sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Direito de quem?

Aconteceu ontem, aqui em João Pessoa, uma manifestação de um grupo de mulheres pela descriminalização do aborto. Mulheres que são a favor do aborto, sempre levantam a bandeira do direito da mulher. “É o corpo da mulher. Ela é quem deve decidir o que fazer com ele. Não a Igreja ou a sociedade”, disse uma delas. Farei, então, a mesma pergunta feita por uma médica, cujo nome não me recordo, em uma seção no Congresso Nacional sobre a legalização ou não do aborto no Brasil: “se essa vida é sua, mulher, quanto vale a vida do outro?” E o direito do bebê à vida? Ele que não teve escolha e que não pode decidir o que é melhor pra o corpo dele, para a vida dele? Penso que chegamos aqui na questão do que é justo ou não.
Dia 18 de setembro, deste ano, tivemos a culminância do projeto das 8 Metas do Milênio na escola onde eu trabalho - projeto realizado em parceria com a Unimed / João Pessoa e cujo objetivo é despertar nos alunos ações que visem a melhoria das condições de vida no planeta. Um dos grupos com os quais trabalhei, buscou alternativas para a meta número 5: Melhorar a saúde das Gestantes. Tratamos, inclusive, dos métodos contraceptivos, pois, a primeira alternativa para melhorar a saúde de uma gestante é fazer com que ela engravide quando, assim, desejar. Já que isso ela pode – e deve – fazer. Um amigo, professor de Ciências, levou para a nossa tenda dois fetos vítimas de aborto. Um deles aos seis meses de gestação. Todo perfeito. Uma menina. Que nem tinha cara de “joelho” e, hoje, estaria com quatorze anos. Morreu porque o pai havia acabado o namoro com a mãe e essa mãe ( ? ) decidiu, como o corpo era dela, que não queria mais aquela gravidez. Foi uma vingança, justificou. Contra quem? Gostaria de vê-la e perguntar como ela se sente ao ver a filha, agora, imortalizada – a decisão em doar o feto para estudo foi da avó materna da criança. Entretanto, foi o outro feto que me chamou mais a atenção. Tinha apenas três meses. Sobrava na palma da minha mão. Mas ao contrário do que afirmam muitas mulheres, ele/ela – ainda não dava pra ver o sexo - não era um amontoado de óvulo e espermatozóide. Já estava todo perfeitinho. Dava pra ver tudo: mãozinhas, pezinhos, perninhas, braçinhos, coluninha, cabeçinha. Segundo o professor de Ciências, faltavam só a cavidade auricular e a formação do globo ocular. E o que sobrava era uma espécie de rabinho que aparecia ao final da coluna. Por fora, era fisicamente perfeito. Não perguntei como ele/ela devia estar por dentro. Só pensei em como são “corajosas” essas mulheres “donas de seus corpos” por abortarem um projeto de pessoa, que seja, aos três meses, seis meses ou aos dezoito dias de gestação quando o coraçãozinho daquilo que é/será um ser humano já começa a bater. O que significa dizer que com quatro dias de atraso na menstruação, o coração do embrião já começara a bater. Isso pode nos levar a questão de se embrião humano tem vida ou não.Vou concordar com o Dr, John Wilke quando ele diz:"

"...estar vivo significa que o ser cresce, .... que se desenvolve... que amadurece... que repõe suas células mortas. Significa “não estar morto”. Assim, o embrião humano é uma vida. De outra maneira, não cresceria. Esta vida humana única e individual tem início na concepção.” *

Outro detalhe que achei bastante interessante foi a minha descoberta, digamos assim, de que o embrião vem com uma espécie de cápsula espacial trazendo com ele a bolsa de líquido amniótico, o cordão umbilical e a placenta. Que se desenvolvem ao mesmo tempo, junto com o embrião, desde a primeira célula e que, portanto, pertencem ao bebê, não à mãe.
Pra mim, a primeira resposta ao aborto é ignorância. Tenho múltiplas alternativas. E, por ignorância minha, talvez, vou dizer que toda criança vem a este mundo pelo sopro de Deus. Mas não sou ignorante o suficiente para dizer que as mulheres não têm o direito de engravidar quando quiserem, ou que as milhares de crianças que nascem todos os dias é responsabilidade de Deus ou que, ainda, o desejo de uma gravidez não atendida é culpa d’Ele. O que eu penso é que as mulheres precisam refletir mais no melhor para elas que é não engravidar. Se é isso que elas querem. Afinal, um aborto, mesmo feito em segurança, é mais arriscado para a mulher que o próprio parto.
Existem situações, claro, em que sou a favor do aborto. Como em caso de estupro ou de acefalia fetal, ou de risco de morte da mãe,por exemplo. Mas o aborto não pode ser solução para o desejo da mulher em não ter filho – nem que seja naquele momento. Tenho uma aluna, quatorze anos – mesma idade que teria o tal feto abortado aos seis meses – que está grávida. Tenho pena das duas crianças. A que é Jully** e a que ela traz na barriga, um menino. Às vezes quando entro na sala dela, ela está rodeada de outras crianças. Todas ansiosas para ver a nova boneca que Jully vai ganhar. Seria o aborto a melhor solução para Jully e seu menino? - é preciso levar em conta que, aos quatorze anos e de família humilde, ela pode não ter sido responsável por essa gravidez totalmente fora de hora. Acredito que não. Eu não pedi pra nascer e mesmo não sendo esse mundo o “país da maravilhas”, agradeço a minha mãe pela sua, agora sim, corajosa decisão em me ter. E continuo a questionar porque devemos pensar “nas crianças mudas telepáticas e nas meninas cegas inexatas” de A Rosa de Hiroxima*** e não devemos pensar nas tantas crianças inocentes que morrem em favor de um certo direito da mulher.


Zélia


* http://www.providafamilia.org.br/doc.php?doc=doc79995

** Nome fictício

*** Poema escrito por Vinícius de Moraes