Ao reinventar minha vida, tudo igual. Um pouco mais de ervas aqui e ali e só. Com uma caixa de lápis nas mãos, pinto o arco-íris que quiser.
sábado, 27 de dezembro de 2008
RISCOS - partem 2
Que vão além de portugueses
E da Companhia de Jesus
Preferiu que fossem ingleses
E com eles caminha pelo Salão da Fama
Fortuna, Justiça
Nas noites do dia fatal
Eu me lembro do fantasma
De algumas das assustadoras faces
(Senão todas)
Que cobrem o meu monte
....
HELTER SKELTER!
José Ferreira Sobrinho
RISCOS - parte 1
Sua volta
E sentiu-se bem
Quero ter todos a meu lado
Para que nos destruamos
Em uníssono
Com guitarras ramoneanas.
Quando partiu para sua terra
Carregava a sujeira dos anos
Que foram limpos pela poeira da estrada
...
Só o homem pode devorar seus lobos...
José Ferreira Sobrinho
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Exercendo minha liberdade
And that's where you belong"
Liam Gallagher
Palmeiras,
Yours,
Zélia Palmeira
domingo, 30 de novembro de 2008
Precisa-se de passagem para o "asahi"
Mesmo distantes, Julynha e Mariazinha, continuaram perto. Julynha era aquela criança espevitada. Cabelos negros e ondulados, pele branca como a neve que nunca viu, bochechas rosadas como a manga que tanto gostava. Se destacava na escola por andar de um lado ao outro sem parar. Falava com todo mundo e era a melhor amiga de Mariazinha. Sua melhor amiga, era quieta. Cabelos castanhos de suaves cachinhos nas pontas. A pele de Mariazinha era mais morena. O que brilhava em seu rosto era o sorriso largo que vinha de sua boca cor de morango e que é sua marca registrada até hoje. O destaque na escola vinha de suas notas. Mariazinha não era de falar com todo mundo. Só o necessário.
Julynha contava seus sonhos a qualquer um. Queria cantar na televisão. Ensaiava na escola, em casa, na rua. Era a perfeita “Sandra Rosa Madalena”! Mariazinha guardava os sonhos pra si e para as estrelas. Só pensava em ser feliz. Brincava de namorar o primo e já pensava em casar, ter filhos. A amizade das duas crescia. Compartilhavam a escola, eram vizinhas de rua, tramavam juntas. Em dia de chuva, combinavam de enfiar os pés na lama, ao voltarem pra casa, para não terem como ir à escola no dia seguinte. Esqueciam que colocar sapatos e meias atrás da geladeira era costume na época. À noite, esqueciam tudo e brincavam na rua. Cantavam, trocavam bonecas, jogavam bola e academia. Para a brincadeira não acabar logo, cada noite, uma tinha que socorrer a outra em alguma coisa. Ora a música não tava bem ensaiada, ora uma boneca quebrava a perna. Sem perceberem, o ano terminou. Mariazinha mudara de escola e passara a morar em um bairro próximo. Já não havia mais como tramar para não ir à escola ou para a brincadeira durar mais.
Mariazinha passara a ter uma brincadeira mais séria, a partir dali. Tinha que cuidar de si e de mais alguns. Sempre soube que iria cursar a Universidade. Não era sonho mas certeza. Algo como se diz em inglês, taken for granted. De tantas coisas que pensou em fazer, Mariazinha passou a ser orientadora educacional. Conhecedora de várias línguas e cosmopolita, virou Mulher. A felicidade para ela, agora, tinha várias direções. Até casou com um rapaz que rejeitara, a princípio, mas que era uma versão up to dated de seu pai. Não teve filhos. Tinha crianças demais a sua volta. Além disso, gostava de viver namorando o marido e conhecendo outros lugares que não só o jardim de sua casa. Mariazinha nem varria seu jardim. Deixava que folhas e flores vivessem livremente enquanto viajava as quatro estações.
Julynha nunca saíra de seu bairro. Não virou cantora e se parece mais com a Amélia “que era mulher de verdade” e “sem vaidade”. A mesma pele branca mas pálida. Os cabelos cresceram e perderam as ondas. Hoje, parece ter enterrado seus sonhos. Não anda mais de um lado ao outro, quase não sorri e só fala o que lhe é perguntado. Casou com o franzino do Heraldo. Nosso vizinho e que não tinha nada do Sr. Agenor. Tem três filhos. Até onde consta, não cursou Universidade. O lugar que visita é só o seu jardim. Em todas as estações. Quando está lá, é sempre com a vassoura nas mãos. Não gosta de folhas secas ao chão. Nem de flores nas plantas. Estão todas em seu jarro de vidro azul em cima da mesa de jantar. Não se sabe mais o que ela espera nem se conhece felicidade. Na maior parte do tempo está só com sua vassoura.
