sexta-feira, 4 de março de 2011

Céu sem calendário

Silêncio é palavra que não faz segredo.
Fábio de Melo


Inquietas. Eu e minhas memórias. Era preciso que eu começasse assim. Não devo falar em primeira pessoa. Sou um baú cheio de quinquilharias esperando ordem. Há dias em que a vontade de calar é mais forte que o meu falar sem vírgulas. Nestes dias, somos apenas nós. Eu e minhas memórias. Ninguém e nada mais nos cabem. Esta noite, enquanto eu calava, falavam as minhas memórias. Dia desconhecido, ano que não se sabe ao certo. Tempo perdido. Lugar preferido de minhas memórias. São José da Coroa Grande-PE. Passávamos férias lá, eu e minha avó. Tempo perfeito. Todos os meus sonhos cabiam em um baldinho de praia cor de rosa. Nos passeios à beira da praia, meus sonhos ficavam mais povoados. Juntavam-se a eles, conchinhas, estrelas do mar e peixinhos que catávamos na praia. Meu aquário cor de rosa foi minha primeira experiência com cuidados. Minha dedicação tamanha com aqueles seres não foi suficiente para que eles resistissem por uma noite. Nem assim eu desistia. A cada nova manhã, voltávamos, vovó e eu, a catar a vida para meu aquário cor de rosa e para os meus sonhos. Minha ingenuidade me fazia acreditar que a vida se renovava a cada nova conchinha, a cada nova estrela do mar e a cada peixinho que eu catava. Páginas arrancadas da Folhinha, bem sei que não é assim. Mas é bom pensar que podemos ter a vida de volta. Às vezes, volto a acreditar nisso. Voltar a São José me traz paz. Esqueço do tempo e calo. Não me importa o dia de hoje, onde estou ou como estou. Sinto o vento em meu rosto, pés sujos de areia, as mãos molhadas e cheias de sonhos. Tudo fica perfeito. Outra vez.


 


Imagem da Internet.