quarta-feira, 30 de julho de 2008

O eco de um canto


Tudo que encanta é canto.

Todo canto, grito de libertação.

Toda liberdade:

Cura para os males que nos afligem.



Zélia


Photo by shahramart on DeviantArt

domingo, 27 de julho de 2008

Confissão em linhas claras

Avenida principal, tarde de domingo incomum dentro do comum da cidade. Um estranho me parou com uma conversa esquisita sobre as dez coisas que eu odiava no mundo. Não soube responder. De santa, eu só tenho o nome. Mas não odeio ninguém nem nada. Por que não me perguntara aquele ser bizarro, de tão esguio que era, vestindo preto e azul sobre coisas que não gosto? Poderia escrever Lusíadas dessas coisas.

  • Não gosto de arroz – é a primeira coisa em que penso.
  • Não gosto de intelectuais de versos ornados – faço tapetes com seus versos.
  • Não gosto do cheiro do cigarro no banheiro pós décima quinta tentativa do marido em deixar de fumar – uma gota de Light Blue em cada canto do banheiro.
  • Não gosto de esperar por quem esquece aquele que fica – solto meus cães farejadores na cidade.
  • Não gosto de quem maltrata animais – somos, também, animais.
  • Não gosto de quem desrespeita a natureza – quem não cuida de sua casa não merece crédito.
  • Não gosto de vinho barato – já tomei ambrosia.
  • Não gosto de me ocupar de você – o mundo é grande, a vida curta.
  • Não gosto de ver sexo por trás das cortinas – sexo só é bom quando se está nele.
  • Não gosto da mentira à minha porta – vasculho lixo antes de jogá-lo fora.

Lista grande. No entanto, eu não gosto mesmo é de ter do que não gostar. Queria ser a favor de todos os ventos. Mas não estou só mesmo estando. Há um tanto de fel entre coisas e pessoas que me cercam.


Zélia



Photo by xNotYourDoll

sábado, 28 de junho de 2008

Insight ao final de um arco-íris de palavras

A Sorte decidiu: as Fiandeiras cumprem seus trabalhos. Os fios surgem e corpos são presos a eles. Liberdade sob medida. Senhorio tolhendo Jardineiro aprendiz. Ventos vão e, na volta, sopram a quem tem ouvidos: “Artista é aquele que faz arte” – Arte: do latim, Ars: técnica e/ou habilidade relativa a uma atividade humana que esteja ligada a estética e a forma como expressão de emoções, idéias e a percepção de cada um. Vejo muitos quadros escondidos, tantas almas de livros empoeiradas, argila afogando mãos. Olho em volta e me declaro artista. Ser artista é não ter medo de se expressar. É construir seu mundo com tijolos escolhidos. Sou artista e somos artistas. Artistas de todo dia. Eu, você, a Bel e aqueles que habitam seus cantos quietos com sua arte muda. Ele que era Lord sabia que nem todo poeta ocupará estantes – talvez, nem ele próprio esperasse estar imortalizado nelas. Da mesma forma, nem todo tenor alcançará o Dó4. Nem todo pintor será dono do sorriso mais famoso. Nem todo jardineiro terá o jardim mais perfeito. Posto que, antes de tudo, um artista é aquele que se liberta dos fios que o prendem para voar alto e dar asas a quem não aprendeu a voar. Artista é Prometeu e é Epimeteu, fazedores de arte sem medo do que se esconde dentro do criador. Ouvidos abertos, mãos à obra. Trabalho maior é libertar homens.



O Poeta


Muitos dos poetas que jamais a inspiração
Puseram por escrito – e os melhores, talvez:
Sentiram e viveram, mas sem concessão
Dos pensamentos seus a nenhum ser mais soez:
Comprimiram o deus em seu interior
E juntaram-se aos astros, sem lauréis na terra,
Mais feliz porém que aqueles que o estridor
Da paixão degenera, e cuja fama encerra
Suas fragilidades, os conquistadores
De alto renome, mas cheios de cicatrizes.
Muitos são poetas, mas do nome não senhores,
Pois que é a poesia mais do que buscar raízes
No bem ou no mal ultra-emotivos e querer
Uma vida exterior além de nosso fado?
E novo Prometeu do novo homem ser,
Dando o fogo do céu e, tudo consumado,
Vendo o prazer da oferta pago, mas com dor,
E abutres roendo o coração do benfeitor,
Que, tendo dissipado dádiva sem par,
Jaz encadeado num rochedo junto ao mar?


George Gordon Byron in: A Profecia De Dante


















Zélia

Photo by ishadow on DeviantArt

sábado, 21 de junho de 2008

O avesso de um presente de grego: o nascimento de um artista





A música que ainda não tocou
É aquela cuja letra você esqueceu
A música que ainda não tocou
É a que te faz sonhar
A música que ainda não tocou
É a que você não dançou
A música que ainda não tocou
É a valsa que não te faz deixar de amar
A música que ainda não tocou
É aquela que toca todos os dias mas ninguém ouve
A música que ainda não tocou
É a que bate na janela do teu quarto
A música que ainda não tocou
É aquela que faz a bailarina cair de sua caixinha
A música que ainda não tocou
Continua a tocar todos os dias
A música que ainda não tocou
É a que escrevo agora
A música que ainda não tocou
Vem de você.


Zélia



Photo by *DrBunsenhouney on DeviantArt