sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Causos de um capítulo só



Chegou o pacote. O pacote chegou no dia do meu aniversário. Eu não pedi, mas, é verdade que não fiz nada para impedir que ele chegasse. Na verdade, eu fiz coisas para que ele chegasse mesmo eu não o desejando. Mais parece um presente de grego. Não veio no tamanho certo, na minha cor preferida, nem tem a minha cara. Não quero! Preciso despachá-lo. É isso que se faz com o que não queremos. Vou colocá-lo dentro desta mochila. A embalagem em que ele chegou está danificada. O cordão também não pode ser mais usado. Junto o resto que sobrou dela, o cordão e este lençol que não me serve mais. Sujou quando o pacote chegou. Deixa ver... Ah! Coloco dentro da mochila velha e é só arrumar alguém para me ajudar a despachar o pacote. Já sei. Elias não me negará ajuda. Vamos, Elias, pega o pacote e faz o despacho. Elias segue prontamente. Em plena cidade desperta, Elias, atira o pacote, em uma encruzilhada, com o carro ainda em movimento. Elias segue, porém, espera pelo desfecho que pretendia. O carro de trás, passa por cima do despacho. Pronto. Tudo resolvido. Despacho desfeito, coração não mais insistia em bater.

A vizinha de Matilda, sempre disse que o filho de sua companheira de conversa de fim de tarde, era um amorzinho. Era ele quem tomava conta da mãe de Matilda de cem anos de idade. A velhinha é dura na queda. Anda, come e faz suas necessidades sozinha. Mesmo assim, ele estava sempre ao lado da avó, dando-lhe não apenas assistência para o que ela precisava, mas, carinho, amor e atenção. Quando o menino completou onze anos de idade, Matilda, finalmente, lhe deu o que ele tanto pedia: um aparelho celular. Daqueles baratinhos. Caro, nem pensar! Dar presente caro para o filho era coisa que Matilda nunca fez. Não porque lhe faltava dinheiro. Matilda dizia que já gastava muito com comida e roupa para o menino. O menino estava feliz com seu celular mesmo não tendo ninguém para ligar. O Natal se aproximava. Quem sabe o Papai Noel não receberia sua ligação? Matilda, como toda boa mãe, já havia comprado a roupa que o filho usaria naquela noite em que nasce outro menino: o Jesus. Os vizinhos sempre se juntam na noite de Natal, dividem o que tem e fazem aquela festa. O calendário foi perdendo os dias. Faltavam, apenas, três dias para o Natal. O filho de Matilda, percebendo que seu celular estava sem bateria, foi carregá-lo. Ao colocar o bichinho na tomada, o menino levou um choque tão grande que fez parar o seu coração. Mamãe Matilda, não derramou muitas lágrimas no enterro do filho. Saiu do cemitério assim que o caixão desceu pelo túmulo. Disse ter muitas coisas a resolver no dia seguinte. De verdade, tinha. Assim que o comércio abriu suas lojas, Matilda estava lá. Foi trocar a roupa que havia comprado para o filho vestir no Natal por um vestido bem florido e fogoso. Era véspera de Natal e Matilda resolveu deixar a festa na vizinhança pela seresta no bar do seu Tião. Só lhe resta mais uma providencia a tomar. Matilda, agora, procura um asilo para colocar sua mãe. 

Atriz americana de boca carnuda declara em rede mundial: “Só as mães sabem o que é amor de verdade. A gestação e o parto nos fazem conhecer esse amor verdadeiro”. Será que ela esqueceu que seus filhos mais velhos são adotados? Será que ela faz diferença entre os filhos negros e os de olhos azuis? Isso ela não explicou. Ela, também, não comentou sobre o que é amor de pai. Ela não disse que cortou relação com o seu pai por causa de um caso amoroso que ele tivera com uma fulana quando ainda era casado com a sua mãe. Bom que ela não fala sobre as declarações de seu pai dizendo só saber dos netos pela mídia. Bom que ela não fala sobre o fato dela ignorar o pedido de um avô para conhecer os netos. Melhor, ainda, que ela não fala sobre o envolvimento dela com um homem casado. 

Enquanto isso, eu fico a conversar com meu botão. O único que sobrou na camisa que visto. Ele, pelo menos, concorda comigo. Esse conceito de mãe tem que ser revisto. Há mães e mães matando e ignorando as crianças que geraram. Você deve me dizer que não posso generalizar. Não generalizo. Mas, nesse caso, são casos e casos. Não falo de qualquer mãe. Falo de um conceito. Gerar e dar á luz a uma criança não é suficiente para que alguém seja chamado de mãe. Portanto, não se pode dizer que quem passou por essa experiência seja dono da verdade do amor. Infelizmente. Porque se isso não é suficiente, o que mais será? 


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