Dia do soldado desconhecido. Seus caminhos se cruzam outra vez. Mariazinha vai ao salão de beleza. Havia cansado do visual que usara há algo em torno de seis meses. Julynha estava em seu jardim de vassoura nas mãos e cabelos iguais aos de tanto tempo. Elas se falaram. Mariazinha, abismada com a amiga e sua vida tão de todos os dias. Julynha, abismada porque a amiga camaleoa ainda queria mais mudanças. Elas sorriram e o sorriso de Julynha, embora fosse o mesmo de outros tempos, estava em olhos diferentes. Olhos que pareciam pedir socorro. Entretanto, Julynha continua agarrada a sua vassoura. Mariazinha sai daquele encontro pensando no que fazer para socorrer a amiga. Talvez, seja preciso estender-lhe a mão. Talvez, essa seja mais uma parte do quinhão do Destino das duas. Sol e chuva que se complementam. Felicidade é o que cabe a cada um mas é preciso que se descubra a cor que ela tem.
Zélia
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Poema diMinuto
sábado, 8 de novembro de 2008
Leio o que escrevo porque sou Eu *
“E de nada vale fugir
E não sentir mais nada”
(Renato Russo)
Dia diferente porque era outro dia. Não o de ontem. Início de minha viagem para casa. A janela do ônibus mostrava a paisagem que sempre me mostra cores novas. Enquanto eu admirava o mar azul de águas claras e límpidas, a minha imaginação alçava vôos cada vez mais altos. Quisera ver aquele mar imenso cobrir toda a cidade. Seria muito mais interessante viver como os peixes. Nadando num balé de vai-e-vem e saltando, vez ou outra, como fazem os golfinhos, seria muito mais agradável cumprir com nossos afazeres diários. Sempre sonhei assim. Com um mundo de águas claras em que eu pudesse usar colares de conchinhas catadas por mim mesma. Se o perigo surgisse, seria fácil: aprenderíamos truques com o amigo polvo, rei
"– Por que lês o que tu mesmo escreves?"
"– Leio o que escrevo porque sou Eu. Todo escritor verdadeiro é semeador. O semeador planta porque acredita em suas sementes. O escritor deve acreditar em suas letras."
O beija-flor, então, continuou o seu balé de beijar flores. Era suficiente o que ouvira. O jovem Antônio sonhava em ver seus escritos guardados dentro de um livro. O Antônio daquele dia segurava seus escritos nas mãos. Não soltos. Dentro de um baú do tempo. Morreria escritor de um livro só mas morreria escritor. Ninguém jamais poderia lhe perguntar se ele não tinha livro publicado.
* Fala da personagem não identificada em “
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Palavra morta
no escrito
jaz
pensamento
sentimento
amor
ódio
alegria
tristeza
...
palavras
pintadas
em papel
tudo
consumado
Zélia
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sábado, 18 de outubro de 2008
Poesia de mim em estações
II Estação:
III Estação:
IV Estação:
V Estação:
Zélia
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domingo, 5 de outubro de 2008
Flores de primavera e aço de abrigo
"O sábio nunca diz tudo que pensa,
mas pensa sempre tudo que diz."
Aristóteles
O escritor, todo aquele que organiza letras para expressar sentimento, não escreve para ninguém. Escreve para qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer hora e sobre qualquer coisa. Eu sou do avesso. Não estou! Nunca fui de olhar o mundo com olhos de quem teve o brinquedo roubado. Ao contrário, vejo o mundo com o sorriso de criança que recebe seu sorvete preferido. Se sinto tristeza e dor, se choro ou se me deprimo? Sempre que não encontro meus sapatos! Depois, tudo passa como tempestade de verão. Fica a terra encharcada. Mas ela seca logo. Tem que ser assim. Quem não acompanha os segundos se perde no Tempo. Não quero as pontes de onde possa me atirar nem sentir o peso de pedras em meu pescoço. Quero o pote de ouro ao final do arco-íris e um jardim que eu possa regar ao final da tarde. Além do aconchego do Amor que encontrou meu sorriso, herança da minha avó materna. Se é tudo perfeito? Não! A perfeição é a negação do humano e eu sou humana-normal. Sou normal do avesso. Falo de duas a três porções mais do que come um elefante. Mas só quando reverbero. Assim vivo! Não há por que dar ou receber explicações. Somos moldes únicos de uma pesquisa ainda em desenvolvimento. Chamo Felicidade a joaninha que vem à minha janela todos os dias. Se esse não for seu nome, que seja outro. Enquanto ela continuar atendendo meus pedidos, esse será seu nome. O meu, será Harmônica.
