segunda-feira, 31 de março de 2008

crianças

Expiro – Mentalizo – Idealizo – Concretizo
A vida assombra os que não querem ver
Que as crianças dormem enquanto o tempo se vai.

As flores crescem
À nicotina
As coisas mudam da noite para o dia
Os dinossauros se apavoram ao som dos aviões

Ando - Canto – Vivo – Eternizo
O tempo se elabora de nosso momento
O mundo é o nosso grande relógio sem fim

As vidas mudam
Hierarquias
"Existem coisas tão bonitas"
A violência é docemente trivial

No centro do universo mora um rei triste e quieto
Ele se lamenta por sua solidão...
As margaridas crescem no jardim
As armas químicas dentro de mim
Crianças dormem em todos os lares
Suas janelas cuspindo miragens
E as novelas caricaturam opostamente a realidade.

Alice




















Photo by toiabates on deviantArt

sexta-feira, 28 de março de 2008

Inscrição para o outdoor na sua esquina

Eu não lhe devo satisfação mas vou avisando:
O que eu faço ou deixo de fazer
Não é endereçado a você.
Apenas "faço a minha".
Sigo...
Se não te atropelo é porque presto atenção
Aos sinais de trânsito.
Se não te abraço e te cubro de beijos
É porque não és meu bichinho de estimação.
No mais, não sou a estrela do seu palco!
Procure outro cenário p'ra rodar o seu filme
Candidato ao Oscar de melhor "dramalhão".


Zélia











Photo by kqcto6

terça-feira, 25 de março de 2008

Da poesia que você escreve

Poesia é a verdade do minuto revelado. Olhos para enxergar o que se esconde. É preciso que se saiba o que é para que coisas sejam o que são. O Ser é maior que o estar. Imensidão que transborda o ponto...

Zélia










Photo by theyellowflowerspar

segunda-feira, 24 de março de 2008

A quem responde do outro lado da linha

Tenho boas novas! Ouvi logo cedo que "a verdade simplifica a vida". Minha vida vem simples como a água da chuva que ainda corre no recanto da minha calçada. A mesma água que levava meus barquinhos de papel quando criança. É verdade que, mais madura, consigo enxergar mais por entre as tais moléculas de H2O. Mas o que vem a ser mesmo a verdade? Esqueci tudo que me disseram sobre ela. Já fazia minhas teorias antes agora, então, é que estou cheia delas. A de agora é "A verdade é o que eu quero que seja". Não esqueça que tenho outras tantas para quando você precisar. Uma teoria para cada minuto. E o minuto é tudo que faz de mim quem eu sou. A cada instante renovo o meu ser, enxáguo a minha alma, sopro minhas cinzas e sigo. Estou seguindo novamente e já ouço música na voz quebrada do despertador...

Agradeço o Tudo.

Amor ainda maior,

Sally

Para a Escritora Letícia Palmeira

(Minha mais bonita criação)

“De mãos dadas”, estaremos sempre. De qualquer lado da linha e em qualquer escada, olharemos o tempo correr porque “O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente". *

Ah! Um pouquinho de juízo não faz mal, não. ;)

* O Sr. Drummond in: Mãos dadas




quarta-feira, 19 de março de 2008

Tricô entre linhas



A mulher e seu ato beneficente


Sacode a cabeça e deixa escapar a sua democracia. A democracia das palavras e das atitudes coordenadas. Mulher que é mulher de verdade, fala suave, empurra carrinhos de supermercado e corre por entre os dias. Então faço esse triatlo. De mim para mim, ponte de compreensão, acordo ouvindo Instant Karma e adormeço aos pés de deus. Retirante de imagens de revistas de auto-ajuda, sou marcha ré e azul, assim como a colcha de cama que comprei em minha última viagem. Viajei sobre as ondas perceptivas do Kerouac e encontrei gente varrendo teto e costurando p'ra fora. Triste fazer isso. Triste também ver criança partindo. Elas partem e nós combinamos o horário da conversa fiada. Cada um com seu punhado de alegorias para enfeitar vidas. Mas sou mulher e não outro ser. O que esperar de um ser que nasceu regido por vênus e marte em sua décima casa lunar? Essa linguagem me irrita, mas é assim que um amigo me resume. Odeio ser resumida, mas amigos podem tudo - só não podem nos sufocar. De sufoco não vivo e não entro quando sinto que algo me repele. Certa vez, toda arrumada, mulherzinha e linda, cheguei em tal lugar, olhei ao redor e caí fora. Senti um certo arrepio - o que me fez voltar p'ra casa. À força, não entro nem em igreja. Mas me socializo, me irrito e tenho medo disso e daquilo. Medo de barata, medo de mar cheio, medo de atravessar rua, medo de quem tenta escrever certo, medo de falar errado também. Ando atarraxada à gramática e nem me venha falar errado - corto na hora e encho a tarde falando dos vocábulos. De nada me adiantou ler a Pluralidade Lingüística. Busco outra roupa - hora de sair de novo. Outro triatlo - médico, mãe e ioga. Distorço o que penso naquele chão com outras mulheres que também se desmancham em competições. Esse mundo é assim e nada irá mudar. Cães serão sempre cães, jardineiros serão sempre preguiçosos e maridos serão sempre compreensivos quando quiserem dominar as feministas que não saem sozinhas. É um mundo grande mesmo, cheio de respostas e lojas em liquidação. Pertenço ao intermédio e se não há tal palavra, acabo de criar. Sou sempre educada, me despeço e limpo os pés antes de sair. Não carrego sujeira dos outros comigo. Posso até ser exemplo, mas não me segue à risca. Sempre refaço o que digo e minhas ações não correspondem com o meu signo. Ser contraditório e daí? Todo dia acordo nova, embora ouça sempre Instant Karma, acordo com uma nova vontade. A única ação que me é repetida e me é necessária é escrever. Eis o meu ato beneficente para mim mesma. São doações dia e noite - via Funchal e via láctea. Escrevo e a rotação de meus planetas regentes que me suportem. Sou o ser mais contraditório que há.

