segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Palavra morta

no escrito
jaz
pensamento
sentimento
amor
ódio
alegria
tristeza
...
palavras
pintadas
em papel
tudo
consumado



Zélia





Photo by JoyWillCome on DeviantArt

sábado, 18 de outubro de 2008

Poesia de mim em estações

Todo o Tempo foge ao nosso controle. Mesmo quando acreditamos controlá-lo, ele escapa as nossas mãos...



I Estação:

Outro dia, já não se faz muitos anos, era verão. Eu era criança, via a lua beijar o sol e deixar a cena. Catava conchinhas na beira da praia, colecionava peixinhos em um baldinho cor de rosa e tomava sorvete de doce de leite todas as tardes. Toda noite tinha jogo de amarelinha, um casaco de lã e uma rede na varanda para que eu pudesse contar estrelas.


II Estação:

Um dia, a chuva caiu. Era inverno. Tinha corrida na rua para encher o corpo com gotas de chuva e barquinhos de papel levando pela correnteza nossos sonhos para que se realizassem além do arco-íris, símbolo de aliança e alimentador de esperança. Mas inverno traz trovão, relâmpago, toque de recolher. Criança não entende isso. Não entende Tempo passar. Inverno é, também, momento de regar semente. Esperar ela brotar, crescer e frutificar. Quando o fruto amadurece, já se passaram mais dias.


III Estação:

Outono. Folhas vermelhas trazendo vida renovada. Os frutos colhidos indicam amadurecimento de Tempo e de mim. O olhar no espelho mostra alguém de fisionomia mais firme, séria. Lá dentro, ainda há desejos por conchas e sorrisos com pensamentos sobre os peixes no balde. Até um arrepio vem junto com a vontade de me esconder debaixo dos lençóis quando as pedras rolam no céu. Alguém disse que não é mais hora para isso. Que não seja! Gosto de nadar contra a correnteza de vez em quando. Esta época faz com que a gente não queira mais achar graça em circo. É preciso cautela.


IV Estação:

O amor bate à sua porta enquanto borboletas voam juntas, cães se beijam e joaninhas parecem um tapete vermelho de bolinhas pretas. É primavera. Tempo de se enamorar e fazer multiplicar. As flores estão mais belas em cada Jardim – mesmo para quem não vê. Cresci e agora entendo mais coisas. Entendo que ainda sou criança. Entendo que algumas coisas não são para ser entendidas. São para ser vividas. Eu vivo! Ainda conto estrelas, tomo banho de chuva, acho graça em circo e namoro muito. A diferença é que, agora, pago contas!


V Estação:

É a estação de todos os Tempos. O ciclo se renova. Beleza cotidiana em movimento. Tempo de fazer tudo de novo e mais o que não foi feito. Tempo de somar e subtrair o que não nos cabe. Dividir alegrias e tristeza, também. Não estamos sós e temos uma caixa de lápis colorido em nossas mãos.



O tempo foge mas só escapa a quem o deixa. Passei a colecionar estações em diferentes cores. Estou o que quero a cada dia e sou pedaços que juntei por escolha própria.


Zélia






















Photo by Enuh on DeviantArt

domingo, 5 de outubro de 2008

Flores de primavera e aço de abrigo


"O sábio nunca diz tudo que pensa,
mas pensa sempre tudo que diz."

Aristóteles

O escritor, todo aquele que organiza letras para expressar sentimento, não escreve para ninguém. Escreve para qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer hora e sobre qualquer coisa. Eu sou do avesso. Não estou! Nunca fui de olhar o mundo com olhos de quem teve o brinquedo roubado. Ao contrário, vejo o mundo com o sorriso de criança que recebe seu sorvete preferido. Se sinto tristeza e dor, se choro ou se me deprimo? Sempre que não encontro meus sapatos! Depois, tudo passa como tempestade de verão. Fica a terra encharcada. Mas ela seca logo. Tem que ser assim. Quem não acompanha os segundos se perde no Tempo. Não quero as pontes de onde possa me atirar nem sentir o peso de pedras em meu pescoço. Quero o pote de ouro ao final do arco-íris e um jardim que eu possa regar ao final da tarde. Além do aconchego do Amor que encontrou meu sorriso, herança da minha avó materna. Se é tudo perfeito? Não! A perfeição é a negação do humano e eu sou humana-normal. Sou normal do avesso. Falo de duas a três porções mais do que come um elefante. Mas só quando reverbero. Assim vivo! Não há por que dar ou receber explicações. Somos moldes únicos de uma pesquisa ainda em desenvolvimento. Chamo Felicidade a joaninha que vem à minha janela todos os dias. Se esse não for seu nome, que seja outro. Enquanto ela continuar atendendo meus pedidos, esse será seu nome. O meu, será Harmônica.


"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."

Caetano Veloso




Zélia

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Os Olhos de Deus


















O que vejo é a própria Nýks em sua forma mais pura e suprema. Seu longo manto negro coberto por variadas formas de feixes de luzes, dá o sinal de que em tudo há vida. É no escuro que a conspiração ganha corpo para que a vida se manifeste. Vida que gera vida. Luz dentro do escuro. Lua e sol inseparáveis. Estrada construída em cometas coloridos e meus sapatos não são vermelhos. Que importa? Descalço, encontro a paz que, às vezes, falta em minha divindade ao deitar em minha casa de telhado de vidro. Abro os braços, sou o dono do mundo.


Zélia


Photo by Eenuh on DeviantArt