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Os Olhos de Deus
O que vejo é a própria Nýks em sua forma mais pura e suprema. Seu longo manto negro coberto por variadas formas de feixes de luzes, dá o sinal de que em tudo há vida. É no escuro que a conspiração ganha corpo para que a vida se manifeste. Vida que gera vida. Luz dentro do escuro. Lua e sol inseparáveis. Estrada construída em cometas coloridos e meus sapatos não são vermelhos. Que importa? Descalço, encontro a paz que, às vezes, falta em minha divindade ao deitar em minha casa de telhado de vidro. Abro os braços, sou o dono do mundo.
Zélia
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quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Eloqüência Níobiana
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Ontem para como hoje
A casa, agora, tinha janelas azuis. Isso indica alguma mudança? Fisicamente falando, sim. Interiormente, espiritualmente ou intelectualmente falando, será? Certamente que sim, também! Mudamos quando cai um simples e único fio de cabelo nosso. Mudamos quando a chuva inunda o quarto, mudamos quando um caminhão nos leva todos os nossos brinquedos, mudamos quando pêlos crescem, mudamos quando o mundo fica vermelho, mudamos quando lembramos que éramos seis ou oito ou dez, mudamos quando nos tornamos um – não serei mais eu mesma? -, mudamos quando somamos e mudamos quando não somamos, mudamos por não entregarmos nossas cabeças em bandejas, mudamos quando paramos, mudamos quando remontamos a sopa de letrinhas, mudamos quando soltamos as notas musicais, mudamos quando alteramos o movimento de translação, mudamos quando caímos de costas. Toda mudança é processo. Mudo, me transformo e não deixo de ser Eu. Sou eu ainda e sempre. Renovada como as folhas de uma árvore no outono. Esqueço de mim, às vezes. Mas o lembrar de mim, me transforma
Zélia
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quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Memorial da sagrada Universidade do Centavo
Retornaram os dois àquele lugar. Ela e ele. Embora updated em cores diferentes, outros olhares e alguns cantos fora de tom, era o mesmo lugar. O lugar aonde os fios de suas vidas se cruzaram. Sentiram aquele perfume de flores de sândalo. Era o mesmo lugar. O lugar aonde, desde sempre, sentiram-se um do outro. O lugar aonde um conhecera mais o outro. O lugar aonde um se consumia mais no outro. Fora ali o primeiro encontro dos incontáveis que tiveram. O primeiro olhar, o primeiro sorriso, o primeiro entrelaçar de mãos, a primeira fuga. A cada novo encontro, uma nova música que cantavam; o mesmo sabor de sorvete preferido; o mesmo instrumental compartilhado à distância; a mesma banda dividida; o mesmo sinal da cruz. Ali, só não trocaram juras de amor. Concordavam que por o amor não se deve jurar. Amor acontece. Foi assim com eles. Era só isso que entendiam. Não o que estavam a fazer, de início, ali naquele lugar. Haviam chegado em momentos diferentes. Não havia nada que aproximasse aos dois a não ser, talvez, por aquele sorriso no dia em que o calendário lunar marcava tempo de killing moon. Era chegada a hora no tempo do amor. Naquele espaço que pendurava na parede um indescritível quadro de uma família de lêmures, marcaram logo seu canto. De canto em canto, uma história começava a ser escrita. Foi dali que ganharam Salvador. Passou-se o tempo que não se pode contar. Eros vitoriosamente ainda os segurava pelas mãos enquanto entregavá-os aos cuidados de Zéfiros. Outra década, novo ano, mais um mês, outro dia e estavam ali novamente. Olharam-se no espelho junto à mesa onde costumavam sentar. Apesar de um eu e de um outro marcados pelo Tempo, agora aquele que conta os segundos, tudo era igual. Igual e diferente. O igual mostrava um sentimento que os prendia. O diferente mostrava um sentimento que vencia Chronos. Não precisavam voltar ali. Mas estavam lá. Relógio é dragão que quer engolir Amor. Música que adormece a alma. Voltar ali foi como uma viagem no tempo sem sair do lugar. Um chá, um café, pastéis de santa clara e o mundo seguiria ainda mais forte e constante. Estavam transformados. Ela já não era ela, simplesmente. Simplesmente, ele já não era ele...
