domingo, 30 de dezembro de 2012

Unha de Deus

Perdoe-me, padre, porque eu pequei. Subestimei meu inimigo. Fui avisada do quanto ele era poderoso, mesmo assim, julguei-me mais experta que ele. Caí. Queda alta. Desde então, passo os dias a juntar pedaços do que sobrou de mim. Pedaços do que éramos eu e ele. Eu não era apenas eu quando estava com ele. Eu era um eu + ele = nós. Eu era inteira. Agora sou pedaços. Pedaços que (se) partiram. Mas, pensando bem eu não deveria me sentir menos. Partida eu sou mais. Toda quebra implica em liberdade. Deixamos de ser um todo preso para sermos partes livres de amarras. Em pedaços posso correr solta, posso correr mundos, posso correr mais, posso correr múltipla. Prefiro-me assim despedaçada. Tão bom... Sinto não ter percebido isso antes. Não tinha olhos nem ouvidos até vir aqui. Foi o som que me levou à imagem da unha de Deus batendo ritmicamente em madeira de Lei que me devolveu olhos para ver e ouvidos para ouvir. Perdoe-me, padre, porque eu pequei.


Imagem: http://www.behance.net/

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Palavra ser.

O sopro a poeira tira.




Quisera poder
Toda palavra ser
Para não te ver fugir.
Sentir teu corpo,
Teu perfume,
Teu fogo,
Teu grito,
Olhos cerrados.
Depois do suspiro,
Ver teu sorriso.
E do teu coração,
Ouvir só o que se pode:
O Tum Tum Tummmmm
Acelerado e flamejante
Como somente
No momento em que
Te entregas por inteiro
Ao deleite da leitura.





Imagem da internet.

sábado, 8 de setembro de 2012

Desejo


sabe aquela casinha
de beira de estrada?
rosa fugidio em cima
da taipa,
uma porta e
uma janela,
crianças brincando
na frente?
paraíso a céu
aberto

sábado, 21 de julho de 2012

Eclética 4.0

“O que é um homem sem desejos, 
 sem liberdade de desejo e de escolha, 
 senão uma peça num órgão?” 

 Fiodor Dostoievski, in "Cadernos do Subterrâneo", 1873. 


Não é difícil falar de si quando não há disfarces. A questão é saber se tem alguém em algum lugar de nossa infinita, porém finita, galáxia que queira nos escutar. Muitos são os que negam, mas, a verdade é que o ser humano é egoísta demais para ser plural. Na hora em que o sapato aperta, eu sou singular. Não sigo mais do teu lado. Vou é cuidar de meu calo! Infelizmente. Assim, vivemos sós mesmo com uma lista imensa de amigos. Acontece que sou teimosa de natureza ariana (embora a astrologia não me convença). E falante. E escritora de letreiros. Eu não pedi pra nascer. Todo mundo já gritou isso pelo menos uma vez na vida. Comigo deve ter sido assim também. O fato é que estou viva e jamais questionei a razão de eu ser quem sou, de ser como sou, de ter nascido na família tal, morar no bairro tal, falar língua tal. Nunca questionei minhas alegrias nem tristezas. Sempre fui do time das análises, desde criança. Se havia algo errado, pensava sobre o fato e procurava resolver o problema do meu jeito. Muitas vezes, limitado e incapaz. Quando eu me olho no espelho ele não denuncia a idade que eu tenho. O que ele mostra são marcas do quanto amei e do tanto de felicidade que senti. Bem como mostra marcas do quanto sofri e do quanto chorei. Espelhos me mostram o quanto eu vivi. Espelhos me mostram que vivo. Lamento se meu modo de vida não agrada a todos. Lamento se sou pouco para todos e tudo que me cerca. Lamento. Só. Continuo vivendo. Do meu jeito, porém, me abrindo ou me moldando, sempre que possível, ao que esperam de mim. Tento sempre ser plural. Mas não me esqueço de mim. Apenas não espero muito do mundo. Talvez, por isso, alguns me estranhem. Não me preocupo mais em descobrir se o que sou me veio por escolha ou imposição. Não faço nada de forma obrigatória. Além do mais tudo na vida é escolha. Inclusive, não escolher. O comportamento humano é um complexo de escolhas que fazemos de forma proposital e dirigidas a satisfazer necessidades básicas que temos. Aquele que não pode escolher não tem vida (própria). Eu vivo! Eu desejo! Eu uso a minha liberdade de escolha! Escolhas não são fáceis. Sempre trazem consequências. Melhores ou piores. Maiores ou menores. Escolhas são, na maioria das vezes, pesadas. No entanto, é verdade que a certa idade, atingimos certo grau de maturidade que nos deixa mais livres e tudo fica mais leve. Eu estou assim: Livre, leve, eclética.


