segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ode a um moinho de farinha

"Desejo, necessidade, vontade."

Titãs em: Comida


A velha casa na esquina da rua da Saudade ainda conservava seu perfume de vanilla. Uns móveis haviam mudado de lugar, outros, jogados fora. Intactos, permaneciam os porta-retratos que contavam a história de Selina em cenas. De novo, apenas algumas traças na parede da sala e os filhotes de uma aranha que fazia morada no canto do guarda-louça e que Selina se recusava a tirar de lá. Tempo continua devorando Horas. Selina deveria seguir mas a ausência daquele que considerava o seu mais verdadeiro amor lhe travara a alma. Ela se resumia, então, ao seu desejo, a sua necessidade e a sua vontade.


DESEJO: É instinto, é fome. É indicador de falta, ausência. É o gozo que não chega. É o que não se conhece e que se faz sem pensar. É ação.

NECESSIDADE: É existência, é sistema. É o que determina a consciência. É fisiológica, é de segurança, é social, é de estima, de auto-realização. É de onde sai a vida.

VONTADE: É potencia, é fazer. É amor, liberdade foucaultiana. É o livre arbítrio em oposição ao determinismo. É movimento que exclui inércia.


O desejo de alcançar Felipe, a necessidade do sexo enamorado e a vontade de chamar seu nome, anulavam Selina a cada minuto. Selina já não era mais ela e não era outra. Era nada. Desfazia-se como os farelos de farinha que voavam do velho moinho, logo na entrada de sua cidadezinha. Isto era tudo que sobrara dela depois que Felipe fora devorado pelo mesmo moinho onde costumavam selar seu amor e desenhar planos para dias vindouros. A nova cor que teria a casa da rua da Saudade, as flores que enfeitariam as janelas, a árvore que seguraria o balanço para as crianças, o lugar da casa do cachorro. Os detalhes da cozinha, Felipe sempre deixou para Selina. Ao contrário de seu amado, Selina não deixava para Felipe a discussão sobre o espaço que ele teria para ver o futebol dos sábados com os amigos do moinho e os vizinhos. Uma verdadeira torcida organizada. Cidade do interior é assim. Todo mundo é amigo de todo mundo. A não ser para Selina. Sem Felipe ela já não era mais amiga de ninguém. Sua companhia era a do moinho Dias Paz. Sua única esperança era ser levada pelo vento como os farelos daquele moinho. Talvez, ao encontro de Felipe...




Imagem: ZackF (Deviantart)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Entre papéis, mais um equinócio

Vivo cada estação em cada detalhe. 20 de março de 2009, começo junto com as árvores a renovar minhas folhas para esperar novos frutos. Há dias, estou deixando partir muitas folhas. Outras ficam porque elas, como as fotografias, são o retrato de uma época. Prova de que as estações seguiram seu curso e frutos foram amadurecidos. Estou de volta ao outono. O mesmo tempo em que escrevi o texto que segue. Uma árvore mais forte, de folhas renovadas e com muitos frutos maduros para contar. O texto é um dos poucos que datei. Pela indicação que encontrei nele, abril de 1996, ele foi exposto no quadro de avisos da sede do Centro Acadêmico do Curso de Letras, UFPB, gestão Boca do Inferno, tempo em que eu presidia o centro. O texto está na sua versão original. Portanto, há que se considerar um fruto em sua fase de amadurecimento emocional e pessoal. Ele foi dedicado aos meus amigos que fizeram daquela estação uma estação perfeita...










Life on a stage (Play your part)



Sometimes I wonder what life indeed is. I’m sure this is a question that worries most of us. Especially during the days we are young.

I myself still didn’t get to a final conclusion. I even know if I (or anyone else) could get to it. But I’ve learned one thing: little details also worry us too much leading us to forget to live as we should. Probably it happens because there is no book to teach us how to live, what is too bad…

Life is something apart from theory. It has to be learned by practice. Making errors and rights if that is, according to Piaget, the way people learn anything.

The most important point then is how life is faced. We should just live. Live without thinking about our wrongs and rights, live as Dorothy Richardson says in Death: “Live as if you were going to die tonight; live freely!”

However, all this spirit of freedom does not mean living in a stupid way. Each one of us must be conscious of the reality we are inserted in and play our role.

I remember Shakespeare’s The Seven Ages: “All the world is a stage and all the men and women, merely players”. So, be active! Play your role and do not forget to choose a good soundtrack list to follow the story of your life.