terça-feira, 27 de setembro de 2011

Elouquecencia

You don’t write because you want to say something, 
You write because you have something to say. 
Francis Scott Fitzgerald

 Você não escreve porque quer dizer algo, 
Você escreve porque tem algo a dizer. 
(Minha tradução)

 
 



Há quem não creia
Em minha retórica
De versos longos

Ensolarados 
Floridos 
Coloridos
Polidos 
Sonidos
Cândidos 
Descomedidos
Envaidecidos 
Sacramentados 


Em nada me afeta
Tua descrença
Minha voz permanecerá
LI BER TA
Enquanto Amor
Em mim
HA BI TA


Image by Lilfairie On DeviantArt

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mouse in the house



Moro em uma casa que não me pertence. Roupas, sapatos, poeira, traças e teias de aranha tomam conta de tudo. Entro e saio e o amontoado de coisas continua lá. Crescendo. Assim como se tivesse vida. Tem um ditado que diz – tem ditado para tudo nesse mundo. A sabedoria popular deveria ser mais sábia, então. – “Quando o gato sai, os ratos fazem a festa”. Olho o relógio toda vez que entro em casa. Não sei, ao certo, se para saber quanto tempo eu gastei fora ou se para saber quanto tempo me resta em casa até o dia seguinte. 22h44min de uma noite de um dia qualquer. Não me importo muito com os dias. Eles me parecem todos iguais. Volto para casa do trabalho. Extremamente cansada, meu maior desejo se resume a um banho, um copo de leite e cama. Como se estivesse participando de uma maratona, ultrapasso os obstáculos que me impedem de alcançar meu desejo. Em meio ao trajeto, ouço música e risos. Olho para um lado, nada. Olho para o outro, nada. Quando bem em minha frente, um rato me estende um tapete vermelho. Ele havia me preparado uma festa em agradecimento ao primeiro aniversário de minha hospitalidade para com ele. Sem muito que dizer, larguei o peso que trazia em meus ombros e cai na farra.


Image by Brandrificus on DevinantArt.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Flores de maracujá


Não é curta a vida. Curto é o nosso viver. Curto é o nosso olhar. O calendário perde seus dias e não enxergamos o que eles trazem e levam de volta. Neste ir e vir de dias que passam despercebidos, não percebemos a nós mesmos. É como se nos perdêssemos, também, por entre esses dias. Em um dia qualquer, sem querer, observei umas ramas de maracujá se arrastando pelo muro de meu quintal, oriundos da casa de uma vizinha que não me dá, sequer, bom dia. Minha reação foi instantânea. Não quero estas ramas invadindo o meu quintal. Embora o aroma da fruta me agrade, não suporto seu sabor. Mas, ignorei as tais ramas, ainda tímidas. Como insisto em voar diante da vida que me chega, os dias continuaram a fugir até que eu parasse, outra vez, em meu quintal. As, não mais tímidas, ramas de maracujá denunciavam minha ausência naquele lugar; denunciavam o que acontecia em minha casa; denunciavam minha cegueira frente a coisas simples; denunciavam minha abstenção diante da vida. O muro de meu quintal estava todo tomado por ramas de maracujá em um estado de vitalidade que não me pertencia. Flores e flores e flores de maracujá enfeitavam o meu quintal. Estática, eu observava as flores que virariam frutos. Retrocedi alguns passos, apanhei outras flores que haviam ficado em meu caminho. Senti o perfume de cada uma delas e resolvi não mais me apartar delas. Hoje, carrego um cesto cheio de flores de todos os tipos e cores.

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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ceia Santa

Se quiseres conhecer alguém verdadeiramente, 
Procuras saber dela por ela mesma. 
Não por outras bocas.


