sábado, 18 de outubro de 2008

Poesia de mim em estações

Todo o Tempo foge ao nosso controle. Mesmo quando acreditamos controlá-lo, ele escapa as nossas mãos...



I Estação:

Outro dia, já não se faz muitos anos, era verão. Eu era criança, via a lua beijar o sol e deixar a cena. Catava conchinhas na beira da praia, colecionava peixinhos em um baldinho cor de rosa e tomava sorvete de doce de leite todas as tardes. Toda noite tinha jogo de amarelinha, um casaco de lã e uma rede na varanda para que eu pudesse contar estrelas.


II Estação:

Um dia, a chuva caiu. Era inverno. Tinha corrida na rua para encher o corpo com gotas de chuva e barquinhos de papel levando pela correnteza nossos sonhos para que se realizassem além do arco-íris, símbolo de aliança e alimentador de esperança. Mas inverno traz trovão, relâmpago, toque de recolher. Criança não entende isso. Não entende Tempo passar. Inverno é, também, momento de regar semente. Esperar ela brotar, crescer e frutificar. Quando o fruto amadurece, já se passaram mais dias.


III Estação:

Outono. Folhas vermelhas trazendo vida renovada. Os frutos colhidos indicam amadurecimento de Tempo e de mim. O olhar no espelho mostra alguém de fisionomia mais firme, séria. Lá dentro, ainda há desejos por conchas e sorrisos com pensamentos sobre os peixes no balde. Até um arrepio vem junto com a vontade de me esconder debaixo dos lençóis quando as pedras rolam no céu. Alguém disse que não é mais hora para isso. Que não seja! Gosto de nadar contra a correnteza de vez em quando. Esta época faz com que a gente não queira mais achar graça em circo. É preciso cautela.


IV Estação:

O amor bate à sua porta enquanto borboletas voam juntas, cães se beijam e joaninhas parecem um tapete vermelho de bolinhas pretas. É primavera. Tempo de se enamorar e fazer multiplicar. As flores estão mais belas em cada Jardim – mesmo para quem não vê. Cresci e agora entendo mais coisas. Entendo que ainda sou criança. Entendo que algumas coisas não são para ser entendidas. São para ser vividas. Eu vivo! Ainda conto estrelas, tomo banho de chuva, acho graça em circo e namoro muito. A diferença é que, agora, pago contas!


V Estação:

É a estação de todos os Tempos. O ciclo se renova. Beleza cotidiana em movimento. Tempo de fazer tudo de novo e mais o que não foi feito. Tempo de somar e subtrair o que não nos cabe. Dividir alegrias e tristeza, também. Não estamos sós e temos uma caixa de lápis colorido em nossas mãos.



O tempo foge mas só escapa a quem o deixa. Passei a colecionar estações em diferentes cores. Estou o que quero a cada dia e sou pedaços que juntei por escolha própria.


Zélia






















Photo by Enuh on DeviantArt