sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Concreto sofrimento



Pedra. Vinda de uma combinação de minerais inunda o meu corpo modificando o meu ser. Estou. Presente do indicativo – apresento transitoriamente certa condição ou qualidade. Sofro. Sou humano. Nasci chorando. Expulso pelo encontro meu e de minha mãe com o limite tive que sair do lugar que acreditava ser meu universo permanente. Aperto. Passo espremido e mal consigo enxergar o novo mundo. Perda. Primeira a carregar no bolso. Choro. Ando. Antes, me arrebento todo até acertar o passo. Lágrimas todas as vezes que recebo um não. Suo. Frio que congela a espinha e arregala olhos e ouvidos. Não entendo. Não durmo. Você grita na sala. Fujo. Procuro a liberdade de que ouvi falar. Esconderijo. Perda. Ainda. Vivo a dor de temer fitar teus olhos outra vez. Cresço. Roda viva de conflitos. Continuo sofrendo. Encontro. Liberdade e desejo. Mas desejo é ausência. Ausência é sofrimento. Luto. Perdas se acumulam. Descubro que a batalha é, também, perdida após guerras travadas. Morro. Desço abismos mais profundos. Perco inclusive a mim. No escuro é mais difícil enxergar a luz. Olho. Agora, procuro teu rosto que não mais me fita. Fitas coloridas. Sonho. Há flores no jardim que você deixou. Renasço. Ainda há vida dentro e fora de mim. Viajo. Trago bagagem que me cabe carregar. Pedra. Sou. Indicativo de presente – essência de mim. A combinação de minerais modificou meu ser. Biogênica estrutura erguida em dor. Dor sofrida, estudada, aprendida, vivida dentro do limite que me fez nascer e que me fará morrer.



Image by CatchMe-22 On DeviantArt