“E de nada vale fugir
E não sentir mais nada”
(Renato Russo)
Dia diferente porque era outro dia. Não o de ontem. Início de minha viagem para casa. A janela do ônibus mostrava a paisagem que sempre me mostra cores novas. Enquanto eu admirava o mar azul de águas claras e límpidas, a minha imaginação alçava vôos cada vez mais altos. Quisera ver aquele mar imenso cobrir toda a cidade. Seria muito mais interessante viver como os peixes. Nadando num balé de vai-e-vem e saltando, vez ou outra, como fazem os golfinhos, seria muito mais agradável cumprir com nossos afazeres diários. Sempre sonhei assim. Com um mundo de águas claras em que eu pudesse usar colares de conchinhas catadas por mim mesma. Se o perigo surgisse, seria fácil: aprenderíamos truques com o amigo polvo, rei
"– Por que lês o que tu mesmo escreves?"
"– Leio o que escrevo porque sou Eu. Todo escritor verdadeiro é semeador. O semeador planta porque acredita em suas sementes. O escritor deve acreditar em suas letras."
O beija-flor, então, continuou o seu balé de beijar flores. Era suficiente o que ouvira. O jovem Antônio sonhava em ver seus escritos guardados dentro de um livro. O Antônio daquele dia segurava seus escritos nas mãos. Não soltos. Dentro de um baú do tempo. Morreria escritor de um livro só mas morreria escritor. Ninguém jamais poderia lhe perguntar se ele não tinha livro publicado.
* Fala da personagem não identificada em “