domingo, 29 de agosto de 2010

Desnecessário






A minha janela não tem flor
Todas as sementes lançadas
Não vingaram





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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Portador de consciência

Ao atirar-me pela janela abarco o mundo todo com as mãos. É lá fora, no mundo, que posso usar dos personagens que alimento. É quando posso ser contente para me juntar aos que riem. É quando posso chorar para dividir a dor com aqueles que a sentem. É quando posso ser General de guerra para combater o mal. É quando posso ser professor e te ensinar a dar nó em pingo d’água. É quando posso ser bruxa e te dar a maçã envenenada. É quando posso ser cantor e te cantar uma canção. É quando posso ser poeta e te declamar meus versos desalinhados. É quando posso ser astronauta e te levar para catar estrelas. É quando posso ser cientista e descobrir a cura do teu mal. É quando posso ser chato e te dizer para não fazer o que queres. É quando posso ser tua mãe e te botar de castigo. É quando posso ser Cérbero e não te deixar sair do inferno que nos rodeia. É quando posso ser deus e te recriar. Ao jogar-me de volta ao meu quarto, eu sou apenas eu. Sacola de virtudes e defeitos, flor de Narciso sem todas as pétalas, mulher e mãe de todos os filhos, escritora sem par, caçadora que devolve borboletas ao ar. Simplesmente eu e não quem você quer que eu seja.
 



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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Primera Persona

“Apetite e sexo são os grandes motores da história, preservam e propagam a espécie,
provocam guerras e canções (...)”.

Isabel Allende in: Afrodita


Eu. Tudo que há dentro e fora de mim faz de mim quem sou. Não posso ser só. Sou plural. Sou um aglomerado de sentimentos, ideias, pessoas e coisas. Sou também um monte de órgãos, ossos, peles e gorduras. Eu. Não me tomes por outra. Sou quem sou. Inteira. Embora, às vezes, em partes. Fome parte de mim. Sinto fome de doces, especialmente. Doces que salgam e adoçam a boca. Sinto fome de você, unicamente. Meu sexo oposto. Você que me afoga em amor de cama. Sexo é desejo é fome. O doce me preserva a vida. Você não propaga a minha espécie. Eu sigo. Brigo por um doce. Brigo por você. Faço louvor ao doce. Faço louvor a você. As canções, ouço de ti. Vou aqui e allende. Volto. Me vejo eu, outra vez. Sou doce. Sou você. Como e me farto enfarto. Sobrevivo vivo eu. Alquimista de cozinha e cama. Eu.





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domingo, 8 de agosto de 2010

Ímpares




Capítulo 1

Nunca sou perfeita. Às vezes, sou egoísta como agora - falo em primeira pessoa. Em todos os momentos, sou única. Esta unicidade torna-me solitária e incompreendida. Talvez, eu não queira estar junto, talvez, eu não queira ser compreendida. Na solidão, não estamos realmente sós. Há fantasmas, pensamentos e desejos rodeando o casarão assombrado que somos. A compreensão do outro me é incompleta. Ele me entende como quer. Tomo um chá, como uma torrada, abro uma bala de menta. Tudo no singular.

Capítulo 3

Números ímpares não fazem par. Por isso, não vivo em pares. Não há outra parte de mim. Apenas eu. Mesmo o espelho não me dá outro eu. Sou eu só. Tudo que me rodeia é inanimado ou não me completa. Nem pudera. O caso não é de completude. Sou inteira. O caso é de companhia. 1 + 1 = 2. Mas não. Um mais um é só um. Fim.

Capítulo N

Para não fazer par. Isso não é um lamento. Apenas uma constatação e uma afirmação. Tudo 1. Tudo singular. Hoje quero estar só. Assim, não formo par. Quero ser eu e apenas eu. Sem você, sem luz, sem música, sem livro, sem roupa. Deitada em minha cama de braços e pernas abertas a espera de mim. De quem vai me ser tudo. Há borboletas saindo de casulos em meu teto. Não ousarei contá-las. Prefiro acreditar que elas não sairão em pares...


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