Alice


Comício de Leitora


Bom, me vi aqui e ali nessa "mulher e seu ato beneficente", muito bem escrito e trabalhado. Mas eu sou mulher que dá chilique quando a cena pede e, aí, falo alto. Mas essas cenas são sempre curtas e, normalmente, acontecem com a mesma freqüência com que vemos duas luas no céu. Falo alto também quando vendo aula. Meus alunos, às vezes, parecem criança no parque. Ah! Os carrinhos de supermercado cabem ao meu marido. Ele tem mais força física que eu. Eu sigo a ponte da compreensão, sim. Não de tudo. Não compreendo quando se joga Vida fora. Acordo sempre ouvindo a música do dia. Acho que é isso que me anima e renova. Não suporto quando o som se repete. Parece que não saio do lugar - cada louco com a sua mania. Muita coisa me irrita ainda. Talvez, porque eu coma pouco das bolinhas de açúcar. E, como mulher, desisti do meu signo cedo. Ele sempre mentiu pra mim. Não gosto de sufoco, muito menos de amigo que sufoca. Adorei a idéia de limpar os pés antes de sair de um lugar. Eu costumava me sacudir como cachorro molhado mas só limpar os pés, é mais clássico e mais parecido com o meu estilo. Sou mais democrática que socialista. Sou perseguida apenas pela gramática e pelos medos que ainda me restam. Entretanto, pavor eu só tenho de quem fala "elado" e escreve "crássico". Essa história do triatlo é que me cansa. Mas Ele está lá - fui escolhida pelo Amor mais perfeito. Por isso, devo confessar que acredito, ainda, em um mundo diferente. Todo pintado a mão com caixa de lápis Faber-Castle, 36 cores. A única coisa que mudaria nesse mundo é que eu o colocaria dentro de um caleidoscópio. Para que todas as pessoas pudessem ver um mundo ainda mais colorido a cada vez que olhassem para ele. As doações "dia e noite" são fundamentais para esse mundo novo. Começando por cada um de nós mesmos. É o nosso "ato beneficente" pessoal e coletivo. Acredito ainda que só o Amor - vivido e compartilhado - é que pode salvar esse nosso velho mundo. As contradições são como as voltas que uma moeda dá quando cai ao chão. Elas giram mas permanecem inteiras. Assim como os planetas de meu sistema solar que descrevem, dentro de outras linhas, o que eu sou enquanto estou...


Zélia





Photo by trinket











* Photo 1 by doorstopPhoto

quinta-feira, 13 de março de 2008

(Re)Nascer em Pessoa


Se é passado já não sou mais. Sou a renovação de uma história contínua feita de sensações de momentos vivos em textos escritos a cada virar de páginas...


Zélia


Ao meu amigo Fernando Pessoa e à sua Filosofia do hoje... 8)


Photo by burguerqueen

Morrer à mim(gua)

Ando fora de minha mente
E uma expressão inglesa
Travestida de português
Desenha os cavalos da minha garrafa
Acendo mais um uísque
Tomo outros cigarros
E não tenho intenção alguma
Existo somente
Para o deleite e a tristeza dos que me odeiam...

Júljan – 06/03/08




Photo by wolfone black







Atendendo a um pedido especial e colaborando com meu Escritor favorito... :D

terça-feira, 11 de março de 2008

entre o mundo e a guerra

O fundo do poço e estica bem o pescoço - o sol já saiu. Decidi escrever quando o mundo já conhecia de cor todas as palavras. O mundo é cheio delas. Cheio de declarações e de guerras. Mas de guerras não me atrevo a falar. Vai que um dia a minha explode e descobrem que por trás de mim tem sempre uma porta aberta. Decidi escrever e disso me alimentar. São todas as refeições e não sigo dietas - ora como Machados - ora devoro o verde do Prado. A coesão da narrativa é uma das minhas melhores amigas e as entrelinhas, o padre na hora da confissão. Se tenho segredos não sei. De mim sei apenas que decidi escrever e não uso ponto final - vai que um dia ele chega e leva a encrenca limpa do meu texto e o beijo arredio no quintal. Gosto do medo, dos pecadores e também da covardia. Me alimento cedo para escrever. Ficarão as palavras - o mundo é cheio delas. Palavras não se apagam e uma vez ditas, está perdido o ventre que as criou.