Véspera de feriado ainda não é feriado. Pessoas trabalham enquanto outras já se divertem. Sentada à mesa em um barzinho famoso em bairro nobre de minha cidade, bebo uma taça de espumante atrás da outra. Espumante é bebida de mulherzinha. Não fosse pela minha altura, diria que sou mulherzinha. Porém, de salto alto, 1m e 80cm me deixam mais para mulherão que mulherzinha. Continuo bebendo espumante? Continuo. Não bebo para ficar mais alegre, não bebo para esquecer problemas. Muito menos, bebo para ter coragem. Bebo água porque meu corpo pede. Bebo suco para refrescar. Bebo refrigerante porque pensar em meus ossos mais fracos ainda não é suficiente para me fazer parar de bebê-lo. Bebo espumante porque tem gosto bom. Quatro ou cinco taças e eu o abandono. Caso contrário, dormiria à mesa em lugar público. E eu uso lugares públicos para outros fins. A intenção ali era me divertir um pouco. Aliviar a tensão dos últimos dias. No entanto, eu só conseguia pensar que não trabalharia a semana inteira enquanto todo o mundo trabalharia. Pensava que na véspera do feriado ainda havia gente trabalhando. Bobagem minha. Véspera não é dia. Só quando é tempo de Copa do Mundo que o Brasil para de trabalhar antes da hora. Ando tão boba ultimamente. Tão boba que nem consigo prestar atenção na conversa de meus amigos. Não é difícil acompanhá-los. Ora eu faço um gesto positivo com a cabeça, ora faço um gesto negativo. De vez em quando, um sorriso. Tudo resolvido. Meu pensamento voa longe e se fixa no outro lado da rua. Três crianças entre dez e sete anos. Conheço essas crianças. Estão sempre por aqui. Mas o que fazem a essa hora da noite, véspera de feriado, ainda por aqui? Eles trabalham guiando uma carrocinha puxada por um burrinho ainda criança, assim como os meninos. Juntos, eles passam o dia carregando papelão, garrafas plásticas, coisas que possam ser recicladas. Nunca vi um adulto com eles. Não desgrudo meu olhar um só segundo. Àquela altura, já nem sei mais se devia gesticular com um sim ou um não. Meu pensamento era mais de reprovação. É tarde, meninos. É véspera de feriado. Eu e minha bobagem. Até parece que estou falando de véspera de Natal. Tomara que na véspera do Natal eles, a essa hora, estejam esperando pelo Papai Noel. Não. Não é véspera de Natal. É véspera de 7 de setembro. Que, também, é uma grande data! Eles não deviam estar esperando pelo D. Pedro II? Uma parada. O mais velho dos meninos desce da carroça. Vai até uma senhora vendendo churrasquinho na esquina. Ele pede, humildemente, por um espetinho. A senhora o atende prontamente. Ele volta com um espetinho brilhando por refletir a luz no olhar daqueles que o aguardavam. Eu observava. Todo espetinho tem quatro pedacinhos de carne ou de frango. Eles são três meninos. Hora do jantar. O menino mais velho, parecendo imitar Jesus, reparte o pão. Se dirigindo aos outros meninos fala: “Um para você, outro para você, um para mim e outro para o burro”. Cai da cadeira mas, o meu estrondo, não foi suficiente para despertar a atenção de quem me rodeava. Levantei e me juntei aos meninos e ao burro para saciar minha alma e meu espírito. 
 



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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Causos de um capítulo só



Chegou o pacote. O pacote chegou no dia do meu aniversário. Eu não pedi, mas, é verdade que não fiz nada para impedir que ele chegasse. Na verdade, eu fiz coisas para que ele chegasse mesmo eu não o desejando. Mais parece um presente de grego. Não veio no tamanho certo, na minha cor preferida, nem tem a minha cara. Não quero! Preciso despachá-lo. É isso que se faz com o que não queremos. Vou colocá-lo dentro desta mochila. A embalagem em que ele chegou está danificada. O cordão também não pode ser mais usado. Junto o resto que sobrou dela, o cordão e este lençol que não me serve mais. Sujou quando o pacote chegou. Deixa ver... Ah! Coloco dentro da mochila velha e é só arrumar alguém para me ajudar a despachar o pacote. Já sei. Elias não me negará ajuda. Vamos, Elias, pega o pacote e faz o despacho. Elias segue prontamente. Em plena cidade desperta, Elias, atira o pacote, em uma encruzilhada, com o carro ainda em movimento. Elias segue, porém, espera pelo desfecho que pretendia. O carro de trás, passa por cima do despacho. Pronto. Tudo resolvido. Despacho desfeito, coração não mais insistia em bater.

