sábado, 28 de junho de 2008

Insight ao final de um arco-íris de palavras

A Sorte decidiu: as Fiandeiras cumprem seus trabalhos. Os fios surgem e corpos são presos a eles. Liberdade sob medida. Senhorio tolhendo Jardineiro aprendiz. Ventos vão e, na volta, sopram a quem tem ouvidos: “Artista é aquele que faz arte” – Arte: do latim, Ars: técnica e/ou habilidade relativa a uma atividade humana que esteja ligada a estética e a forma como expressão de emoções, idéias e a percepção de cada um. Vejo muitos quadros escondidos, tantas almas de livros empoeiradas, argila afogando mãos. Olho em volta e me declaro artista. Ser artista é não ter medo de se expressar. É construir seu mundo com tijolos escolhidos. Sou artista e somos artistas. Artistas de todo dia. Eu, você, a Bel e aqueles que habitam seus cantos quietos com sua arte muda. Ele que era Lord sabia que nem todo poeta ocupará estantes – talvez, nem ele próprio esperasse estar imortalizado nelas. Da mesma forma, nem todo tenor alcançará o Dó4. Nem todo pintor será dono do sorriso mais famoso. Nem todo jardineiro terá o jardim mais perfeito. Posto que, antes de tudo, um artista é aquele que se liberta dos fios que o prendem para voar alto e dar asas a quem não aprendeu a voar. Artista é Prometeu e é Epimeteu, fazedores de arte sem medo do que se esconde dentro do criador. Ouvidos abertos, mãos à obra. Trabalho maior é libertar homens.



O Poeta


Muitos dos poetas que jamais a inspiração
Puseram por escrito – e os melhores, talvez:
Sentiram e viveram, mas sem concessão
Dos pensamentos seus a nenhum ser mais soez:
Comprimiram o deus em seu interior
E juntaram-se aos astros, sem lauréis na terra,
Mais feliz porém que aqueles que o estridor
Da paixão degenera, e cuja fama encerra
Suas fragilidades, os conquistadores
De alto renome, mas cheios de cicatrizes.
Muitos são poetas, mas do nome não senhores,
Pois que é a poesia mais do que buscar raízes
No bem ou no mal ultra-emotivos e querer
Uma vida exterior além de nosso fado?
E novo Prometeu do novo homem ser,
Dando o fogo do céu e, tudo consumado,
Vendo o prazer da oferta pago, mas com dor,
E abutres roendo o coração do benfeitor,
Que, tendo dissipado dádiva sem par,
Jaz encadeado num rochedo junto ao mar?


George Gordon Byron in: A Profecia De Dante


















Zélia

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sábado, 21 de junho de 2008

O avesso de um presente de grego: o nascimento de um artista





A música que ainda não tocou
É aquela cuja letra você esqueceu
A música que ainda não tocou
É a que te faz sonhar
A música que ainda não tocou
É a que você não dançou
A música que ainda não tocou
É a valsa que não te faz deixar de amar
A música que ainda não tocou
É aquela que toca todos os dias mas ninguém ouve
A música que ainda não tocou
É a que bate na janela do teu quarto
A música que ainda não tocou
É aquela que faz a bailarina cair de sua caixinha
A música que ainda não tocou
Continua a tocar todos os dias
A música que ainda não tocou
É a que escrevo agora
A música que ainda não tocou
Vem de você.


Zélia



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sexta-feira, 20 de junho de 2008

Desde os tempos de Jim, os dias continuam estranhos

Últimos milhares de dias. Astros fazem reviravolta no espaço enquanto descubro um segredo a cada novo despertar. Hoje, achei um saco cheio deles. Nada adiantou. Meu dia não foi salvo. Não quero falar sobre isso. Os gritos por salvação me incomodam. Fecho minha concha, ouço o som do mar em quem é cheia de graça. Permaneço quieta. Pulsação na velocidade da luz. Meu corpo fala, você não ouve. Quem sabe eu deva parar de contar estrelas e carros que seguem funeral? Peter Pan deveria perceber a hora de crescer e enxergar o mundo do avesso. Terra em azul, só para os olhos de criança.

Zélia


sexta-feira, 13 de junho de 2008

O retorno de Saturno (e o cochilo de Balzac)

Ele voltou. Disse que veio me trazer maturidade. Curioso é que o nosso tempo astrológico-cronológico mostram as Horas em espaços distintos. Sequer sabia que ele viria, ele já voltou. Não entendi mas compreendi o que ele me trouxe. Não sou mais menina embora a música insista em dizer que se não tenho filhos ainda sou filha. Embora ainda sonhe. Embora eu ainda compre bugiganga. Embora eu ainda coma Farinha Láctea com leite Moça. Embora eu acorde com fome à noite. Embora eu sinta vontade de correr na chuva... Cresci! Uma das primeiras coisas que me mostraram a minha mudança de estação foi ter que encarar Tanatos. Ele chegou suave mas não atrasado. Até as Queres bateram a minha porta. Enfrentar esse bando é, indiscutivelmente, representação dos momentos mais difíceis para qualquer ser vivo que tenha um pouco do que eu vou chamar de “consciência” – como a égua, de um programa rural de domingo, que se desespera ao perceber o seu potrinho inerte ao chão – o potrinho morrera ao quebrar o pescoço na tentativa de pular a cerca que mantinha mãe e filho juntos. Balzac até que chegou a tempo mas parece ter esquecido que, neste mundo, Nix dá vez a Apolo. Cresci mesmo traindo minhas “indeléveis fraquezas femininas”, como fala o escritor francês. Cresci e sigo com ele. Dou linguagem as minhas atitudes, tenho meus segredos, desvendo segredos de corações, sou rainha, tenho atrativos irresistíveis, pago – muitas vezes – meu saber em dissabores, exijo zelo por minha honra, duvidei de Deus acreditando n'Ele. Enquanto isso e tantas outras coisas passavam por mim, Saturno chegara e não entrara. Continuava sentado em meio as orquídeas de meu jardim. Não fora pela borboleta que, em uma tarde, eu seguia não teria esbarrado nele e não teria visto no espelho de Narciso um Eu mais profundo ainda. Cronos fora de si, peças ausentes em mosaicos, escalas fora de tom: “c’est lá vie”. Gente continua falando a mesma coisa, Pessoa finge, Balzac cochilou e Saturno chegou atrasado. Ao menos ganhei novos anéis. Ando com os dedos enfeitados, estou mais conhecedora e inteira de mim.


Não tenho livro publicado. Apenas escrevo. Escrevo porque vivo! Escrevo a caminho do trabalho. Linhas tortas. Talvez um dia, eu publique um livro. Deixarei um exemplar de luxo na cabeceira de tua cama...



Zélia
















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