Image by Katosu on DeviantArt.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Parrhesia

ao ver-me no reflexo 
d’água empoçada 
na calçada
percebo que 
ando do mesmo jeito 
sem jeito 
sujeito inquieto
abstrato
insensato
estupefato 
calças largadas
joguem os dados
- outra vez -
continuo no jogo 


Image by Herod on Deviantart.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Cozinha social



Enquanto pessoas se preocupam com a fome e a pobreza no mundo, com questões ambientais, com o que fazem os governantes do nosso país, com a política dos generais mundiais, com um doente em casa, com aquilo em que pais estão transformando filhos, na educação que devemos ter nas escolas, em dar um abraço ou ouvir a voz de alguém, e até com o que disse Jesus, quando aqui esteve, eu conversava com o meu marido na cozinha. Eu disse a ele que éramos jovens. Ele me interrompe com voz e olhar firmes: “– Eu sou um homem adulto.” Eu ri alto e gostoso. Porém, contudo, todavia, entretanto, entendi o que ele falou. Somos adultos, sim. Essa consciência nos diz que não temos tempo a perder com amenidades. Só temos tempo para o que importa. Temos uma mala cheia de coisas importantes com o que nos preocupar e entreter, principalmente. A conversa seguiu e eu só me lembro de ter dito que somos adultos, mas, que ainda temos arte a fazer. Aquela conversa, mais uma entre tantas de todo tempo, ficou em meu pensamento. Enquanto isso, em outra social, a rede, eu troco palavras com uma velha amiga e dou de cara com outra Maria, a Betânia. Ligo os pontos. Estamos na idade da arte. A arte de viver. Mulheres e homens adultos ainda podem e devem namorar, correr na chuva para se molhar, torcer pelo seu time pela TV como se no estádio estivesse, tomar sorvete a qualquer hora do dia ou da noite, sentar nos degraus de uma escada para admirar a lua, ver o sol nascer da janela do seu quarto e ganhar o dia, conversar com bichinhos, passar horas no vídeo game para compensar o que não pôde ser feito antes, chegar até a beira mar e esperar a água bater nos pés, sentar em um balanço em praça pública e em pleno sol do meio-dia para balançar bem alto ou comer besteira quando der vontade. Mulheres e homens adultos podem viver. Viver com arte. Viver em arte. Afinal, nos sobra todo o tempo do mundo. Porque o relógio para quando somos nós.

Aos dois Palmeiras da vida minha:

O marido, pela vida em arte que me proporciona.
E o Time, pela arte da vitória contra o Grêmio em 13/06/12.


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=DCHANKLFR-s#!