(Mario Quintana)
Zélia
sábado, 23 de agosto de 2008
entre a lua e a previsão do dia
(Caio Fernando Abreu)
Por Letícia Palmeira
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sábado, 16 de agosto de 2008
Revérbero
“Toda significação reenvia a outra significação.”
in: A função criativa da palavra.
Ainda te conto
O que é um conto
O conto da Carochinha
O conto em papel de parede amarelo
O conto pela queda da casa de Usher
O conto que contou o velhinho Maurice
O conto que embrulhou sabão
O conto que não diz a verdade
O conto que custou seis réis
O conto que abriu o mar
O conto que levou o abraço
O conto que encheu um livro
O conto que trouxe o sorriso
O conto, a historieta de Henriqueta
O conto, a estagnação de Alice
O conto, a conta perfeita
O conto, a espera por você
Mas, por hora,
Eu não te conto
O que é um conto.
Zélia
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quarta-feira, 13 de agosto de 2008
A um certo Anjo que responde pelo codinome Amor
sábado, 9 de agosto de 2008
Texto solitário para um diário perdido
“Para que deve servir o Diário Íntimo?
1. para desabafar o coração;
2. para aperceber-se da vida;
3. para esclarecer o pensamento;
4. para interessar à [...] ” *
Que seja...
Hoje acordei do avesso. Dormi até umas 08h00min quando o U2 cantava sobre algo que ainda não encontrara. Eu até gostava da bendita canção mas depois que ela passou a ser meu despertador, percebi que quase tudo que busco está ao meu alcance. Além disso, percebi que aquela, agora musiquinha, estava me deixando deprimida com essa coisa de “ainda não encontrei o que estou procurando”, enquanto acordava para ir trabalhar. Troquei a musiquinha do alarme do meu celular pelo hino, instrumental, do Brasil. Pelo menos aquele som parecido com umas trombetas, do início do hino, me dá mais coragem para levantar – às vezes penso que estou em um quartel do exército. Entretanto, hoje era o meu marido quem precisava acordar – e não acordou. Pois bem. Estava a dizer que acordei do avesso. Senti vontade de limpar meu fogão, coloquei umas roupas na máquina, levei até à minha mãe um baú que ela estava precisando e até pensei em comprar um guarda-roupa pequeno para colocar em meu escritório. Espera um pouco... Guarda-roupas não devem ficar em quartos? Acho que sim! Mas como hoje estou do avesso, ele vai ficar no escritório mesmo. Tenho muitos edredons que não têm onde morar. Ainda do avesso, volto. O telefone toca. É minha escritora particular – ela escreve textos para mim e eu vou produzir o livro dela. Conversamos, como sempre, horas a fio. Fomos interrompidas, é claro, algumas vezes, pelo menino da bola azul. Ele não pára de correr atrás daquela bola. Quase no fim da conversa, resolvi que eu iria escrever mais um texto. Como? Se eu estou extremamente ocupada com meus afazeres de voluntária de uma Ong que cuida da preservação do meio ambiente? Ah! Esqueci! Hoje eu tô do avesso. Vou sentar e escrever. O que é isso? O meu almoço. Acaba de chegar. Vou almoçar sozinha mesmo. O meu marido levou uns alunos a uma aula de campo e acaba de ligar dizendo que vai se atrasar – vai jogar cartas com um amigo antes de voltar. Ele está interessado em saber sobre o seu futuro e como vão estar as cotações da NASDAQ para o ano que vem. Tudo bem... Eu me atraso para o jantar. Vou ver como está o pingüim que apareceu lá
Zélia
* Extraído d’ un Journal Intime por Henri-Frederic Amiel
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sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Flores enquanto escrevo
quarta-feira, 30 de julho de 2008
O eco de um canto
domingo, 27 de julho de 2008
Confissão em linhas claras
Avenida principal, tarde de domingo incomum dentro do comum da cidade. Um estranho me parou com uma conversa esquisita sobre as dez coisas que eu odiava no mundo. Não soube responder. De santa, eu só tenho o nome. Mas não odeio ninguém nem nada. Por que não me perguntara aquele ser bizarro, de tão esguio que era, vestindo preto e azul sobre coisas que não gosto? Poderia escrever Lusíadas dessas coisas.