A vizinha de Matilda, sempre disse que o filho de sua companheira de conversa de fim de tarde, era um amorzinho. Era ele quem tomava conta da mãe de Matilda de cem anos de idade. A velhinha é dura na queda. Anda, come e faz suas necessidades sozinha. Mesmo assim, ele estava sempre ao lado da avó, dando-lhe não apenas assistência para o que ela precisava, mas, carinho, amor e atenção. Quando o menino completou onze anos de idade, Matilda, finalmente, lhe deu o que ele tanto pedia: um aparelho celular. Daqueles baratinhos. Caro, nem pensar! Dar presente caro para o filho era coisa que Matilda nunca fez. Não porque lhe faltava dinheiro. Matilda dizia que já gastava muito com comida e roupa para o menino. O menino estava feliz com seu celular mesmo não tendo ninguém para ligar. O Natal se aproximava. Quem sabe o Papai Noel não receberia sua ligação? Matilda, como toda boa mãe, já havia comprado a roupa que o filho usaria naquela noite em que nasce outro menino: o Jesus. Os vizinhos sempre se juntam na noite de Natal, dividem o que tem e fazem aquela festa. O calendário foi perdendo os dias. Faltavam, apenas, três dias para o Natal. O filho de Matilda, percebendo que seu celular estava sem bateria, foi carregá-lo. Ao colocar o bichinho na tomada, o menino levou um choque tão grande que fez parar o seu coração. Mamãe Matilda, não derramou muitas lágrimas no enterro do filho. Saiu do cemitério assim que o caixão desceu pelo túmulo. Disse ter muitas coisas a resolver no dia seguinte. De verdade, tinha. Assim que o comércio abriu suas lojas, Matilda estava lá. Foi trocar a roupa que havia comprado para o filho vestir no Natal por um vestido bem florido e fogoso. Era véspera de Natal e Matilda resolveu deixar a festa na vizinhança pela seresta no bar do seu Tião. Só lhe resta mais uma providencia a tomar. Matilda, agora, procura um asilo para colocar sua mãe. 

Atriz americana de boca carnuda declara em rede mundial: “Só as mães sabem o que é amor de verdade. A gestação e o parto nos fazem conhecer esse amor verdadeiro”. Será que ela esqueceu que seus filhos mais velhos são adotados? Será que ela faz diferença entre os filhos negros e os de olhos azuis? Isso ela não explicou. Ela, também, não comentou sobre o que é amor de pai. Ela não disse que cortou relação com o seu pai por causa de um caso amoroso que ele tivera com uma fulana quando ainda era casado com a sua mãe. Bom que ela não fala sobre as declarações de seu pai dizendo só saber dos netos pela mídia. Bom que ela não fala sobre o fato dela ignorar o pedido de um avô para conhecer os netos. Melhor, ainda, que ela não fala sobre o envolvimento dela com um homem casado. 

Enquanto isso, eu fico a conversar com meu botão. O único que sobrou na camisa que visto. Ele, pelo menos, concorda comigo. Esse conceito de mãe tem que ser revisto. Há mães e mães matando e ignorando as crianças que geraram. Você deve me dizer que não posso generalizar. Não generalizo. Mas, nesse caso, são casos e casos. Não falo de qualquer mãe. Falo de um conceito. Gerar e dar á luz a uma criança não é suficiente para que alguém seja chamado de mãe. Portanto, não se pode dizer que quem passou por essa experiência seja dono da verdade do amor. Infelizmente. Porque se isso não é suficiente, o que mais será? 


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