Ao reinventar minha vida, tudo igual. Um pouco mais de ervas aqui e ali e só. Com uma caixa de lápis nas mãos, pinto o arco-íris que quiser.
sexta-feira, 23 de março de 2012
Olhos Fechados
Escondo os desejos de você
Pois eles me lavam ao escurecer
Encontro no escuro o que me faz viver
Existo e desejo e preciso e pergunto por quê...
Quando vem o Sol
E mostra o que tem que se ver
O certo marfim que estraçalha visões
E negado a bilhões
Me rasgo na luz e me encanto ao saber
Que em portas estreitas não cabe o prazer
Nas largas passagens mais doces me afogo em viver
Que venha o delírio do nada tão sacro e tão meu
quarta-feira, 21 de março de 2012
Onde os melhores são de fato os melhores
Em todas as áreas de atuação profissional existem aqueles que se destacam e ocupam os primeiros lugares da cadeia evolutiva do sistema do capital. Fato é que, não necessariamente, eles são realmente os melhores.
Não podemos dizer que a Câmara Federal, por exemplo, tem os melhores políticos do Brasil. Não é necessário o mínimo esforço para provar isso.
Não se pode afirmar que os melhores médicos ocupam cargos de destaque na saúde nacional, uma vez que muitos não fazem justiça ao juramento hipocrático, preocupando-se, em muitos casos, com o “vil metal” antes da vida de um ser humano. E a saúde no Brasil é o que todos sabemos que é.
Se prestarmos atenção à quantidade de injustiças que ocorrem no nosso país, acredito que chegaremos à conclusão de que não temos os melhores magistrados no comando do nosso sistema jurídico. Trata-se de meros mantenedores do status quo que, apesar de terem poder para diminuir a distância entre injustiçados e privilegiados, não o fazem por serem também alimentados por essa injustiça, quando não são frutos dela.
No esporte, contudo, é muito difícil, para não dizer impossível, vermos alguém chegar ao topo sem méritos reais.
Ayrton Senna, Maradona, Michael Jordan entre outros, não poderiam ter o reconhecimento que têm em suas áreas se não tivessem sido bons de verdade.
Hoje, o mundo do esporte presencia a plenitude de um assombroso fenômeno chamado Lionel Messi. O melhor naquilo que faz e que, se precisa provar isso, fá-lo todas as vezes que entra em campo.
Messi é hoje o melhor jogador de futebol do mundo. Claro que o fato de jogar no melhor time do planeta, o Barcelona, e de ter recebido atenção especial desde cedo são requisitos essenciais para ter chegado aonde chegou. Mas, se não fosse o melhor de verdade, não se manteria lá, como acontece em todas as áreas que citei e em outras que não merecem destaque nesse momento.
Isso acontece porque no esporte os melhores são testados a todo o momento. Não basta atingir uma posição de destaque e locupletar-se sem a preocupação de fazer um trabalho digno do melhor. Quando isso ocorre, quando o esportista não mais corresponde à condição de ser o melhor de fato, o seu direito é imediatamente transferido a outro. Lembrem-se, por exemplo, de Adriano, Ronaldo, Ronaldinho e tantos outros que foram depostos de seus lugares de destaque porque não mais o mereciam.Isso acontecerá também com Messi.É o ciclo natural que não se reproduz em outros setores do sistema capitalista brasileiro.
Tenho total convicção de que o Brasil seria um país bem melhor se essa lógica fosse aplicada a todas as áreas de atuação profissional. No esporte, só os melhores chegam ao topo e só permanecem se forem, de fato e de direito, os melhores.
Haja saúde.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Frutos de maracujá
À minha amiga Silvana Heath.
