Em muitos momentos da minha vida eu gostaria de ter sido aquele personagem gostosão que se veem aos montes no cinema e na televisão: descolado, conquistador, bonitão, gente fina, o que sempre acerta ou o que, quando erra, consegue virar o jogo. Durante muito tempo, acho que dos 21 aos 35 anos, mais ou menos, eu achei que fosse essa figura. Hoje é só uma imagem que eu queria que fosse eu. Mas não é.
Conheci muitas pessoas que se enquadram nesse perfil e quando as encontrava as invejava com todas as forças e fraquezas do meu espírito. Hoje eu as entendo, apenas. Talvez ainda as inveje, mas não é nada que consuma meus dias. Agora meus dias são consumidos pela dúvida e pelo medo. No meu principal texto, musicado pelo Na Cabeça do Tempo, eu me descrevo como “um monstro de luxúria e medo”. Não existe definição melhor para mim. Tenho medo de muitas coisas e sou fraco. Não resisto a pressões e não consigo vencer o meu maior inimigo que sou eu mesmo. Também não sei se isso é um problema ou uma solução.
Tenho ainda muito orgulho de mim pelo fato de estar sempre tentando corrigir os muitos defeitos da minha constituição subjetiva. Eu sei que todos têm defeitos, mas também sei que só quem sabe o que é conviver comigo sou eu. Talvez um psicanalista ao ler esse texto possa descrever um perfil da minha personalidade ou descobrir alguma patologia, mas isso não chega nem perto de saber quem eu sou ou quem eu não sou.
Todavia, não é por ser esse ser humano perturbado que eu não seja feliz. Cometi muito mais erros do que eu gostaria de admitir e perdi todas as chances possíveis de ter uma vida economicamente estável. Mas cometi o maior acerto de todos que foi escolher a companheira ideal para a minha vida de fraquezas e divagações. Alguém que me ama apesar de mim. Tenho certeza de que isso fez muita diferença.
Para que não se diga que são só fugas, posso dizer que pelo menos eu enfrento o medo do jeito que consigo. Se venço ou perco é só detalhe. Pobre homem feito de sangue e carne como todos os outros.
Não sou o personagem gostosão do cinema, não sou o vencedor. Sou o homem que ama, vive e luta apesar de ter tanto medo da derrota que tem um medo ainda maior de tentar a vitória. Mas tenta!
Quanto à luxúria, é outra história. No próximo eu conto.