- Não gosto de arroz – é a primeira coisa em que penso.
- Não gosto de intelectuais de versos ornados – faço tapetes com seus versos.
- Não gosto do cheiro do cigarro no banheiro pós décima quinta tentativa do marido em deixar de fumar – uma gota de Light Blue em cada canto do banheiro.
- Não gosto de esperar por quem esquece aquele que fica – solto meus cães farejadores na cidade.
- Não gosto de quem maltrata animais – somos, também, animais.
- Não gosto de quem desrespeita a natureza – quem não cuida de sua casa não merece crédito.
- Não gosto de vinho barato – já tomei ambrosia.
- Não gosto de me ocupar de você – o mundo é grande, a vida curta.
- Não gosto de ver sexo por trás das cortinas – sexo só é bom quando se está nele.
- Não gosto da mentira à minha porta – vasculho lixo antes de jogá-lo fora.
Lista grande. No entanto, eu não gosto mesmo é de ter do que não gostar. Queria ser a favor de todos os ventos. Mas não estou só mesmo estando. Há um tanto de fel entre coisas e pessoas que me cercam.
Zélia
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sábado, 28 de junho de 2008
Insight ao final de um arco-íris de palavras
A Sorte decidiu: as Fiandeiras cumprem seus trabalhos. Os fios surgem e corpos são presos a eles. Liberdade sob medida. Senhorio tolhendo Jardineiro aprendiz. Ventos vão e, na volta, sopram a quem tem ouvidos: “Artista é aquele que faz arte” – Arte: do latim, Ars: técnica e/ou habilidade relativa a uma atividade humana que esteja ligada a estética e a forma como expressão de emoções, idéias e a percepção de cada um. Vejo muitos quadros escondidos, tantas almas de livros empoeiradas, argila afogando mãos. Olho em volta e me declaro artista. Ser artista é não ter medo de se expressar. É construir seu mundo com tijolos escolhidos. Sou artista e somos artistas. Artistas de todo dia. Eu, você, a Bel e aqueles que habitam seus cantos quietos com sua arte muda. Ele que era Lord sabia que nem todo poeta ocupará estantes – talvez, nem ele próprio esperasse estar imortalizado nelas. Da mesma forma, nem todo tenor alcançará o Dó4. Nem todo pintor será dono do sorriso mais famoso. Nem todo jardineiro terá o jardim mais perfeito. Posto que, antes de tudo, um artista é aquele que se liberta dos fios que o prendem para voar alto e dar asas a quem não aprendeu a voar. Artista é Prometeu e é Epimeteu, fazedores de arte sem medo do que se esconde dentro do criador. Ouvidos abertos, mãos à obra. Trabalho maior é libertar homens.
O Poeta
Muitos dos poetas que jamais a inspiração
Puseram por escrito – e os melhores, talvez:
Sentiram e viveram, mas sem concessão
Dos pensamentos seus a nenhum ser mais soez:
Comprimiram o deus em seu interior
E juntaram-se aos astros, sem lauréis na terra,
Mais feliz porém que aqueles que o estridor
Da paixão degenera, e cuja fama encerra
Suas fragilidades, os conquistadores
De alto renome, mas cheios de cicatrizes.
Muitos são poetas, mas do nome não senhores,
Pois que é a poesia mais do que buscar raízes
No bem ou no mal ultra-emotivos e querer
Uma vida exterior além de nosso fado?
E novo Prometeu do novo homem ser,
Dando o fogo do céu e, tudo consumado,
Vendo o prazer da oferta pago, mas com dor,
E abutres roendo o coração do benfeitor,
Que, tendo dissipado dádiva sem par,
Jaz encadeado num rochedo junto ao mar?