 Image by Anhdres on Deviantart

domingo, 3 de junho de 2012

Amélia Desperta



“Amelhinha, sabe que hora é?” Sei não, senhora. Em minha casa não tem relógio. Coisa de meu marido pra eu não saber a hora de começar e terminar minha odisseia doméstica. Bonito, não?! Odisseia doméstica. Vi na televisão. Quer dizer o que a gente já sabe. Trabalho de casa que não termina nunca. Reconheço quando o sol nasce e quando a lua desponta no céu. Só. Se bem que isso não faz diferença no papel que me foi imposto quando casei. Herança de minha madrinha que me criou moça direita e prendada e, assim, me apresentou àquele a quem eu deveria servir em troca de sustento e de quem me representasse legalmente. Não loura - como naquele filme - porque sou morena. De pele cor de canela como a Gabriela. Só não subi escada de vestido até hoje para não apanhar dele no meio da rua. Benedito faz questão de mostrar que é macho valente e dono do que é seu. Outro dia, ele disse na birosca do Antunes que só se casou comigo porque eu me chamava Amélia. Igual àquela mulher da música que eu não sei quem canta. E disse mais! Disse que não foi porque eu era gostosa, não! Mulher gostosa ele acha em toda esquina. Améeeeelia, não. Amélia é mulher de verdade. Mulher que lava, passa, arruma casa, faz feira, conserta coisa quebrada, aguenta marido bêbado, leva uns safanões de vez em muito em quando, não tem vaidade nenhuma e está sempre pronta para servir ao marido na cama. Olheeee dona Josefa!!! Quando Maria do cajueiro veio me dizer que aquele traste tinha dito essas asneiras, eu subi nas tamancas. Mas será o Benedito?! Ainda bem que madrinha já partiu dessa pra melhor. Pensei logo: é hoje que eu boto esse cachorro pra correr. Ele mal trabalha, bebe até cair, vive as minhas custas e na casa que me foi dada por madrinha Léo. Nunca me deu nada. Não sabe nem o dia do meu aniversário. O único presente que ele me dá é chifre. Posso até vender na feira se eu quiser. Mas, agora, chega! Só tenho mesmo é nome de Amélia. Até tentei ser uma dona de casa como as de antigamente. Acontece que estou cansada. Não dá pra mim. Vem cá. Chamei ele assim no cantinho da cozinha. Essa Amélia com quem tu queria ter casado, trabalhava fora? Tinha filhos? Bichos em casa? Servia bem ao marido? Sim, porque disso eu me orgulho. Faço o serviço de casa bem direitinho. E, principalmente, o de cama. Nos conformes. Você é que dá pra trás vez ou outra. E vaidosa?! Quem foi que disse que eu não tenho vaidade? Tô sempre bem apanhada, meu filho. Você é que não vê. Tem um monte de homem que me enxerga na rua. Pois, fique sabendo que a era do seu reinado acabou. Junte seus troços e desapareça da minha frente. De agora em diante serei Amélia de sobrenome Desperta. Só vou cuidar de quem cuidar de mim. E já vou avisando a vizinhança toda: num estranhem, não! Os móveis vão ficar empoeirados, a casa com teias de aranha, o chão melado e a roupa suja e sem passar. Tô de férias disso tudo por um tempo. Inclusive de homem. E de mulher também! Que não gosto dessas coisas. Vou viajar pra dentro de mim. Me olhar no espelho e me admirar. Respirar e sentir que estou inteira outra vez. Vou viver. E do meu jeito! Porque só quem sabe de mim sou eu mesma. 

Image by Sketch on Deviantart.

domingo, 13 de maio de 2012

Café com gosto de chá

Sempre há quem se ocupe em tolher a liberdade alheia. A alegação e os motivos que dizem existir para isso são os mais variados. Por exemplo, há quem diga que quem não tem filhos não pode falar de filhos e, muito menos, de mães. De mães ninguém deve falar nunca: “Mãe é mãe” e pronto!

 Eu discordo. Eu insisto. O que é uma Mãe? Mãe não é tudo igual. Mãe tem representação única. A minha, tenho certeza, não é igual a sua. Assim como a sua não é igual a minha – salvo algumas paranoias que são peculiares a qualquer mulher que decida criar filhos. Será, então, a condição de gerar um filho suficiente para transformar uma mulher em Mãe? Claro, claro que não! Deveria ser, mas, não é. Se assim fosse não haveria crianças abandonadas, mães maldizendo seus filhos ou fazendo deles um tipo de título de capitalização, entre outras coisinhas.

Eu brinco dizendo que sou mãe de filhos de quatro patas. Brinco. Não comparo. Não sou insensível ao ponto de comparar o ato de cuidar de bichinhos de estimação com um dos atos mais sublimes (talvez, o mais) dados a uma mulher: o de formar gente. Não apenas dentro de seu útero, mas, o de formar gente para a Vida. Eu me refiro aos meus bichinhos como mãe porque eu só acredito em um mundo melhor quando as pessoas começarem a tratar a Natureza com a dignidade que ela merece. Isso vale para animais irracionais (?) – meu filhote de quatro patas mais novo me interrompe agora. Choraminga pedindo comida. - , rios, mares, plantas, terra e céu. Afinal, tudo isso foi criado, por Deus, antes d’Ele criar o próprio homem. Ah! Também brinco de ser mãe para ganhar presente da escola na qual eu trabalho. Coisa de criança. Quem sabe?! Se não sou Mãe, sou apenas, filha. E... filho todo mundo sabe como é. Todo mundo já nasce filho.

 Lamento o fato de haver filhos sem Mães e Mães sem filhos. Lamento haver só um dia das Mães – Não! Dia das Mães não é todo dia. Esquecemos-nos de nossas Mães vários e vários dias do ano. Lamento pelo mundo não ser colorido o suficiente para que Mães não esqueçam de que vivem em um paraíso (embora real). Lamento pelas Mães que ficaram e pelos filhos que se foram. Lamento pelas Mães que se foram e pelos filhos que ficaram. E nada mais de lamentos!