(Aquela que divide Gabriel comigo e
mulher que gosta de sementes, flores e frutos)
O que antes eram flores indica que se faz tempo de colheita. Enquanto apanho enormes e belos maracujás amarelos, eu epifanizo. O Senhor Tempo me mostra que todo tempo é tempo de colheita. Cinco segundos e todo o filme de minha vida. Sempre fiz o papel de colhedora. Colho e acolho frutos até das sementes que não plantei. As sementes, por mim, plantadas me dão frutos esperados. Sejam bons ou ruins. Quase não há surpresas. Das sementes que não plantei é que me vêm os melhores frutos e as maiores surpresas. Sejam boas ou ruins, devo dizer. Ter o melhor fruto em mãos não significa dizer gosto adocicado na boca. Há frutos que são desejados exatamente por ter um sabor mais exótico, digamos assim. Aquelas flores das ramas de maracujá das quais falei outro dia e que, agora, me ligam a casa de minha vizinha se transformaram nos mais belos e cheirosos frutos de maracujá que já vi. No entanto, eles continuam deixando gosto amargo em minha boca. Continuo não gostando de maracujá. Mesmo assim, provo desse doce veneno. Mas, começo a trabalhar o meu paladar e estômago para o sabor do que chamo, então, meus maracujás. Há que se enfrentar o novo, o diferente, o estranho, o bom e o ruim. É assim que a vida se faz. Os tais maracujás enfeitam o meu quintal e tornaram-se minha escolha. Entraram sem bater. Sem querer, deixei-os ficar. Minha natureza acolhe frutos. Arco com as consequências. O meu quintal está repleto, também, de folhas secas de maracujá. Mosquitos são atraídos pelo aroma do maracujá. Isso me incomoda. Deixo passar. Há quem seja fascinado por maracujás em minha casa. Por isso, eu os colho com prazer e preparo as sobremesas mais saborosas e os sucos mais refrescantes com eles. Imagino eu. Porque não como, nem tomo (ainda) nada que leve maracujá. O prazer de dar alegria a quem amo é que move minh’alma. Sorrisos me chegam quando preparo qualquer coisa com maracujás em minha casa. Igualmente, sorrisos me chegam quando compartilho de meus maracujás com amigos e familiares. Um sorriso aqui outro ali, pessoas mais felizes, um mundo mais feliz - nem que seja até o sabor do maracujá fugir das bocas que os provam. Estou assim colhedora e acolhedora desde que me fiz entender gente. Colher e acolher frutos foi o que sempre fiz. Isso não é uma atividade restrita ao meu quintal. Do lado de fora da minha casa, continuo colhendo frutos. Frutos belos, de cheiro que aguça meus sentidos, de sabor que me agrada o paladar e que me dão as maiores alegrias de minha vida. Contudo, não vou mentir. “Não sou perfeito”, disse o poeta. Eu também não. Às vezes, eu erro a mão, outras os frutos decidem por si só o que fazer. Assim, o doce se torna amargo. Me assusta o resultado. Eu vivo tanto que me assusto por muitas e muitas vezes. Insisto em viver assim mesmo. Se é questão de escolha própria ou se fui levada a fazer certas escolhas, não importa. No final, a decisão sempre foi minha. Faço o que quero. Sou imensamente feliz por colher frutos de sementes que plantei. Sou imensamente feliz por colher frutos de sementes que foram plantadas em meu quintal. Assim como sou, também, imensamente feliz por colher frutos de sementes que não foram plantadas em meu ventre. No final das contas, a vida faz de mim a mãe sem filhos mais feliz de todos os tempos.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Eu não sou
Em muitos momentos da minha vida eu gostaria de ter sido aquele personagem gostosão que se veem aos montes no cinema e na televisão: descolado, conquistador, bonitão, gente fina, o que sempre acerta ou o que, quando erra, consegue virar o jogo. Durante muito tempo, acho que dos 21 aos 35 anos, mais ou menos, eu achei que fosse essa figura. Hoje é só uma imagem que eu queria que fosse eu. Mas não é.
Conheci muitas pessoas que se enquadram nesse perfil e quando as encontrava as invejava com todas as forças e fraquezas do meu espírito. Hoje eu as entendo, apenas. Talvez ainda as inveje, mas não é nada que consuma meus dias. Agora meus dias são consumidos pela dúvida e pelo medo. No meu principal texto, musicado pelo Na Cabeça do Tempo, eu me descrevo como “um monstro de luxúria e medo”. Não existe definição melhor para mim. Tenho medo de muitas coisas e sou fraco. Não resisto a pressões e não consigo vencer o meu maior inimigo que sou eu mesmo. Também não sei se isso é um problema ou uma solução.
Tenho ainda muito orgulho de mim pelo fato de estar sempre tentando corrigir os muitos defeitos da minha constituição subjetiva. Eu sei que todos têm defeitos, mas também sei que só quem sabe o que é conviver comigo sou eu. Talvez um psicanalista ao ler esse texto possa descrever um perfil da minha personalidade ou descobrir alguma patologia, mas isso não chega nem perto de saber quem eu sou ou quem eu não sou.
Todavia, não é por ser esse ser humano perturbado que eu não seja feliz. Cometi muito mais erros do que eu gostaria de admitir e perdi todas as chances possíveis de ter uma vida economicamente estável. Mas cometi o maior acerto de todos que foi escolher a companheira ideal para a minha vida de fraquezas e divagações. Alguém que me ama apesar de mim. Tenho certeza de que isso fez muita diferença.
Para que não se diga que são só fugas, posso dizer que pelo menos eu enfrento o medo do jeito que consigo. Se venço ou perco é só detalhe. Pobre homem feito de sangue e carne como todos os outros.
Não sou o personagem gostosão do cinema, não sou o vencedor. Sou o homem que ama, vive e luta apesar de ter tanto medo da derrota que tem um medo ainda maior de tentar a vitória. Mas tenta!
Quanto à luxúria, é outra história. No próximo eu conto.
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