sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Flores de maracujá


Não é curta a vida. Curto é o nosso viver. Curto é o nosso olhar. O calendário perde seus dias e não enxergamos o que eles trazem e levam de volta. Neste ir e vir de dias que passam despercebidos, não percebemos a nós mesmos. É como se nos perdêssemos, também, por entre esses dias. Em um dia qualquer, sem querer, observei umas ramas de maracujá se arrastando pelo muro de meu quintal, oriundos da casa de uma vizinha que não me dá, sequer, bom dia. Minha reação foi instantânea. Não quero estas ramas invadindo o meu quintal. Embora o aroma da fruta me agrade, não suporto seu sabor. Mas, ignorei as tais ramas, ainda tímidas. Como insisto em voar diante da vida que me chega, os dias continuaram a fugir até que eu parasse, outra vez, em meu quintal. As, não mais tímidas, ramas de maracujá denunciavam minha ausência naquele lugar; denunciavam o que acontecia em minha casa; denunciavam minha cegueira frente a coisas simples; denunciavam minha abstenção diante da vida. O muro de meu quintal estava todo tomado por ramas de maracujá em um estado de vitalidade que não me pertencia. Flores e flores e flores de maracujá enfeitavam o meu quintal. Estática, eu observava as flores que virariam frutos. Retrocedi alguns passos, apanhei outras flores que haviam ficado em meu caminho. Senti o perfume de cada uma delas e resolvi não mais me apartar delas. Hoje, carrego um cesto cheio de flores de todos os tipos e cores.

Image by Andrea-h on DeviantArt