Disseram que hoje é dia das mães. Que elas sejam felizes. Sem esquecer que felicidade se tem com a consciência tranquila. Portanto, que hoje, seja o dia da consciência tranquila. Feliz dia da consciência tranquila a todas as Mães de VERDADE que eu conheço!

 Feliz dia das mães a quem, por teimosia, talvez, desempenhe esse papel. Seja sendo mãe de filho, mãe de mãe, mãe de pai, mãe de aluno, mãe de irmão, mãe de amigo, mãe de filho dos outros e até mesmo as mães de filhos de quatro patas. Embora isso tudo deixe na boca café com gosto de chá. 


domingo, 22 de abril de 2012

Ouro de tolo

Moeda barata essa tal de verdade. Havendo mais mistérios entre céu e terra, não posso dizer que tudo sei. Fácil seria dizer que de nada sei. Mas não é assim. Sei o que sei e sei o que não sei. Basta! Conheço a verdade do que foi feito de mim. Assim como tão bem conheço a verdade que tanto te esforças para pintar.

Image by Ferruh on DeviantArt

sexta-feira, 23 de março de 2012

Olhos Fechados


Escondo os desejos de você
Pois eles me lavam ao escurecer
Encontro no escuro o que me faz viver
Existo e desejo e preciso e pergunto por quê...

Quando vem o Sol
E mostra o que tem que se ver
O certo marfim que estraçalha visões
E negado a bilhões

Me rasgo na luz e me encanto ao saber
Que em portas estreitas não cabe o prazer
Nas largas passagens mais doces me afogo em viver
Que venha o delírio do nada tão sacro e tão meu

quarta-feira, 21 de março de 2012

Onde os melhores são de fato os melhores


Em todas as áreas de atuação profissional existem aqueles que se destacam e ocupam os primeiros lugares da cadeia evolutiva do sistema do capital. Fato é que, não necessariamente, eles são realmente os melhores.
Não podemos dizer que a Câmara Federal, por exemplo, tem os melhores políticos do Brasil. Não é necessário o mínimo esforço para provar isso.
Não se pode afirmar que os melhores médicos ocupam cargos de destaque na saúde nacional, uma vez que muitos não fazem justiça ao juramento hipocrático, preocupando-se, em muitos casos, com o “vil metal” antes da vida de um ser humano. E a saúde no Brasil é o que todos sabemos que é.
Se prestarmos atenção à quantidade de injustiças que ocorrem no nosso país, acredito que chegaremos à conclusão de que não temos os melhores magistrados no comando do nosso sistema jurídico. Trata-se de meros mantenedores do status quo que, apesar de terem poder para diminuir a distância entre injustiçados e privilegiados, não o fazem por serem também alimentados por essa injustiça, quando não são frutos dela.
No esporte, contudo, é muito difícil, para não dizer impossível, vermos alguém chegar ao topo sem méritos reais.
Ayrton Senna, Maradona, Michael Jordan entre outros, não poderiam ter o reconhecimento que têm em suas áreas se não tivessem sido bons de verdade.
Hoje, o mundo do esporte presencia a plenitude de um assombroso fenômeno chamado Lionel Messi. O melhor naquilo que faz e que, se precisa provar isso, fá-lo todas as vezes que entra em campo.
Messi é hoje o melhor jogador de futebol do mundo. Claro que o fato de jogar no melhor time do planeta, o Barcelona, e de ter recebido atenção especial desde cedo são requisitos essenciais para ter chegado aonde chegou. Mas, se não fosse o melhor de verdade, não se manteria lá, como acontece em todas as áreas que citei e em outras que não merecem destaque nesse momento.
Isso acontece porque no esporte os melhores são testados a todo o momento. Não basta atingir uma posição de destaque e locupletar-se sem a preocupação de fazer um trabalho digno do melhor. Quando isso ocorre, quando o esportista não mais corresponde à condição de ser o melhor de fato, o seu direito é imediatamente transferido a outro. Lembrem-se, por exemplo, de Adriano, Ronaldo, Ronaldinho e tantos outros que foram depostos de seus lugares de destaque porque não mais o mereciam.Isso acontecerá também com Messi.É o ciclo natural que não se reproduz em outros setores do sistema capitalista brasileiro.
Tenho total convicção de que o Brasil seria um país bem melhor se essa lógica fosse aplicada a todas as áreas de atuação profissional. No esporte, só os melhores chegam ao topo e só permanecem se forem, de fato e de direito, os melhores.
Haja saúde.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Frutos de maracujá

