terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O leão branco e a minha consciência turva





Três colheres de açúcar para adoçar o café. Sem parar penso que estou usando mais açúcar e tomando mais café. Misturado o açúcar, o café desce goela abaixo enquanto eu não me importo com quilos extras e ansiedade exacerbada. Dias de tempos incomuns. Minha cabeça me lembra de algo como afazeres domésticos a realizar, contas a pagar e tarefa escolar a preparar. Pego este pensamento maligno, amasso e jogo fora como folha de papel que perdeu a serventia. A lembrança de minha determinação em reciclar papel sequer passa pela minha cabeça. Quero é deitar na relva e me rebelar. Esqueço, por um momento, que paro, penso, peso, pondero. Volta o pensamento. Afasto o pensamento. Devo ter enlouquecido de vez. Talvez esteja assumindo minha psicopatia há tanto abafada por meu comportamento que faz de mim prisioneira de mim mesma. Eis que me aparece um leão. Não é um leão comum. É um leão branco fugido do grupo dos únicos trezentos leões brancos existentes no mundo. Não! Nada é parecido com um filme. O leão é de verdade e grande. Muito grande. Pelo branco como a neve e olhos, de tão acinzentados, opacos. Ele para diante de mim. Sua beleza é inebriante. Nossos olhares se fixam. Não sei o que ele pensa. Quanto a mim, meu desejo é agarrá-lo e fazer dele meu bichinho de pelúcia. Par perfeito para o meu dia na relva. Dou o primeiro passo. Depois, o segundo. Um instante. O leão não é um de meus animais de estimação. O leão é um animal selvagem e feroz do qual se deve manter distancia. Um segundo. Corro ao encontro daquele leão branco chumaço de algodão. Agarro-me com ele. Ficamos os dois rolando na relva e o mundo acaba antes de 21 de dezembro de 2012. 





Image by MinnemannE on DeviantArt





De volta ao lar, FELIZ 2012! 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Antenas e idéias Co.

On. A velha senhora ligou. Havia mais de ano que não conversávamos. Começou dizendo que ligara para desejar, a mim e a minha família, votos de um Feliz Natal. Em seguida, falante, como sempre, abriu-se como um baú velho e começou a revolver questões familiares e a contar-me sobre os problemas que a circundavam naquele momento. Algumas pessoas não gostam dessa velha senhora. Reclamam que ela fala demais e que se intromete na vida dos outros. Reconheço que a tal velha senhora tem seus defeitos. Quem não os tem? Há quem diga que havendo defeitos, há qualidades também. A velha senhora tem suas qualidades. Uma delas? Ela fala a verdade. Ela fala o que você já sabe, mas, não quer admitir. Muito menos, quer que outra pessoa lhe jogue isso na cara. Essa é a deixa para que entre a fala: “Vixe! Atenda você. Diga que eu não estou.” Não pude dizer que eu não estava. Não reconheci o número do telefone. Atendi. Naquele dia eu estava de bom humor. Atendi ao telefone mesmo não reconhecendo o número de quem me ligava. Estava chegando o Natal. Conversar horas com aquela velha senhora, talvez, fosse a resposta para a pergunta: Então é natal... E o que você fez? * Ao menos posso dizer que dei ouvidos a uma velha senhora. Não vou negar que guardo uma mágoa com relação a ela. No entanto, eu continuo gostando dela. Ela é como eu. Melhor, eu sou como ela. Falo muito. Digo logo o que vou pensando. Adivinho o futuro. Eu estava atrasada no dia da bendita ligação, porém, dei corda à velha senhora. Ouvi coisas que já sabia e outras que ainda não sabia. Falei também. Embora, eu tenha guardado o assunto da mágoa a qual me referi anteriormente. Não era o momento. Ainda falo o que penso. Entretanto, aprendi e aceitei que existe um tempo para tudo. Aquele não era o tempo daquela mágoa vir à tona. Ouvi mais que falei – outra coisa que aprendi. Fiz minha boa ação, atrasei-me para meu compromisso. Em compensação (ou descompensação), sai daquela conversa gostando mais daquela velha senhora. Espalhei algumas coisas que ela havia me contado (isso faz parte de qualquer conversa). Outras, eu guardei. Uma, eu matutei. Disse-me ela que pediu ao filho, no tempo em que ele fazia seu Doutorado em Física, na Inglaterra, que inventasse uma antena para gente. Repetiu: “– Meu filho, invente uma antena para gente. Tem gente que nasce sem antena. Se você inventar uma antena para gente, você vai ganhar o premio Nobel em Física.” Eu ri bastante. Concordei com aquela velha senhora. Conheço um monte de desantenados. Hoje, ela está desatualizada em sua ideia. O negócio, agora, é chip. Inclusive, já estão criando chips para serem implantados em humanos. Na época, a velha senhora estava à frente do seu tempo. Seu filho é que não lhe dera ouvidos. Mesmo desatualizada, o que vale é a ideia. Um montante grande de pessoas não capta o que está a sua volta. Por isso, vive dando de cara na parede. Fato que não me incomoda mais tanto quanto antes. Cada um que cuide de si. Eu só fiquei imaginando como seria bom se a gente pudesse ligar e desligar uma pessoa quando a gente bem entendesse. Já pensou nisso? Off




 A todos, ainda há tempo para um FELIZ NATAL! :))

Image by antart on DeviantArt

* Trecho de "Então é natal", versão da cantora Simone para "Happy Christmas (War is over)", de John Lennon. 

sábado, 19 de novembro de 2011

2.

Gato preto em cima do telhado
Olhou e disse menino gordo:
“Rai cai”.











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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Antúrios

Pertenço à constelação de Antúrios. Nasci do amor desesperado e descomedido de meu pai e de minha mãe. Recusei-me a carregar a culpa pelo Pecado Original e pelo pecado que deu origem a mim. Meu pecado originou-se quando passei a perceber a tua presença. Todos os dias, mesmo local, ponteiros de relógios sincronizados. Coisa de Deus, de Amor ou do Destino? Foi como tinha de ser. Coisa sua e minha. Tive minha estrutura de castelo medieval totalmente abalada. Tanto tempo sem sentir o coração disparar e as mãos lavadas com suor frio. Não hesitei. Do suor líquido ao suor em vapor. Não me importava mais me entrelaçar em dejetos de nitrogênio ou do que quer que fosse. De santa, rebaixei-me a mulher adúltera por completo. Nessa vida é melhor viver em pecado que em santidade. A santidade cansa. É tudo muito justo para as minhas formas disformes. O pecado é saboroso. É duplo. É perverso. É razão sem balança. É minha liberdade em novelo que corre solto. E, você, é o diabo revestido de anjo. Acontece que a fantasia não lhe caiu tão bem, meu bem. Anjo de olhar cortante, porte atleta e língua solta, não são fabricados. Isso é coisa do diabo. Pois que seja. Meu calendário só me mostra o dia de hoje. O meu momento é agora. Clichê, mas, cheio. Cheio de mim e de você e de tudo que nos condena em segundos de uma vida inteira.

 

Image by Beyondthechuch on DeviantArt.