sábado, 2 de outubro de 2010

Espelho




Todos os dias quando acordo – alguém já cantou essa canção – não penso em quem sou. Vivo. Mecanicamente a maior parte do tempo. Como, tomo banho, remédio, trabalho, escrevo, faço compras, sexo para alimentar a carne, vou e volto. Entre essas idas e vindas é que há o momento de reflexão. Quem não pensa naquilo que é ou no que faz não está vivo por inteiro. E há que se fazer a diferença entre o que somos e o que fazemos. Não cheguei a conclusão de que nada sou. Eu Sou! Mas engana-se quem pensa que eu sou dona de casa, escritora, professora, puta, orientadora de todas as horas para assuntos extremos. Lavar louça, escrever umas linhas, ensinar o 2 + 2, dar conselhos, são coisas que eu FAÇO. O que eu SOU vai muito mais além de deixar a cozinha limpa, montar um texto ou um poema, ver Pitágoras sorrir, satisfazer o homem em minha cama, dizer as pessoas o melhor passo a seguir. Eu SOU parte integrante da Natureza, amante da lua, do mar e do homem que tenho. Eu SOU luz, fogo, parteira, cantante. Eu SOU o hoje e o amanhã que vai chegar. Eu SOU aquela que ainda guarda conchinhas recolhidas na praia de São José da Coroa Grande. Então, eu vejo que a mecânica faz parte da vida, da matemática que vivo e ensino. Só. Dentro do espelho eu vejo vulcão em erupção na sua mais perfeita atividade de vida. Viva. 


Image by Kaalyjo on DeviantArt