 À minha amiga Silvana Heath.
(Aquela que divide Gabriel comigo e 
mulher que gosta de sementes, flores e frutos)


O que antes eram flores indica que se faz tempo de colheita. Enquanto apanho enormes e belos maracujás amarelos, eu epifanizo. O Senhor Tempo me mostra que todo tempo é tempo de colheita. Cinco segundos e todo o filme de minha vida. Sempre fiz o papel de colhedora. Colho e acolho frutos até das sementes que não plantei. As sementes, por mim, plantadas me dão frutos esperados. Sejam bons ou ruins. Quase não há surpresas. Das sementes que não plantei é que me vêm os melhores frutos e as maiores surpresas. Sejam boas ou ruins, devo dizer. Ter o melhor fruto em mãos não significa dizer gosto adocicado na boca. Há frutos que são desejados exatamente por ter um sabor mais exótico, digamos assim. Aquelas flores das ramas de maracujá das quais falei outro dia e que, agora, me ligam a casa de minha vizinha se transformaram nos mais belos e cheirosos frutos de maracujá que já vi. No entanto, eles continuam deixando gosto amargo em minha boca. Continuo não gostando de maracujá. Mesmo assim, provo desse doce veneno. Mas, começo a trabalhar o meu paladar e estômago para o sabor do que chamo, então, meus maracujás. Há que se enfrentar o novo, o diferente, o estranho, o bom e o ruim. É assim que a vida se faz. Os tais maracujás enfeitam o meu quintal e tornaram-se minha escolha. Entraram sem bater. Sem querer, deixei-os ficar. Minha natureza acolhe frutos. Arco com as consequências. O meu quintal está repleto, também, de folhas secas de maracujá. Mosquitos são atraídos pelo aroma do maracujá. Isso me incomoda. Deixo passar. Há quem seja fascinado por maracujás em minha casa. Por isso, eu os colho com prazer e preparo as sobremesas mais saborosas e os sucos mais refrescantes com eles. Imagino eu. Porque não como, nem tomo (ainda) nada que leve maracujá. O prazer de dar alegria a quem amo é que move minh’alma. Sorrisos me chegam quando preparo qualquer coisa com maracujás em minha casa. Igualmente, sorrisos me chegam quando compartilho de meus maracujás com amigos e familiares. Um sorriso aqui outro ali, pessoas mais felizes, um mundo mais feliz - nem que seja até o sabor do maracujá fugir das bocas que os provam. Estou assim colhedora e acolhedora desde que me fiz entender gente. Colher e acolher frutos foi o que sempre fiz. Isso não é uma atividade restrita ao meu quintal. Do lado de fora da minha casa, continuo colhendo frutos. Frutos belos, de cheiro que aguça meus sentidos, de sabor que me agrada o paladar e que me dão as maiores alegrias de minha vida. Contudo, não vou mentir. “Não sou perfeito”, disse o poeta. Eu também não. Às vezes, eu erro a mão, outras os frutos decidem por si só o que fazer. Assim, o doce se torna amargo. Me assusta o resultado. Eu vivo tanto que me assusto por muitas e muitas vezes. Insisto em viver assim mesmo. Se é questão de escolha própria ou se fui levada a fazer certas escolhas, não importa. No final, a decisão sempre foi minha. Faço o que quero. Sou imensamente feliz por colher frutos de sementes que plantei. Sou imensamente feliz por colher frutos de sementes que foram plantadas em meu quintal. Assim como sou, também, imensamente feliz por colher frutos de sementes que não foram plantadas em meu ventre. No final das contas, a vida faz de mim a mãe sem filhos mais feliz de todos os tempos. 