Alice




















Photo by Leilanee

segunda-feira, 10 de março de 2008

Filosofia de par em par

Mentiras brancas e mentiras pretas

Mentiras suaves e mentiras fortes

Mentiras cegas e mentiras afiadas

Mentiras soltas e mentiras engessadas

Mentiras agudas e mentiras circunflexas

Mentiras abertas e mentiras fechadas

Mentiras em Si e mentiras em Dó

Mentiras camufladas e mentiras escancaradas

Mentiras que curam e mentiras que matam

Mentiras que libertam e mentiras que aprisionam

Mentiras que aliviam e mentiras que machucam

Tanto faz!

Mentira é verdade diminuída em seu papel libertador.

Procura-te no espelho e diz:

Quanto vale a tua verdade enfeitada de corais?

Responde-me se puderes...


Zélia
















Photo by ApolloniaDragus

sábado, 8 de março de 2008

Not guilty

‘Living without danger is not living at all.’ That was what said the ad you were holding. If taking risks means living, I’ll take my risks! In fact, this is something I already do. I take my risks:

when I leave home
when I face you
when I say no
when I say yes
when I speak a different language
when I write a poem
when I read my lines
when I play my role
when I choose a cd
when I listen to your songs
when I open doors
when I close windows
when I smell the teen spirit
when I grow seeds
when I pick up a flower
when I go to work
when I stay home
when I gather friends
when I split some trash
when I clean houses
when I roll the dice
when I start a game
when I quit
when I make my sex
when I hold hands
when I believe in sickness and in health
when I pray
when I do
when I undo
when I wait for you
when I cry
when I smile
when I hope for kids
when I come back

...

Whenever I breathe I take my risks. For not living at all, I’m not the one to blame.


Zélia


sexta-feira, 7 de março de 2008

Olhos fechados e passos curtos para o que está atrás da porta

Mais dois passos ela descobriria o que a salvaria daquele afogamento no mar de lamúria que cobria seu quarto. Mas ela não movimentava mais suas pernas. Não saía mais do lugar em que se enfiara depois que ele desocupou as prateleiras da sua estante, esvaziou as gavetas de seu guarda-roupa e levou os objetos que espalhara pela sua casa. No armário do banheiro, deixou apenas a escova de dente que usava. Ela já estava velha mesmo e precisava ser trocada. Ou seria um sinal que um dia ele voltaria? Esperou... Esperou tanto que não conseguia mais sair do lugar em que se encostou naquele dia. Já faz tanto tempo que o calendário perdeu sentido. Mesmo assim, resolvia sempre ficar e esperar. “-Não sozinha!”, disse ela ao besouro que chegara a sua janela. E completou confiante: “-Nunca se está realmente só: tem os outros em nós, a música que toca, a letra que forma, o pássaro que voa, a lembrança que povoa, o filme que passa, o desconhecido que acena na esquina, o sol que nasce, a lua que brilha, a estrela que cai e você que vai chegar.” Esquecera apenas que o tempo corre em toda espera. Geleiras derretiam e a água cobria tudo sempre mais e mais. Ela ficou e se foi. Esvaeceu-se no que um dia acreditou ser o perdão para todos os seus pecados...


Zélia














Photo by Dollsey

segunda-feira, 3 de março de 2008

Textículo



Passou a chuva.

Jogo espalhado.

Tudo que restou,

Dentro de um velho baú...

Zélia

domingo, 2 de março de 2008

doença crônica

Cem inspirações só em alguns anos, quando a mão murchar e o novelo de lã acabar. Agora é a gente que grita e sacode a brisa que nunca esfria aqui em nossa terra. Alguém se inspira em Paris, alguém se inspira aos Lusíadas, mas como a gente, ninguém tenta acordar tanto as letras que dormem por falta de leitura. A gente usa até falta de imaginação para criar e pode vir Lacan e a Academia inteira. A gente ainda dá forma aos textos sem resolução. A gente sofre de doença crônica e não tem quem dê jeito. Só escrevendo. Uma letrinha miúda e lá vem outra criação.

Alice


















Photo by kala.schni.kowa

sábado, 1 de março de 2008

Cem-inspirações e a apologia ao conhecer


Não me importa se não sei das coisas. Não me importa se não sei com quantos paus se faz uma canoa, onde o vento faz a curva, onde o diabo perdeu as botas. Não me importa se não sei todos os elementos da Tabela Periódica ou calcular o valor de x. Não me importa se não sei o que vai acontecer amanhã nem para onde vamos partir depois dessa. O que me importa é o conhecer. Quero conhecer você, os filhos que terei e o que virá. Quero conhecer a literatura que abre portas e a música que lava a alma. Conhecer quem quer cuidar do Outro, conhecer o néctar da vida, conhecer os eus em mim. Conhecer! Talvez, isso seja aquilo que não me pode ser tirado. Conhecer é o segredo de tudo. A chave que abre as portas para mundos mais secretos. Porque tudo será revelado, basta-me o conhecer...

Zélia


Photo by Princess of Shadow