terça-feira, 22 de setembro de 2009

Azul de Metileno




Linha do Equador, 12 horas de luz, 12 horas de escuridão, Equinócio de primavera. Equilíbrio não é apenas fonte de sobrevivência mas de vida viva. Dizer que ela era bizarra, soaria como dizer que o céu é azul ou que a lagarta da Costa Rica vira borboleta para viver apenas dois dias. Adélia vivia em seu próprio canto. Dentro de uma cápsula que ela transportava com ela aonde quer que fosse. Há tempos em que o calendário não conta, arranjou um outro artifício para afugentar pessoas ao seu redor. É isso que essa menina melhor faz. Comprou várias camisas de cores variadas com a mesma inscrição. Era o seu mais do mesmo. Já era perturbador se dirigir ou sequer olhar para aquela criatura. Mais difícil ficou ao darmos de cara com ela vestindo camisa que dizia: “DON’T LOOK AT ME”. Era instantâneo. Você virava os olhos antes mesmo que seu cérebro conseguisse decifrar a mensagem. Adélia seguia, então, sozinha. Tal inscrição dizia mais do que dizia. Aquelas palavras pareciam mais uma advertência. “Tire os olhos de mim”. E assim, estava feito. Deixávamos de lhe dirigir um “Bom dia” ou um simples sorriso que diz “Você pertence ao mesmo lugar que eu. Convivamos em paz”. A áurea que cercava Adélia passou a ser ainda mais escura depois que ela começou a usar aquelas camisas – verdade que a maioria era de cor escura. Triste fico ao ver uma menina tão jovem - seja clichê ou coisa de gente que está ficando velha - se recusar a ver o colorido que o mundo traz. Falta-lhe sonhar mais. Falta-lhe buscar a flor de Narciso que dorme no fundo das águas que não correm por dentro dela. Falta-lhe acreditar que a dor de amor é dor boa de doer. Falta-lhe chorar pelo que não volta. Falta-lhe sorrir para o que se abre. Enfim, falta-lhe nascer outra vez ainda neste mundo.