sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Concreto sofrimento



Pedra. Vinda de uma combinação de minerais inunda o meu corpo modificando o meu ser. Estou. Presente do indicativo – apresento transitoriamente certa condição ou qualidade. Sofro. Sou humano. Nasci chorando. Expulso pelo encontro meu e de minha mãe com o limite tive que sair do lugar que acreditava ser meu universo permanente. Aperto. Passo espremido e mal consigo enxergar o novo mundo. Perda. Primeira a carregar no bolso. Choro. Ando. Antes, me arrebento todo até acertar o passo. Lágrimas todas as vezes que recebo um não. Suo. Frio que congela a espinha e arregala olhos e ouvidos. Não entendo. Não durmo. Você grita na sala. Fujo. Procuro a liberdade de que ouvi falar. Esconderijo. Perda. Ainda. Vivo a dor de temer fitar teus olhos outra vez. Cresço. Roda viva de conflitos. Continuo sofrendo. Encontro. Liberdade e desejo. Mas desejo é ausência. Ausência é sofrimento. Luto. Perdas se acumulam. Descubro que a batalha é, também, perdida após guerras travadas. Morro. Desço abismos mais profundos. Perco inclusive a mim. No escuro é mais difícil enxergar a luz. Olho. Agora, procuro teu rosto que não mais me fita. Fitas coloridas. Sonho. Há flores no jardim que você deixou. Renasço. Ainda há vida dentro e fora de mim. Viajo. Trago bagagem que me cabe carregar. Pedra. Sou. Indicativo de presente – essência de mim. A combinação de minerais modificou meu ser. Biogênica estrutura erguida em dor. Dor sofrida, estudada, aprendida, vivida dentro do limite que me fez nascer e que me fará morrer.



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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Pintura de porcelana




"O homem está condenado a ser livre"
Jean-Paul Sartre




Há quem diga que poeta não sou
- Que eu não o seja!
Minha poesia diz
Coisa que não é para ser dita
Não é redonda
Não é classicamente medida
Não é vanguardista
O drama encenado
É de gosto meu
A tragédia, de vida que vejo
Se sou poeta ou
Poeta não sou
Não deve ser
Questão a se considerar
Talvez, eu não o seja mesmo
Não chegam a mim
Com bordolatria
Meus moinhos
Não se transformam
Meus deuses
Têm nomes de gente
A Professora classificou
O poeta como alguém
Nem triste, nem alegre
Eu sou alguém
Sou alegre, sou triste
Não sou poeta!
Sou graduada em marginalidade
Desconstruo a linguagem
Faço dela o caos mayor
Eu já era livre antes do filósofo
Quer saber o que faço, leitor?
Não escrevo para você
Você é desnecessário ao meu texto
Lamento!
Meu texto vale por si só
O mar é meu
E faço poesia porque
Uso cifras e códigos
Faço arte enquanto
“Toda arte é inútil”
Eu ganho um Oscar
Pinto um retrato
Continuo escrevendo
E namorando o papel
Quer me chamar de outra coisa?
Quem sabe a-poeta?
- Que importa?
Que importa como me chamem
Que importa o que faça
Estou apenas tomando
Uma taça de vinho para relaxar
Cheers!



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