quinta-feira, 8 de março de 2012

Eu não sou


Em muitos momentos da minha vida eu gostaria de ter sido aquele personagem gostosão que se veem aos montes no cinema e na televisão: descolado, conquistador, bonitão, gente fina, o que sempre acerta ou o que, quando erra, consegue virar o jogo. Durante muito tempo, acho que dos 21 aos 35 anos, mais ou menos, eu achei que fosse essa figura. Hoje é só uma imagem que eu queria que fosse eu. Mas não é.
Conheci muitas pessoas que se enquadram nesse perfil e quando as encontrava as invejava com todas as forças e fraquezas do meu espírito. Hoje eu as entendo, apenas. Talvez ainda as inveje, mas não é nada que consuma meus dias. Agora meus dias são consumidos pela dúvida e pelo medo. No meu principal texto, musicado pelo Na Cabeça do Tempo, eu me descrevo como “um monstro de luxúria e medo”. Não existe definição melhor para mim. Tenho medo de muitas coisas e sou fraco. Não resisto a pressões e não consigo vencer o meu maior inimigo que sou eu mesmo. Também não sei se isso é um problema ou uma solução.
Tenho ainda muito orgulho de mim pelo fato de estar sempre tentando corrigir os muitos defeitos da minha constituição subjetiva. Eu sei que todos têm defeitos, mas também sei que só quem sabe o que é conviver comigo sou eu. Talvez um psicanalista ao ler esse texto possa descrever um perfil da minha personalidade ou descobrir alguma patologia, mas isso não chega nem perto de saber quem eu sou ou quem eu não sou.
Todavia, não é por ser esse ser humano perturbado que eu não seja feliz. Cometi muito mais erros do que eu gostaria de admitir e perdi todas as chances possíveis de ter uma vida economicamente estável. Mas cometi o maior acerto de todos que foi escolher a companheira ideal para a minha vida de fraquezas e divagações. Alguém que me ama apesar de mim. Tenho certeza de que isso fez muita diferença.
Para que não se diga que são só fugas, posso dizer que pelo menos eu enfrento o medo do jeito que consigo. Se venço ou perco é só detalhe. Pobre homem feito de sangue e carne como todos os outros.
Não sou o personagem gostosão do cinema, não sou o vencedor. Sou o homem que ama, vive e luta apesar de ter tanto medo da derrota que tem um medo ainda maior de tentar a vitória. Mas tenta!
Quanto à luxúria, é outra história. No próximo eu conto.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ES - PA - ÇOS

Sala – Sofá – Quarto – Cama – Banheiro – Privada – Cozinha – Geladeira – Quintal – Varal – Pessoa – Coração – Livro – Página – Canto – Vazio.


Image by Seed on DeviantArt.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Summertime is in bloom!!!

Estava ouvindo uma música do Midnight Oil chamada Surf’s up tonight. Há um trecho em que a letra diz que há um lugar onde você pode jogar as coisas ruins fora. A letra fala do mar, sobre surfar e coisas assim. Aí ela fala que nesse lugar você pode ficar alto e então você sente que está vivo. Ou seja, subir na onda surfando, ficar alto, por aí. Só que quando ela fala em ficar alto eu só penso na elevação da embriaguez. Abro uma latinha que se tornam quatro, fumo um cigarro que viram quatro e o monstro de luxúria e medo está vivo novamente. Holly shit!!!


 Foto de acervo particular.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O leão branco e a minha consciência turva





Três colheres de açúcar para adoçar o café. Sem parar penso que estou usando mais açúcar e tomando mais café. Misturado o açúcar, o café desce goela abaixo enquanto eu não me importo com quilos extras e ansiedade exacerbada. Dias de tempos incomuns. Minha cabeça me lembra de algo como afazeres domésticos a realizar, contas a pagar e tarefa escolar a preparar. Pego este pensamento maligno, amasso e jogo fora como folha de papel que perdeu a serventia. A lembrança de minha determinação em reciclar papel sequer passa pela minha cabeça. Quero é deitar na relva e me rebelar. Esqueço, por um momento, que paro, penso, peso, pondero. Volta o pensamento. Afasto o pensamento. Devo ter enlouquecido de vez. Talvez esteja assumindo minha psicopatia há tanto abafada por meu comportamento que faz de mim prisioneira de mim mesma. Eis que me aparece um leão. Não é um leão comum. É um leão branco fugido do grupo dos únicos trezentos leões brancos existentes no mundo. Não! Nada é parecido com um filme. O leão é de verdade e grande. Muito grande. Pelo branco como a neve e olhos, de tão acinzentados, opacos. Ele para diante de mim. Sua beleza é inebriante. Nossos olhares se fixam. Não sei o que ele pensa. Quanto a mim, meu desejo é agarrá-lo e fazer dele meu bichinho de pelúcia. Par perfeito para o meu dia na relva. Dou o primeiro passo. Depois, o segundo. Um instante. O leão não é um de meus animais de estimação. O leão é um animal selvagem e feroz do qual se deve manter distancia. Um segundo. Corro ao encontro daquele leão branco chumaço de algodão. Agarro-me com ele. Ficamos os dois rolando na relva e o mundo acaba antes de 21 de dezembro de 2012. 





Image by MinnemannE on DeviantArt





De volta ao lar, FELIZ 2012!