quarta-feira, 14 de julho de 2010

De volta à vida

O título deste texto é uma tradução livre do título de uma canção do Pink Floyd, lançada no álbum The Division Bell, de 1994. Trata-se de uma das melhores canções do disco e um trecho em especial traduz a força dos dizeres que nela se apresentam e se escondem. O trecho diz que chegou o momento de matar o passado e voltar à vida. Não acredito muito em matar o passado, mas acredito em trazer dele apenas o que pode servir de lição para o futuro. Depois de retiradas e aprendidas as lições, rasgo o passado em pedaços miúdos e jogo-o no lixo junto com as barras de chocolate que tanto enojam o poeta da tabacaria.

Por mais que a realidade me force a ficar aqui, eu sempre dou um jeito de sair da vida por alguns longos instantes. Deixo o mundo todo explodir ao meu redor e me tranco nos sonhos e ilusões do meu castelo de menino que quis ser jogador de futebol. Faço isso porque – como disse em outra coluna – sou um romântico imbecil e incorrigível. Certamente mais um triste anacronismo no mundo novo da imagem e das telas em terceira dimensão.

Mas gosto dos meus retornos à vida. Não porque eles venham com a esperança piegas dos anúncios de televisão, mas porque volto com a certeza de que sei qual é o meu lugar neste mundo, ainda que o tenha percebido por conta de milhões de relações intertextuais que me fizeram ser quem sou. Ao menos eu sei que essas relações existem – mesmo que este conhecimento não tenha valor algum. E falando em certezas, não as tenho. Nem mesmo a consoada me parece inevitável.

Volto com o sentimento de que sou o mesmo jovem ingênuo que acreditou ser capaz de transpor muros de insensatez e falsidade para cravar sua espada no coração de todos os cânones e doutrinas que transformam este planeta num lugar tão fantasticamente desprezível. Um jovem ingênuo, ainda que os fios brancos digam o contrário.


Voltei à vida.


Um grande abraço a todos e haja saúde.


(Imagem: DeviantArt)