domingo, 8 de agosto de 2010

Ímpares




Capítulo 1

Nunca sou perfeita. Às vezes, sou egoísta como agora - falo em primeira pessoa. Em todos os momentos, sou única. Esta unicidade torna-me solitária e incompreendida. Talvez, eu não queira estar junto, talvez, eu não queira ser compreendida. Na solidão, não estamos realmente sós. Há fantasmas, pensamentos e desejos rodeando o casarão assombrado que somos. A compreensão do outro me é incompleta. Ele me entende como quer. Tomo um chá, como uma torrada, abro uma bala de menta. Tudo no singular.

Capítulo 3

Números ímpares não fazem par. Por isso, não vivo em pares. Não há outra parte de mim. Apenas eu. Mesmo o espelho não me dá outro eu. Sou eu só. Tudo que me rodeia é inanimado ou não me completa. Nem pudera. O caso não é de completude. Sou inteira. O caso é de companhia. 1 + 1 = 2. Mas não. Um mais um é só um. Fim.

Capítulo N

Para não fazer par. Isso não é um lamento. Apenas uma constatação e uma afirmação. Tudo 1. Tudo singular. Hoje quero estar só. Assim, não formo par. Quero ser eu e apenas eu. Sem você, sem luz, sem música, sem livro, sem roupa. Deitada em minha cama de braços e pernas abertas a espera de mim. De quem vai me ser tudo. Há borboletas saindo de casulos em meu teto. Não ousarei contá-las. Prefiro acreditar que elas não sairão em pares...


Image by ~winip on DeviantArt