sexta-feira, 10 de julho de 2009

Clássico em preto e branco



"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousamos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa



Ela não saiu
Fugiu
Vestido marcando
Ventre estufado
Ele não voltou
Ficou
Caminho em círculo
Levando ao mesmo lado
Ela toda bagagem
Ele álbum de retrato antigo
Esquecidos por si mesmos
Do lado de lá do que é
Um
E
Outro
Vida
E
Morte
Pedem travessia


Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.”
Guimarães Rosa em: A Terceira Margem do Rio


Image by Robert Ford on:DeviantArt






sexta-feira, 3 de julho de 2009

O Passeio da Lua


“O valor e a qualidade de qualquer amor só podem ser determinados pelo próprio amante.” By Carson McCullers. - Encontrar essa citação naquele biscoito da sorte esquecido no armário fez mesmo a Sorte de Ágata. A jovem enamorada de Saulo vivia às turras com seus pais que não entendiam todo amor e devoção àquele rapaz que passou a frequentar a casa dos Rodrigues. Tudo se deu depois daquele Ano Novo comemorado na rua com os vizinhos, amigos e aquele desconhecido que apareceu como um beija-flor que vem em busca do perfume exalado pela flor. Era Saulo. Veio acompanhando um vizinho e melhor amigo de Ágata. “A nossa Sorte é velha matreira, sim! Nos guarda até que não possamos nos defender. É a morte para a vida” – refletiu, tempos depois, sobre aquele encontro. Mesmo sendo mais velho, Saulo mantinha o seu jeito e sorriso de moleque. Mais tarde, Ágata confessaria ter sido aquele sorriso o cheque-mate que a levou aos braços de seu primeiro Amor. Ninguém nunca a vira tão apaixonada e tão cheia de vida. Ainda, Ágata pertence a Saulo como a lua cheia pertence ao mar. De tudo que declarou não se permitir sentir ao se apaixonar não sobrara nada. Ágata ama Saulo com a mesma necessidade que tem o sangue correndo em suas veias. Foi com ele que ela conheceu a força gravitacional do Amor. Foi por ele que ela se tornou mulher. Foi em seu corpo que ela conheceu o vapor do sexo. Ágata era agora, também, Saulo. Já não era mais só. Difícil que seus pais aceitassem dividi-la com outro alguém. Inaceitável para alguns que um casal pudesse ser simplesmente feliz. Feliz de quem se quer junto. Tamanha era a especulação sobre o destino dos dois que Ágata duvidou de seu Amor por um instante. Seu maior pecado. Pensou em não ser merecedora do Amor que lhe devota Saulo. Mas de Amor não se pode fugir. Certeza um dia encontra quem Ama. O Amor de Saulo estava em sua Sorte. Liberdade por vontade. Batizada por aquelas palavras com cheiro de biscoito Ágata renovou seu espírito e saiu para encontrar o mar.



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sábado, 23 de maio de 2009

À procura de um poema

“Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes mesmo de existirem do lado de fora.”

Rubem Alves in: Jardins


Hoje eu sou mais Eu. Um Eu mais inteiro em busca da minha completude infinita. Chove desde ontem – por Deus comprei uma sombrinha, finalmente. Acordei cedo mas não fui trabalhar. A água inundou a cidade. A Senhora do Tempo havia avisado: “Chove durante todo o fim de semana”. Precipitações de todas as formas e cores: chuva orográfica, de convecção, frontal, ácida. A chuva é como uma faca de dois gumes. Ora, lava e leva tudo que encontra pelo caminho. Ora, lava e faz nascer. “Dia de chuva”, falava a minha avó, “é um bom dia para se preparar um jardim para nascer”. Claro! Na busca pela minha completude infinita, estão os jardins. Quero sempre jardins novos. Jardins maiores. Jardins floridos. Jardins de mim. Arregaço as mangas e corro para a terra. Semente acariciada e colocada no ventre de jardins. Chuva, agora, líquido amniótico que alimenta sonhos e sementes. Espero meu jardim crescer e florescer aqui fora. Embora ele já exista em meus sonhos... Margaridas, Rosas, Orquídeas cheias de Nove horas, Angélicas, Gardênias, Girassóis, Chuvas de prata em Copos de leite, Narcisos, Flores - de - lis, Hortênsias, Bonsais também, Marias - sem - vergonha, Tulipas de vinho doce, Flores tropicais, Magnólias, Crisântemos, Flor de princesa, Flor de botãozinho, Espadas de São Jorge para as lutas, Açucenas, Violetas, Jasmins, Flores de lótus, Dálias, Papoulas, Amores perfeitos, flores para homenagear aos que chegam e dar adeus aos que partem. Flores para mim! Flores para que eu veja sempre um poema aonde quer que eu olhe.








sábado, 9 de maio de 2009

Lady Blue

She walks in blue
Seems like she wears heaven
Simple as an orchid in a window
Singing songs from birds
She is the love of mine


Earth revolves around me as she passes by. Hardly can I explain the crush in my heart. Spend days and nights trying to find a way to get to her. If not, I can not live. She takes the fresh air from me and leaves her mysterious sent. It makes me dizzy so I can not see one single thing ahead. I am not only myself anymore thus I have found the reason I came to this world. I love! I have love! I feel love! She is the love of mine! My Lady Blue!





Image by Chocolatita on DeviantArt