quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

No Missal sob o criado-mudo em meu quarto


Minha primeira oração diária é um poema. Faço a minha poesia e ouço a poesia que bem entender. E antes que alguém diga que ela salvou o meu dia, meu dia já nasceu salvo. A poesia salv(a)ou meu(s) dia(s). Tudo é poesia. Vivo em poesia. Cartola de mágico: enchemos o que está vazio, juntamos os ponteiros do relógio, fazemos do choro, alegria e da alegria, a lágrima. Qualquer instante, estrela que não morre mais...

Zélia




Photo by Ploop26

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Entre um poema e outro e mais tantas linhas

Prezada Alice,


Há tempos andava ausente. Longe de meus papeis e a caneta de cor azul que traduz meu pensamento. Meu silêncio aparente não me deixou longe de ti. Continuei rindo, concordando, discordando, corrigindo e brigando contigo. Não vivo mais longe dos teus segredos revelados entre linhas. Hoje, não resisti. Quis chegar mais perto de ti e me revelar traduzida em palavras. Teu atrevimento me perturba justamente porque continuas a me fazer vomitar palavras, pensamentos, atos e orações. Ousaste demais em apontar-me o dedo:


"E quem é você que me olha enquanto tento escrever?"


Deste lado, quem ousaria responder tal questionamento? Será que sabemos a resposta? Talvez, eu pudesse fazer uso de sua "teoria do exagero" e tentar responder a essa questão. Mas acontece que as pessoas perderam mesmo a noção da medida - e não foi de hoje. Tudo parece ficar mais bonito se ornado com pétalas de rosas aos montes, bandeiras coloridas penduradas por todo lugar, confetes e serpentinas mesmo não sendo mais carnaval. Perdemos a nossa colher-medida, aquela mesma que as nossas avós usavam para preparar seus bolos com sabor de festa de criança. Ficamos com mais uma teoria em nossos bolsos a juntar-se com a teoria do conto, da relatividade, da evolução, da repressão, do complexo de Édipo, do utilitarianismo, do criacionismo, do conhecimento, do efeito fotoelétrico, a cognitiva, a psicanalítica de Freud, da aprendizagem, da constante cosmológica, do comportamento humano, da conspiração, da verdade. Mas espera aí... Qual é a verdade nisso mesmo? É que esqueceram da teoria da simplicidade. Mundo encharcado, caixas de sapatos abarrotadas.

Quanto a mim, vou saindo simples assim. Seria a própria teoria do exagero se tentasse responder quem eu sou...


Saudações literárias!

Sua amiga,

Sally







Photo by ploop26

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Da Inutilidade da Busca

Já cansada de tanto andar
E de olhar para os lados
Sem nada encontrar,
A menina pergunta ao Gizmo,
- O gnomo bicolor que encontrara -
“Onde encontro a casa do chapéu?
Estou tão triste. Preciso ser feliz...”
Gizmo, do alto de sua sabedoria:
“Não procures onde Judas perdeu as botas,
Nem onde o vento faz a curva,
Muito menos na caixa prego.
A Casa do Chapéu fica
Ao lado da Casa da Felicidade,
No mundo dos Sonhos.
A Casa do Chapéu fica
Aqui, ali em todo lugar.
Bastam olhos para ver.”
Mas a menina era cega
Até dos olhos d’alma...

Zélia









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Um certo Judas "Carioca" trouxe-me até este "texto" que eu havia escrito há algum tempo...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

conceitos da nova enciclopédia

Poesia também é forma de rir. Ultrapassa qualquer demonstração do que quer que seja. Tem ódio, amor, felicidade, fome, preguiça, maldade, bondade e muitos outros sinônimos e antônimos. Poesia não tem fim.


Alice


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

a história do mundo

Engraçado como o céu se despede da chuva. É sempre a mesma nuvem, lá no canto da tela, enfrentando o primeiro brilho do sol. E ela se transforma. Antes cinza, logo nuvem amarela. Não aquela cor que o Quintana não suporta, mas um amarelo pacífico, uma trégua depois de uma reclamação dos santos. E engraçado como a gente anda feliz, corpo cansado, poderes alterados, mas a gente se ergue e caminha sem parar. E dos goles completos, a gente só respinga. A gente é chuva, poeira e energia. Telúrica ou não, a gente vive feliz sob o chão e respira forte para afugentar a solidão. A gente só não rima, mas combina. E mais engraçado ainda - a gente vive reclamando da vida, mas ninguém arreda o pé. Um bando de gente vivendo feliz e uma nuvem amarela no canto da tela. Vida inteira a seguir.

Alice


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A flower in the window: happiness coming in

Here I am.

