domingo, 11 de julho de 2010

Ato de contrição em fim de tarde





Confesso a Deus Todo Poderoso minha mania de combinar cores e tipos de pegadores ao colocar roupas para secar — conseqüência da loucura desvairada que me acompanha.

Confesso a Deus Todo Poderoso que não mais me comovo tanto quando perco um paciente em minhas mãos — anos de profissão nos leva de um humano-profissional a um mero cumpridor de obrigações.

Confesso a Deus Todo Poderoso fingir orgasmos ao receber meu marido dentro de mim — seus olhares por cima da cerca fizeram com que eu me perdesse em mim.

Confesso a Deus Todo Poderoso cobiçar meu vizinho do lado — seus olhares incansáveis fizeram com que eu voltasse a me enxergar.
Confesso a Deus Todo Poderoso desejar os filhos de minha amiga — os meus são todos imprestáveis.

Confesso a Deus Todo Poderoso pensar em viajar pela Europa durante o sermão dominical — a ladainha daquele padre já não me toca mais.

Confesso a Deus Todo Poderoso ter dito a minha mãe que seu manjar de coco estava divino — meu pai sempre foi melhor na cozinha.

Confesso a Deus Todo Poderoso teimar em colocar meus pensamentos no papel — já soube de Professora Doutora que para ser escritor é preciso que se tenha o reconhecimento dos "pares". Duvido que os pares de sapato que eu tenha sejam suficientes para isso.

Confesso a Deus Todo Poderoso continuar a levar a vida na valsa — se tenho que viver que seja pelo riso e não pela dor.
Confesso a Deus Todo Poderoso ter pecado por palavras, atos e omissões.