quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sempre o Romantismo




A liberdade guiando o povo - Eugene Delacroix


Dentre as várias acepções que existem sobre o termo romantismo, a que mais me interessa é a que relaciona o movimento à renovação, à fuga a modelos pré-estabelecidos. A acepção mais popular do termo, contudo, relaciona-se à expressão do sentimento de amor entre duas pessoas – seja este sentimento correspondido ou não.

O movimento romântico teve sua gênese na esteira das transformações sociais vividas após a revolução francesa. Os românticos acreditavam que os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade defendidos pela revolução destruiriam as velhas estruturas do poder opressivo dos estados monárquicos e absolutistas. Ao verem que a revolução criou apenas outra forma opressiva de poder – desta vez a exploração da classe operária pela burguesia – os artistas românticos entraram numa fase de desilusão, à qual os leva à negação e à fuga da realidade. Um mundo corrupto, opressor e mentiroso não merece ser representado pela arte, sendo assim, o refúgio na subjetividade, no sonho, no devaneio e na infância passa a ser a tônica de muitos dos trabalhos do romantismo. Basta lembrarmos dos versos de Casimiro de Abreu: “Ah que saudade que tenho da aurora da minha vida/Da minha infância querida/Que os anos não trazem mais”.

Um dos bons exemplos da desilusão romântica vem do inglês William Blake que cristaliza dois momentos do romantismo em duas obras. A crença na possibilidade de um mundo renovado e livre da opressão revela-se em Canções da Inocência (Songs of Inocence) e o enfrentamento com uma nova realidade de exploração apresenta-se em Canções da Experiência (Songs of Experience). Certamente é essa crença numa transformação social que gere o fim da dominação de uma classe pela outra que faz o adjetivo “romântico” ser atribuído a todo aquele que é ingênuo o suficiente para acreditar que isso seja possível.

Como afirmei inicialmente, o que mais importa no movimento romântico é a renovação estética que determina o fim de modelos para o fazer poético. A forma revolucionária do romantismo é a liberdade da expressão do sentimento seja ele de amor, de fuga, de revolta, de contestação. Quando digo que sou romântico, estou dizendo que não creio em modelos. Modelos de vida, modelos de enquadramento social, modelos de modelos de modelos. Não sou ingênuo a ponto de acreditar no fim da opressão porque aprendi com os próprios românticos, em especial Blake, que ele não é possível, mas sou romântico o suficiente para crer que o meu “eu” (ou meu mim) deve ser a medida de tudo que existe.

Haja saúde.

José Ferreira Sobrinho - 13/10/2010