I’ve picked up the happiest lines of all favorite poets
Dressed up in the colorful rainbow in the sky
Grabbed one million dayses in a chain
Listened to a new song every single minute
Swum among the words of books
Slept with angels
Waken up with the voice of a heart
Played the hopscoth of life.
Of course,
I’ve felt the thorn of a rose
Heard the cry of babies
Seen the dark side of the moon
Visited the devil in desguise
Drunk the tea of sorrow
Opened Pandora’s box
Rolled the dice wrongly
Forgotten the address to the golden door.
Nevertheless,
I’ll keep on saying
I’m happier than blue
And if I do not fit the patterns
You stablished for me
I don’t mind.
However,
That’s when I feel alone
Time to strike the right key, then
It’s all a matter of choice
I choose the flower in the window!

That’s me:

A recollection of moments taken by the road
At the sound of a song that says
“Do Re Mi”


Zélia










Photo by Angel Marika

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

canção dos temas

Era noite e tarde... Tarde para os que cedo tinham que levantar. Júlia tinha que acordar cedo e fazer o que deveria ser feito: Limpar, cozinhar, cuidar e ser a forma perfeita para a qual tinha sido moldada. Tinha que ser mulher. Mulher das canções. Em sintonia com seus filhos, marido, familiares e pertences. Incluindo também vizinhos, donos de mercadinho e os observadores. Embora não se preocupasse com opiniões que não fossem atingir sua família, tudo estava bem. Ela estava bem em sua vida pré-moldada. O marido, que trazia a marca traiçoeira do destino, bebia como seu pai. Tudo era motivo para um gole de algo que fosse a base de álcool. Tudo típico: Jogos, reuniões de fim de semana e futebol com outros pré-moldados. Ela já se habituara a usar essa palavra desde um dia que ouvira em um programa de TV, um homem falando em cozinhas pré-moldadas. Júlia, com a pouca instrução intelectual que possuía, fez a incrível descoberta de que, algo pré-moldado viria a ser algo que foi feito para um objetivo. E eis que descobrira, aos 34 anos, o objetivo do marido. Ser um homem igual a outros que por sua vez, carregavam adjetivos de outros. Nada era novidade. Nem sua história, nem seus filhos, nem suas vizinhas. Tudo era repetição. Ao olhar o álbum de fotografia de sua mãe, bastava apenas que as roupas dos personagens fossem trocadas. O palco era o mesmo. A canção era a mesma. Sua casa cheirava a água sanitária - tudo limpo e a bagunça usual de quem tem três filhos. Ela escolhera os móveis, aliás, aceitou-os de presente. Nada era seu de verdade. Nada tinha o seu gosto. Os filhos eram amados, porém tornaram-se pré-moldados também. Com suas bocas cheias de palavras grandes, na idade em que se encontravam, nada poderia Júlia fazer. Apenas deixá-los limpos e usar talheres durante refeições em casa de amigos. Ser o que havia sido treinada para ser. Cheirar a gordura e deitar de bruços. Seus dias eram moldados e politicamente iguais. Tivera a sorte de não chorar e não reclamar. Viver no silêncio da aceitação, dentro da Não-Alegria Feliz e freqüentar simbólicas reuniões na igreja de sua comunidade. Havia sido pré-moldada e qualquer peça fora do lugar, tiraria tudo do ritmo, do desafio de ser A Mulher Do Marido que lhe dera Filhos para se distrair. Cantava para dentro a melodia de amar a vida e viajar sem destino. Olhava o céu à noite e ver estrelas cadentes lhe trazia a sensação de que a janela de sua cozinha era um belo quadro de animação. Estrelas Cadentes e roupas para guardar. Alguns são médicos, professores, amantes, pesquisadores da alma humana, deuses, poetas, motoristas e muitos são o que ainda está por vir. Alguém precisa ser quem Júlia era... mãe, esposa e observadora de estrelas. Alguém precisava deixar as ambições e lembrar que essa vida não é a última. Não é o fim da linha - a canção dos temas continua.

Alice

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Dia e Noite

Já não existem mais pegadas tuas em meu caminho. Cenário mudado, tudo diferente. A não ser as falas de um ou outro personagem de timing perdido e eu que insisto em voltar ao lugar de onde partiste. Desde o dia que antecede aquele momento em que deixastes as páginas do livro que sou, procurar por ti em jornais de ontem que ainda circulam é meu autoflagelo. Não é meu coração nem minha cabeça que me levam a ti mas meu corpo. As marcas de deixas(tes) nele precisam ser acesas para que eu continue respirando. Sou eu o meu maior inimigo. Fecho os olhos, a todo instante, para o que me é oferecido e, ao ouvir você dizer: “-Minha literatura não rebuscada se enche de você”, me alimento da dor de reconhecer que sou criatura de um amor só. Gastei-me todo mas tento (re)nascer alimentando-me do (des)amor que passou em minha boca.


Zélia


Photo by Kelsievent

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Estação de todo tempo

Toda liberdade vem do grito. Mas quem falou que para ser livre é preciso fazer alarde? A gota que transborda o copo é expressão de liberdade. Assim como a pena que se despede do pássaro preso na gaiola, voando com o vento, também é expressão de liberdade. Liberdade se conquista pela renúncia ao que não nos cabe mais e pela entrega total do Eu ao universo em que me encontro. Nem que, para isso, eu tenha que criar o meu próprio mundo...

Zélia