Zélia
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sábado, 21 de junho de 2008
O avesso de um presente de grego: o nascimento de um artista
A música que ainda não tocou
É aquela cuja letra você esqueceu
A música que ainda não tocou
É a que te faz sonhar
A música que ainda não tocou
É a que você não dançou
A música que ainda não tocou
É a valsa que não te faz deixar de amar
A música que ainda não tocou
É aquela que toca todos os dias mas ninguém ouve
A música que ainda não tocou
É a que bate na janela do teu quarto
A música que ainda não tocou
É aquela que faz a bailarina cair de sua caixinha
A música que ainda não tocou
Continua a tocar todos os dias
A música que ainda não tocou
É a que escrevo agora
A música que ainda não tocou
Vem de você.
Zélia
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Desde os tempos de Jim, os dias continuam estranhos
sexta-feira, 13 de junho de 2008
O retorno de Saturno (e o cochilo de Balzac)
Não tenho livro publicado. Apenas escrevo. Escrevo porque vivo! Escrevo a caminho do trabalho. Linhas tortas. Talvez um dia, eu publique um livro. Deixarei um exemplar de luxo na cabeceira de tua cama...
Zélia
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quarta-feira, 11 de junho de 2008
Maria Lúcia
Era simples
Simples dentro do complexo
Tão simples quanto a noção
De causalidade aristoteliana
Era simples
Simples como catar conchinhas
Mais simples que juntar peixinhos
Em baldinho cor de rosa
Era simples
Simples de ver chuva cair
Igualmente simples ao
Raio de sol janela adentro
Era simples
Simples sorrindo e salvando dias
Simples em flores que plantou
Simples brincadeira em floresta
Simples por amar simplesmente
Simples de viver com os pássaros
Simples nos amigos que juntou
Simples no exercício que a santificou
Simples seguindo seu calvário
Simples ao ir com a estrela que passou
Simples nas lições que ensinou
Simples tal qual poesia de Coralina
Simples da mesma forma que
Escrever por escrever
Era simples
Complexo fácil de desvendar
Era simples...
Zélia Palmeira
À mais bela expressão de vida que já conheci: meu espelho maior, minha avó materna, Maria Lúcia. Amor infinitamente infinito...
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domingo, 8 de junho de 2008
Nosso tempo de hoje
"...You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall..."
Oasis in:Wonderwall
Zélia Palmeira
Para Juljan Palmeira - Luv you! ;)
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Canto a Calíope (causa da minha inspiração)
Choro ao ouvir-te
Falar em saudade.
Perdoa esse coração
Ingrato, tantas vezes,
Ao teu insaciável olhar
Mas disposto a saciar
Tuas manhas e desejos.
Ainda com a mesma
Dedicação que revelou em ti,
Forte-Mulher-Escritora-Louca,
Menina que chora ao ver
Lagarta se transformar em
Borboleta e voar...
À minha amiga chorona que dorme em Alice. ;)
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quarta-feira, 21 de maio de 2008
Words with benefits
Cloto continuava firme em seu trabalho comigo. Ganhara mais um dia. Outro dia que parecia igual a tantos outros não fora pelo momento epifânico que me acometera. Ouvi inúmeras vezes um poeta, em sua perfeição, – todo poeta é perfeito - repetir seus versos. Tudo parecia sempre igual. Mas não naquela manhã de quarta-feira, igualmente chuvosa. Senti um estalo ao ouvir que é possível sentirmos saudades do que ainda não vimos. Como assim? Saudade do futuro, então? Minhas bolinhas de açúcar estão fazendo efeito contrário? Depois de respirar fundo, como dissera minha terapeuta, descobri: sendo, simplesmente! Saudade do que espero
Zélia
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segunda-feira, 19 de maio de 2008
ninguém em casa
Mas eu espero.
Aprendi a esperar.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Todo tempo bom
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Elixir Bakhtiniano, janelas abertas, mundo solto
Zélia
"All things"
I'm not perfect
Not basic
Not aware.
I don't shine
Happy not all time
I cry
Pretend
Intend
Run away
Comprehend
Don't understand
He loves me
He loves me not
All my irony
The criticism of defense
The flower in bloom
The girl not in need
Not nice, have no enemies
Living under the sun.
Learning from ups and downs
That life is
All things
The wind brings
When we are not
Concerned...
Alice
"The mirror"
I'm full
Winding
And wise
I have my light
Wild all time
I shout
Act
Do
Undo
Stay
Leave
Understand
Misunderstand
He loves me
I love him too
All my hurt
Comes from my heart
The tree that stands
Without fruit
A woman in chains
Fine but having enemies
Sharing suns and moons
Teaching more than learning
And life is within me
Is within you
Is within us
Being concerned or not.
