A gente se perde. Muitas vezes.
Mas sempre consegue encontrar o caminho de volta – ou de uma volta. É
capacidade inata aos seres viventes. Caminhar é viver. Enquanto a gente
caminha, a gente vive. Enquanto a gente vive, a gente atua, disse o Bardo do
Avon. Eu atesto, testo. Um passo, outro passo. Uma fala, outra fala. Um
cenário, outro cenário. Um terreno, mortos enterrados e eu me enxergo
contorcionista. Uma dobra pra cá, outra pra lá. Um quadrado, um triangulo, um
círculo. Contorção é acrobacia. Não se vive e não se caminha sem acrobacias. Eu
vivo, eu caminho, eu atuo. Em um circo de plateia contada e lona furada – para
que passe o sol e a chuva passe – faço da minha parte a parte que me cabe a cada
dia. Faça chuva ou faça sol ou que me doa mais ou menos.
“O gato bebe leite,
O rato come queijo
E eu, toco meu trabalho.” *
* Em O Palhaço (2011), direção
de Selton Melo.
Foto: Stanislav Odyagailo.