sábado, 23 de abril de 2011

Arte feita em casa

Eu nem sequer gosto de escrever. Acontece-me às vezes estar tão desesperado que me refugio no papel como quem se esconde para chorar. E o mais estranho é arrancar da minha angústia palavras de profunda reconciliação com a vida.

Eugénio de Andrade

 


Se eu fosse escritora de verdade, escreveria coisas que mudam pessoas. Como não sou, o que escrevo desce ruas em pedacinhos de papel feito pequenas jangadas. Se eu fosse escritora de verdade, teria livros publicados empoeirando estantes em bibliotecas. Como não sou, meus escritos voam soltos pelo ar. Se eu fosse escritora de verdade, faria parte da Academia Brasileira de Letras e poucos saberiam de mim verdadeiramente. Como não sou, todos me conhecem pelo Facebook. Se eu fosse escritora de verdade, teria meu nome estampado em alguma praça. Como não sou, é o meu rosto que estampo na janela que dá para a rua. Se eu fosse escritora de verdade, poderia ter o mundo todo em minhas mãos. Como não sou, tenho apenas a pena na mão a deslizar por esta folha de papel.

Imagem by Anuk on DeviantArt