Zélia
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quinta-feira, 1 de maio de 2008
Eu, o amor, a ida, a volta, o avesso, o direito, um jardim, os outros, meu primeiro relato: somos todos iguais!
Voltar nem sempre é fácil. Há muito tentei retornar ao meu Jardim mas não sei, já sabendo, o que me impedia de estar de volta.Uma das dificuldades em se “voltar” está presente no nosso inconsciente em alguns dos sentidos que o termo em questão apresenta. Entre eles, “ir outra vez, repetir-se”, “pôr do avesso, ou direito”*. Se isto não fosse suficiente, há ainda os empecilhos nossos de cada dia, como as centenas de provas e cadernetas que quase me soterraram nos últimos dias, ou de cada momento: agora mesmo, fui impedida de continuar por falta de energia. Mas bem, comecei a falar de volta sem explicar o porquê da minha ausência. Há tempos sentia-me um tanto quanto fora de mim – por mil razões! Mas eu não parava, não conseguia parar... Até que fui “obrigada” a isso. Parar é bom! Viajar de “ônibus azul”, contar estrelas, abraçar Morfeu, fugir de Cronos, pôr meu avesso no direito, o direito no avesso, beijar a mão de Deus. Só continuamos se, também, pararmos. Continuando, estou de volta para regar minhas flores, encontrar meu trevo de quatro folhas, sentar num banquinho, fazer colar de margaridas, desmanchar tudo, brincar de bem me quer, mal me quer, desenhar sol no chão e uma arco-íris pra acompanhar. Voltei mas vou continuar parando...
Zélia
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segunda-feira, 28 de abril de 2008
tempo esquecido
É esconder o que é saber ou vontade de fazer viver?
É manga de camisa fora de moda ou música em acorde maior?
É chamar amigo pelo nome errado ou errar de prontidão?
É sertão ou alergia?
É complexo de culpa ou mulher nua?
É descartar hipótese ou viver da violação?
É o frigir ou o queimar da evolução?
É tentativa de correr da chuva ou andar de olho aberto?
É secar fantasia um dia antes ou mirar semblante?
É ser mais que o mundo suporta ou recolher fingimento?
É pura anestesia verbal ou anarquia de quem escreve mal?
Tempo Esquecido em gaveta
Tempo Esquecido da vida
Tempo Esquecido
Olha ao redor e prova de mim
Que também esqueci que existe outro dentro de mim
Alice
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segunda-feira, 21 de abril de 2008
dragões do jardim
Obrigada por me amar. Eta frase patética. Parece que sou obrigação. Talvez eu seja mesmo. E lá vem a dúvida sobre o mesmo. Ela vem da cozinha e me traz biscoito de canela. Como a canela e a gente ri. Escritora, como foi mesmo que a gente chegou aqui? Ninguém responde. A gente tem essa telepatia - sabe o que a outra pensa. E como a gente pensa. Pensa e dorme. E eu escrevo coisa chata. Ela ri de novo e vai cuidar das crianças. Tem criança em toda parte. A gente é criança também.
Começa a conversa sobre o amor maior que é tão mortal. Alguém queima sutiã em passeata e a gente paga pelo resultado. Esse W.O. é insuportável. Amor é W.O.? Amor romântico da Austen, amor de morte da Plath e amor "sai de cima de mim" da Parker. Qual você prefere? Eu fico com a Parker, mas me aventuro no masculino da Austen. Ele tem raiva e aquele orgulho de homem nas roupas. Sou meio Liz Bennet. Gosto de complicar. E você, Maria? Que amor cabe em você? Ela sai e ri. Eu já sei. A gente se conhece. Ela gosta de amor "Here I stand Ironing". Você é igual à Marlene. Já sabia? Risada de longe - lá do jardim. Ela volta, a gente amarra um texto - texto foge. Amarra idéia e a gente é feminista, mas não se mata por amor. Coisinha escreve poesia porque quer homem. Coisinha escreve poesia copiada. Coisinha não viveu ainda a metade dos cabelos da gente. E a gente escreve e deixa derreter barra de chocolate. A gente já nasceu mulher. Ani DiFranco e Erin McKeown fazendo a gente acreditar. Caminho aberto e texto amarrado.
Alice escreve enquanto a Zélia Maria corrige cadernetas e provas. Provas são estranhas. Provam o quê?
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