sábado, 29 de setembro de 2007

Lucy e seus diamantes

De repente, Lucy olha a sua volta e tem a impressão de que algo está errado com ela. Procura-se no espelho e vê que ela está lá. Não há nada de diferente nela. Mas e por dentro?Faltava olhar lá. Tirou o vestido que a avó lhe bordara com a história do sabiá na gaiola e estava tudo em seu lugar - Lucy é transparente como as lágrimas da amada do guerreiro Tambiá. E por que, então, ela continuava fora de tom? Não falava a mesma língua que os amigos, não ouvia a mesma música que tocava em cada esquina, não lia os mesmos clássicos que os mais letrados lhe indicavam, não comprava as enciclopédias que os vendedores a sua porta lhe ofereciam. E os famosos diários de adolescente? Nunca gostou de escrevê-los. Até que tinha lá a sua coleção mas nunca os fechou em cadeado. Sempre perdia as chaves. Às vezes, Lucy, usava seus diários para copiar citações que catava aqui e ali. Até que um anjo lhe soprara ao ouvido:


“Menina, se você continuar a catar citações e espalhá-las por todo lugar,ninguém mais vai ouvir sua voz e você acabará muda.”


Esse foi mais um dia “D” para Lucy. Ela abandonou seus diários de voz alheia. Passou a escrever as suas próprias citações. Para não perdê-las, ela escreve cada uma em um diamante e os guarda em uma caixa colorida toda enfeitada. Como uma caixa que guarda sonhos de criança.

Zélia


Ao meu amigo que acabara de ganhar novas asas.