Ontem, eu assisti ao Feitiço de Áquila (Ladyhawke) pela milésima vez. Pouco me importa se é um filme de 1985. Todas as vezes em que revejo o sofrimento de Etienne e Isabeau, separados por uma maldição demoníaca, é como se eu estivesse vendo o filme pela primeira vez. Sofro de amor por mim e por eles. Eu tenho uma amiga que é assim também. Ela gosta de rever filmes incansavelmente. Ela até decora as falas dos filmes e solta-as por aí no meio de suas conversas. Leva certo tempo para você se acostumar com essa mania dela. Depois, passa a ser divertido.
Filme é como pensamento, não envelhece nunca. Um filme é como uma pessoa, não se pode anular uma pela outra. Ele pode ser bom ou ruim e, assim, vai existir. O problema dos filmes ditos velhos é o mesmo das pessoas velhas. Preconceito. O filme só é bom se for novo. Se estiver na moda. Uma pessoa só serve se ela for nova. Se ela for velha, só serve para cadeira de balanço. As pessoas são preconceituosas, não se assumem como tal e nem percebem que o são. Filme bom é filme da moda. A bola da vez é Cisne Negro. Não vi o filme. Tenho certa ojeriza contra filmes da moda. Gosto de ver filme antes que as pessoas comecem a comentar sobre ele. Não sei se ele vai ganhar algum Oscar. O Feitiço de Áquila não ganhou. Outra vez, pouco me importa.
Filme bom pra mim é aquele que lava a minha alma. Se ganhou ou não a estatueta que mais parece um guerreiro estelar, não me importa. Quem disse que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles sabe mais que meu coração? Ela tem seus méritos para fazer isso, eu sei. Mas outra vez, vejo o preconceito nas pessoas quando o resultado desagrada a massa bem inteirada de cinema e suas artes. Para ganhar o Oscar de melhor filme, só sendo americano. Se for estrangeiro, não vale. Parecemos um bando de americanos, nós brasileiros, torcendo por um filme americano só porque tá na moda. Na maioria das vezes, nem assistimos a todos os filmes concorrentes e escolhemos o melhor entre eles. Como se não vi os outros?
Vi isso acontecer com Quem Quer Ser Um Milionário? (Slumdog Millionaire). Como assim, um filme estrangeiro (leia-se, não americano) ganhar o Oscar de Melhor Filme? Você viu o filme? Viu os concorrentes? Veja o filme e você verá a que custo uma criança de Mumbai, Índia (não preciso dizer de vida miserável) vira um milionário. Se é por falta de Oscar, Quem Quer Ser Um Milionário?, levou oito.
Lembro de outro caso. A Vida é Bela (La Vita è Bella) concorreu na categoria Melhor Filme Estrangeiro com Central do Brasil. Como assim, um filme italiano ganhar para um filme brasileiro e com Fernanda Montenegro? A questão não é de onde vem o filme ou quem está nele. A questão é quem foi mais feliz em seu propósito. Naquele ano, A Vida é Bela foi. E ainda o é. A vida é bela e cheia de filmes para nos fazer viajar ao nosso mais profundo imaginário. Enjoy the ride!
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