tomei ambrosia.
- Não gosto de me ocupar de você – o mundo é grande, a vida curta.
- Não gosto de ver sexo por trás das cortinas – sexo só é bom quando se está nele.
- Não gosto da mentira à minha porta – vasculho lixo antes de jogá-lo fora.
Lista grande. No entanto, eu não gosto mesmo é de ter do que não gostar. Queria ser a favor de todos os ventos. Mas não estou só mesmo estando. Há um tanto de fel entre coisas e pessoas que me cercam.
Zélia
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